Logo nas primeiras imagens divulgadas do filme Oppenheimer, filme que mais indicações e prêmios no Oscar 2024, a interpretação de Cillian Murphy surpreendia: a profundidade no olhar do ator traduzindo com excelência o dilema moral da criação de uma arma tão poderosa. J. Robert Oppenheimer, o físico americano conhecido como pai da bomba atômica que começaria a colocar um fim à Segunda Guerra Mundial, é o herói americano no centro da narrativa que conquistou a temporada de premiações de cinema.
Neste domingo, 10, Oppenheimer somou mais sete estatuetas à sua coleção - incluindo a de melhor filme, melhor direção, para Christopher Nolan, e melhor ator, para Cillian Murphy.
Aos 47 e interpretando seu primeiro grande papel, ele disputou o Oscar com Bradley Cooper (Maestro), Colman Domingo (Rustin), Paul Giamatti (Os Rejeitados) e Jeffrey Wright (Ficção Americana).
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Conheça a trajetória de Cillian Murphy
Cillian Murphy era até então mais conhecido por seu trabalho na série britânica Peaky Blinders, entre 2013 e 2022. Na produção, ele interpreta Thomas Shelby, líder altivo de uma gangue inglesa de origem cigana, e caiu nas graças do público com seu semblante sempre sisudo e determinado.
Nascido em 25 de maio de 1976, em Douglas, subúrbio de Cork, na Irlanda, ele soma três décadas de carreira. Murphy começou no teatro, antes mesmo de completar 20 anos, enquanto estudava Direito por incentivo dos pais (ele acabou desistindo do curso no último ano). Naquele período, a paixão pela música rendeu a formação de uma banda com amigos de escola, e eles quase conseguiram contrato com gravadora, mas o grupo chegou ao fim.
O irlandês ainda retorna aos palcos de tempos em tempos. No cinema, começou estrelando em produções menores, com predileção por suspenses e dramas de época. Ele já se destacava, mas ganhou maior visibilidade a partir da parceria com o diretor de Oppenheimer Christopher Nolan: Murphy já integrou o elenco de filmes anteriores do britânico, como a trilogia de Batman (em que chegou a fazer um teste para o papel-título), A Origem e Dunkirk.
A promoção à protagonista veio como uma tarefa árdua, mas muito bem-vinda – personagens ambíguos como Oppenheimer são os favoritos de Murphy. Nolan escreveu o roteiro do filme em primeira pessoa, centrando a construção da trama na interpretação do colega, que alterna entre a determinação pungente do cientista e uma melancolia quase inerente à sua genialidade.
A preparação envolveu perder peso, para refinar a aparência física que já o colocava muito próximo do biografado. A imersão no papel transformou Murphy num ermitão. Ele faltava aos jantares do elenco e socializava pouco, em geral. Segundo o ator, a cabeça estava sempre cheia com o peso da complexidade emocional exigida em cena.
Oppenheimer colocou o irlandês sob os holofotes. Mas ele não comemora isso exatamente. Introvertido, é o tipo de ator reservado que rejeita a fama. Prefere reservar seis meses por ano para viver uma vida normal, tranquila, recheada das amenidades cotidiana.
Cillian Murphy mora no subúrbio irlandês, próximo à costa, com a esposa Yvonne McGuinness, uma artista visual, e dois filhos adolescentes. “Estou muito feliz por estar fazendo o que amo. Tenho muita sorte. Mas não gosto do lado da personalidade em ser ator. Não entendo por que deveria entreter e ser brilhante em um talk-show. Não sei por que, de repente, isso é esperado de mim”, refletiu ele em uma entrevista ao jornal britânico The Guardian.
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