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‘Passagrana’ é filme de assalto que coloca brasilidade na equação

Longa-metragem tenta se afastar do que é feito há décadas nos Estados Unidos para, de alguma forma, torná-lo mais brasileiro

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Foto do author Matheus Mans

Quando falamos de filmes de assalto a bancos, dá para pensar em pelo menos uma dezena – isso considerando apenas trabalhos dos cineastas Steven Soderbergh e Sidney Lumet. A tarefa, no entanto, fica difícil se falarmos em filmes de assalto produzidos na América Latina e, mais complexa ainda, se buscarmos filmes brasileiros. O Assalto ao Trem Pagador, Assalto ao Banco Central, Vai que Dá Certo e… O que mais? Agora, entra na lista, sem vergonha de se assumir como uma produção do gênero, Passagrana, já em cartaz no cinema.

Os protagonistas de 'Passagrana': Zoinhu (Wesley Guimarães), Linguinha (Juan Queiroz), Mãodelo (Elzio Vieira) e Alãodelom (Wenry Bueno) Foto: Star Productions/Divulgação

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Dirigido pelo também ator Ravel Cabral, o filme nasceu a partir de uma provocação do cineasta: como é um longa-metragem de assalto brasileiro?

“A ideia surgiu como um filme do gênero de golpes, aquele estilo em que os ladrões são superestilosos, bem financiados, com grandes estrelas como Brad Pitt e George Clooney. E eu pensei: como seria um filme desse estilo no Brasil? Aqui, não temos ladrão glamouroso. É impossível, não temos tempo para isso”, diz o diretor, em entrevista ao Estadão. Esse foi o ponto de partida.

Desenvolvendo essa ideia, o longa-metragem mergulha na vida de Zoinhu (Wesley Guimarães), Linguinha (Juan Queiroz), Mãodelo (Elzio Vieira) e Alãodelom (Wenry Bueno), quatro amigos que enfrentam a dura realidade de viver à margem da lei. Cansados de uma vida marcada por pequenos golpes e fugas constantes da polícia, eles veem uma oportunidade de assalto a um banco que promete mudar suas vidas – que logo vai além.

“Imaginei um filme em que os personagens não têm recursos, mas apenas astúcia, lealdade e, acima de tudo, o instinto para sobreviver”, explica Cabral. “Outra característica desse tipo de filme é que o time de golpistas geralmente é composto por especialistas. Um é hacker, outro arromba cofres, outro lida com explosivos. Aqui, essas especialidades são inatas aos personagens. Cada um tem uma habilidade intrínseca”.

Camaradagem e ritmo

Duas coisas saltam aos olhos em Passagrana. A primeira é a parceria entre os atores – algo essencial em um filme desse, que precisa fazer com que a confiança entre eles apareça tela. Cabral conta que, para alcançar o nível de camaradagem necessário, fez uma preparação diferente: colocou os quatro atores morando em um mesmo espaço, em um hotel.

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“Um dos maiores desafios foi criar a sensação de uma amizade profunda e leal entre eles. Esse tipo de laço é difícil de fingir”, explica.

Wesley Guimarães, que interpreta Zoinhu, diz que isso foi determinante para o papel funcionar. “Os quatro personagens só funcionam juntos. E esse trabalho que ocorria fora dos ensaios, quando voltávamos ao hotel e continuávamos passando as cenas, foi essencial para o sucesso da dinâmica entre nós”, contextualiza o ator baiano.

Outro ponto é o ritmo do filme. A edição é mais entrecortada, quase como se falasse a linguagem dos próprios personagens, crias das ruas. É quase como se o filme estivesse, de alguma forma, declamando tudo que ocorre ali – poético, para dizer o mínimo. Algo como Steven Soderberg fez em Onze Homens e um Segredo. Mas com cara de Brasil.

'Passagrana' desafia seus protagonistas em formato e estética Foto: Star Distribution/Divulgação

“A musicalidade do roteiro foi outro elemento que me surpreendeu”, diz Wenry Bueno, que vive o interessante personagem Alãodelom. “O Ravel (Cabral) criou um ritmo muito preciso, e nosso maior desafio foi encontrar o tom certo para cada cena. Para ajudar, porém, digo que cada um de nós, de certa forma, se parece com seu personagem, o que facilitou o processo”.

No final das contas, juntando tudo isso, o diretor acredita que alcançou aquilo que queria: um cinema de assalto, de gênero, bem brasileiro -- e acha que há espaço para mais. “É muito estimulante ver roteiristas e criadores ousarem com diferentes gêneros”, diz Cabral. “Filmes de assalto são um gênero mundialmente popular, mas faltava uma abordagem brasileira. Em Passagrana, buscamos essa brasilidade, e acredito que ainda há muito espaço para explorarmos e contarmos nossas próprias histórias dentro desse gênero”.

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