Aquela que seria a primeira grande produção cinematográfica brasileira sobre fraudes financeiras no País - tema recorrente nas manchetes dos jornais, mas evitado pelo cinema - corre o risco de ir parar no Tribunal de Contas do município. Trata-se de Rapina, roteiro do diretor e publicitário Maurício Oliveira, baseado no livro de Ivan Sant´Anna, que captou cerca de R$ 200 mil por intermédio da Lei Rouanet. O problema é que Oliveira captou os recursos mas não iniciou o projeto. No dia 9, o secretário municipal da Cultura, Marco Aurélio Garcia, publicou decisão no Diário Oficial do Município multando o diretor Oliveira e exigindo a imediata devolução do dinheiro captado pelo projeto. Maurício Oliveira, que ganhou em 1994 um Leão de Ouro em Cannes por um comercial, diz que o problema todo foi que ele estava captando dinheiro para dois filmes, simultaneamente: Rapina e Chique, de Glória Kalil. Ele carreou verbas captadas para o primeiro no segundo filme, que já completou e prestou contas há um mês. Oliveira seguiu orientação da Lei do Audiovisual (lei federal), que diz que o produtor pode transferir verba de um projeto para outro para executar o mais barato. A Prefeitura de São Paulo, no entanto, tem regras claras para a aprovação de projetos. "Estamos conversando com eles para ver a possibilidade de negociar, mas não há um diálogo bom, não tem com quem conversar", disse o cineasta. "Em último caso, vou ter de devolver o dinheiro." Segundo o diretor, Rapina é um projeto que trata de um tema controverso, a corrupção, e é por isso que teve dificuldades de patrocínio. Ele orçou o filme em R$ 3 milhões. O roteiro chegou a ser selecionado pelo Festival de Sundance. Outro problema, segundo Oliveira, foram as mudanças nas regras da Lei do Audiovisual, principal fonte de recursos da produção. Quando habilitou seus dois projetos, "Chique" e "Rapina", não havia ainda a obrigação de o produtor ter pelo menos dois longas no currículo. Ele teve de "esticar" "Chique" (o filme tem 74 minutos), para enquadrá-lo como longa-metragem, e ainda assim terá de realizar um segundo filme para voltar a captar recursos para "Rapina". O seu caso, entretanto, não parece ser o de malversação de verbas. Ele chegou a contratar uma consultora para ajudá-lo na parte financeira das produções. "Com relação à minha participação no episódio, gostaria apenas de deixar claro que o Maurício foi extremamente correto comigo", disse o escritor Ivan Sant´Anna, que recebeu toda a quantia referente à cessão de direitos de sua obra.