Faltou pouco para que José Monteiro da Silva Neto completasse 19 anos trabalhando no Espaço Itaú de Cinema Anexo, localizado no número 1470 da Rua Augusta - pernambucano que trabalho a vida inteira como porteiro, Silva Neto recolheu o primeiro bilhete no Anexo no dia 5 de março de 2004.
E, na noite desta quinta-feira, 16, deverá receber os últimos bilhetes, pois o Anexo encerra as portas depois da exibição do filme A Última Floresta, de Luiz Bolognesi.
O longa será exibido às 20h nas duas salas do Anexo, com entrada franca - ingressos poderão ser retirados a partir das 19h. Será a última sessão das salas 4 e 5, pois o imóvel alugado que abriga o cinema foi vendido para a incorporadora Vila 11. A partir de sexta-feira, o empresário Adhemar Oliveira terá até o último dia do mês para desmontar o espaço, retirando telas, projetores, poltronas e outros equipamentos. O Café Fellini, instalado no Anexo, vai funcionar normalmente até domingo, 19, para então também ser desmontado.
Inaugurado em março de 1995 em um sobrado bem à frente da sede, o Anexo do Espaço Itaú Augusta se transformou, ao longo de quase três décadas, em um ponto de experimentação e aposta em projetos, como a sessão Curta às 6, que priorizou a exibição de curtas-metragens nacionais.
O Anexo manteve relação constante com as três salas localizadas no outro lado da rua, onde funciona o Espaço Augusta desde outubro de 1993 - na época patrocinado pelo Banco Nacional. O cinema foi o primeiro a apostar na iniciativa de exibir cinematografias independentes do mundo todo, além de promover a formação de público.
No Anexo, José Monteiro tornou-se figura conhecida dos frequentadores. Reservado, de poucas palavras, ele conquistou, porém, a simpatia dos cinéfilos. Antes de começar no Anexo, ele trabalhou na portaria do Teatro Paiol, na Avenida Amaral Gurgel, onde conheceu a família de Nicette Bruno e Paulo Goulart, casal de atores que administrava o espaço.
Nas folgas, José Monteiro ia ao cinema, assistir a filmes de luta, comédia e drama. “Hoje, não tenho mais tempo para ir ao cinema”, comenta ele que, além de ficar na portaria do Anexo, auxilia no ajuste do som das projeções que, modernas, dispensam a presença de um projecionista.
Como mora próximo do Augusta, em uma travessa da Rua da Consolação, José Monteiro, que está aposentado há três anos, vai a pé ao trabalho. Um dos espaços que mais gosta no Anexo é a área aberta do Café Fellini. “Quando vim para cá, só tinha a árvore maior, o restante eram plantinhas pequenas”, diz ele, apontado para as trepadeiras que enfeitam e trazem mais frescor às paredes do lado externo do café.
José Monteiro deverá ser incorporado ao grupo que já trabalha nas três salas da Sede, que deverá incorporar a programação do Anexo. Também há um estudo que possa permitir uma possível ampliação do ambiente do Café Fellini no número 1475, onde funciona a Sede.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.