‘Quanto mais forte a imaginação, mais assusta’, diz Stephen King

Prestes a fazer 70 anos, o autor fala dos sustos que pode provocar a si mesmo quando cria uma história de horror

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Por Sandy Cohen

O mais adaptado dos escritores vivos atende o telefone com um simples “Stephen King”.

Nos últimos 40 anos, mais de 60 romances e contos de Stephen King viraram filmes e séries de TV, e mais uma grande safra de lançamentos recentes e próximos está chegando às telas. Uma versão cinematográfica de A Torre Negra e uma adaptação para a TV de Mr. Mercedes foram lançados em agosto.

O escritor Stephen King Foto: AP Photo/Mark Lennihan

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A Netflix vai estrear uma adaptação do romance O Jogo Perigoso no fim deste mês, e outra, da novela (um romance mais curto) 1922, em outubro. E uma versão para a telona de A Coisa, da épica e horripilante narrativa centrada num palhaço, chega aos cinemas nesta sexta-feira (8). O famoso escritor, que faz 70 anos no dia 21, falou à Associated Press de sua experiência como autor de terror e de como Hollywood trata seu trabalho.

Qual a importância de as adaptações serem fiéis à obra original?

Na verdade, para mim isso não tem essa importância toda. Gosto quando elas se aproximam bastante do livro porque sinto um interesse de proprietário. Sempre acho que as adaptações que não saem tão boas são aquelas em que o pessoal, depois de comprar a ideia básica, passa a raciocinar “tudo bem, mas vamos fazer assim e assim”. É uma sensação de que usaram minha plataforma de lançamento para disparar o próprio foguete, e às vezes o foguete explode... As adaptações de que mais gosto são as que, mantendo-se fiéis à história, trazem algumas mudanças do tipo “por que não pensei nisso?”.

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As histórias ainda parecem as suas, quando você as vê na tela?

Sim, sinto que são minhas. Achei que A Coisa tem muito de mim porque ficou muito próxima do livro. Acho que algumas resenhas possivelmente vão dizer que se trata de um A Dança da Morte com monstros. E o melhor de A Coisa na tela é que, como filme de terror, funciona como filme de terror. Uma das razões de isso ocorrer é que o espectador se preocupa com as pessoas envolvidas. Quando vai assistir a um filme como Sexta-Feira 13, sejamos francos, você entra meio que torcendo para ver 12 jovens bonitos morrerem de 12 modos interessantes. Este filme não é assim. Você são não quer que eles morram. Quer que todos sobrevivam.

Você chega a se assustar enquanto escreve? 

Às vezes, sim. Há um trecho do livro em que os personagens estão num lixão cheio de eletrodomésticos descartados, entre eles, um refrigerador... Lembro-me de, quando crianças, éramos advertidos: se estiver brincando e encontrar um refrigerador abandonado, não entre, pois pode ficar trancado e morrer. Portanto, pus um refrigerador no livro, e quando as crianças abrem a porta, sai um monte de sanguessugas... Isso seguramente me assustou. Mas, na maioria das vezes, você se sente mais poderoso que assustado porque sabe que é você quem está administrando o medo.

É surpreendente que você possa se assustar, já que sabe o que está por vir... 

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Comigo acontece porque sou uma espécie de escritor instintivo. Não planejo o que vem muito à frente. Sei mais ou menos para onde vou indo, mas deixo os detalhes para aparecem à medida que o texto flui. Assim, de quando em quando consigo assustar a mim mesmo. Isso aconteceu quando estava trabalhando em O Iluminado e escrevi o trecho da mulher do quarto 217 quando o garoto Danny a vê no chuveiro. Aquilo me apavorou.

Gosta quando isso acontece? 

Não especialmente, mas é uma experiência forte. Aliás, de certo modo, gosto, sim. Há algo de estimulante. Mas isso ocorre quando se trabalha com qualquer tipo de horror ficcional, seja em livro ou em filme: por um lado, há uma sensação de curtição segura, porque você sabe que está a salvo; por outro, quanto mais forte for a imaginação, mais ela realmente assusta.

Muitos o julgam um dos maiores contadores de histórias de nosso tempo, na tradição de um Edgar Allan Poe, um Nathaliel Hawthorne e outros. Você já se viu assim?

Li esse pessoal todo e respeito seu trabalho. Faço o meu o melhor que posso. Tento não pensar muito no passado porque é coisa demais para se pensar. E, sempre que ouço que influenciei alguém, ou fiz alguém querer um escritor, fico feliz./ TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

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