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Primeira exibição de ‘Ainda Estou Aqui’ no Brasil tem palmas, choro e grito de ‘ditadura nunca mais’

Filme de Walter Salles cotado para Oscar teve suas primeiras sessões no País nesta sexta-feira, 18, dentro da 48º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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Foto do author Danilo Casaletti
Atualização:

Ainda Estou Aqui, enfim, está entre nós. Depois de cumprir uma vitoriosa etapa em festivais internacionais, o filme de Walter Salles teve suas duas primeiras sessões no Brasil nesta sexta-feira, 18, dentro da 48º Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

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O filme, indicado pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2025 na categoria de melhor filme internacional, estreia nos oficialmente em 7 de novembro.

Ainda Estou Aqui, o primeiro filme original do Globoplay, produzido pela VideoFilmes, RT Features e Mact Productions, é baseado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva. Ele narra a história de luta da mãe de Paiva, a advogada Eunice Paiva, depois que seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, foi torturado e morto pela ditadura militar brasileira, em 1971.

Première do filme 'Ainda Estou Aqui', de Walter Salles com Selton Mello e Fernanda Torres como Rubens Paiva e Eunice Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Protagonizado por Fernanda Torres (Eunice) e Selton Mello (Rubens Paiva), o filme tem ainda Fernanda Montenegro em uma participação especial. A estreia foi no Festival de Veneza, onde recebeu o prêmio de melhor roteiro para Murilo Hauser e Heitor Lorega.

A reportagem do Estadão acompanhou o bloco final nas duas salas. Em uma delas, os aplausos foram tímidos. Uma mulher gritou ‘ditadura nunca mais’. Outra, ‘Eunice presente!’.

Na outra sala, os aplausos duraram cerca de um minuto. Eles reapareceram quando o nome de Fernanda Montenegro e Walter Salles surgiram nos créditos finais. Ao final das duas sessões foi possível ouvir choro da plateia quando Fernanda Montenegro aparece em cena.

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As filas para as sessões, que ocorreram às 17h10 e 17h20, no Espaço de Cinema Augusta, começaram cedo. Por volta das 9h da manhã já havia espectadores de olho na oportunidade de comprar os disputados ingressos.

Marcelo Rubens Paiva é autor e personagem do livro 'Ainda Estou Aqui', que conta a história de sua família Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O primeiro da fila era Antônio Carlos Messias Filho, de 39 anos. Estava lá desde às 7h50. Ele trabalha com tecnologia da informação, mas se considera um cinéfilo. Na época da Mostra, pega férias ou folga do trabalho. “Admiro muito o trabalho do Walter Salles desde que assisti a Central do Brasil (1998). Já sei o que esperar dele. Mas há esse hype em torno do Oscar. Dizem que é o filme brasileiro com maior chance de ganhar até hoje”, diz, entusiasmado.

Messias Filho, antes de entrar na sessão, tinha uma curiosidade específica: como Salles adaptou o livro de Rubens Paiva para os cinemas. “Gosto muito de estudar roteiro”, disse. Ao final da sessão, revelou ao Estadão que sua expectativa era muito alta, mas que foi superada. “O roteiro é incrível. Não à toa foi premiado em Veneza”. Ele também elogiou a atuação de Selton Mello. “Ele tem pouco tempo de tela, mas fica presente tempo todo no filme”, analisou.

Mais cedo, em coletiva de imprensa com os jornalistas, o diretor Walter Salles disse que “não é sempre que surge um livro tão bom e luminoso quanto o de Marcelo”.

“Há, principalmente, essa transposição do pessoal para o coletivo”, disse Salles, se referindo à luta das vítimas da ditadura por justiça.

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O diretor Walter Salles ao lado de Fernanda Torres e Selton Mello em coletiva de imprensa do filme 'Ainda Estou Aqui' nesta sexta, em São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

O que aconteceu

Rubens Paiva foi levado de casa ao 1° Quartel do Exército no Rio de Janeiro no dia 20 de janeiro de 1971 para prestar depoimento. Nunca mais voltou.

No livro que deu origem ao filme, publicado pela Alfaguara, Marcelo Rubens Paiva cita que seu pai foi torturado e morto ao som da canção Jesus Cristo, de Roberto e Erasmo Carlos. Gritava seu nome mais alto que a música para que os outros presos soubessem o que os militares estavam fazendo com ele. Até hoje, ninguém foi punido por sua morte e deu corpo não foi encontrado.

A psicóloga Ana Knippel Galleta, 70 anos, também era uma das primeiras na fila para uma das sessões de Ainda Estou Aqui na Mostra. Foi na expectativa de assistir a uma história que lhe é próxima.

“Nem vim tanto pelas Fernandas (Torres e Montenegro), mas porque essa história também é minha. Fui líder estudantil na PUC-São Paulo, meu namorado ficou preso do Doi-Codi (órgão repressor do governo militar)”, conta. Ana afirma ter conhecido Veroca, irmã de Marcelo Rubens Paiva, e, segundo ela, sua companheira de militância.

A família Rubens Paiva antes da ditadura militar; o deputado Rubens Paiva foi torturado e morto Foto: Alile Dara Onawale/Divulgação

Ana também estava lá por conta de Salles. “Uso muito o Walter Salles como um exemplo de homem que nasceu com privilégios, mas faz filmes socialmente belos e justos”, diz. “Sou de esquerda aqui, na França, na Itália ou qualquer lugar do mundo em que eu estiver”, define-se a psicóloga.

Natan Aguilera, 22 anos, disse que achou o longa “bastante real”. “Já vi muitos filmes sobre a ditadura, mas nunca sobre a perspectiva de uma casa de família”, disse o social media, que foi à Mostra de Cinema pela primeira vez.

O cineasta Rommel Cuellar, 30 anos, disse que foi “arrebatado pelo filme”. “O roteiro é clássico e tem uma dinâmica perfeita para a emoção no final. Tudo vai se desenhando desde o início”, avalia.

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Cuellar ressaltou a importância social e política do filme. ”Ainda Estou Aqui é para quem não conhece a ditadura. Ou que nega que ela tenha existido, prática comum no governo anterior”.

Ainda Estou Aqui terá mais uma exibição neste sábado, 19, às 21h, também no Espaço Augusta. A venda online já esgotou. O filme entra oficialmente em cartaz no dia 7 de novembro. A data de estreia no Globoplay ainda não foi confirmada.