Em 1999, o Brasil concorreu ao Oscar em duas categorias — Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Nas duas ocasiões, perdeu. Fernanda Montenegro foi superada por Gwyneth Paltrow, protagonista de Shakespeare Apaixonado, e Central do Brasil, de Walter Salles, perdeu para A Vida É Bela. À época, ambos os filmes vencedores foram produzidos ou distribuídos pela Miramax, estúdio cinematográfico de Harvey Weinstein.
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Vinte e seis anos depois, o Brasil volta a ter uma chance em ambas as categorias. Ainda Estou Aqui, também de Salles, recebeu três indicações ao Oscar — incluindo de Melhor Filme — e busca vingar as derrotas de 1999. Há, no entanto, uma coincidência que adiciona um tempero a mais na disputa. Lisa Taback, publicitária responsável pela estratégia de campanha ao Oscar de Emilia Pérez — principal concorrente de Ainda Estou Aqui na premiação — trabalhou nas campanhas de Shakespeare Apaixonado e A Vida É Bela.
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Taback é considerada por muitos como uma das maiores estrategistas de campanhas de Oscar da atualidade. Ela, que começou sua carreira trabalhando em conjunto com a Miramax, atualmente trabalha na Netflix.
Ao longo das últimas décadas, comandou importantes campanhas da maior premiação cinematográfica do mundo e venceu a categoria de Melhor Filme em sete ocasiões — Spotlight: Segredos Revelados, Moonlight: Sob a Luz do Luar, O Artista, O Discurso do Rei, Chicago, O Paciente Inglês e Shakespeare Apaixonado. Ela também foi responsável pela campanha do longa brasileiro Cidade de Deus, que rendeu quatro indicações ao Brasil em 2002.
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Apesar de ser uma discípula de Harvey Weinstein, Taback não é tida como alguém adepta dos mesmos métodos agressivos do ex-produtor cinematográfico. Ao longo da década de 1990, 2000 e 2010, Weinstein se tornou conhecido por suas campanhas “de guerrilha”. As táticas eram mais parecidas com marketing político e consistiam em festas e encontros com atores e diretores, exibições exclusivas dos longas e campanhas de difamação contra os rivais.
“Eu sou supercompetitiva quanto ao sucesso de um filme, mas não sou supercompetitiva quanto a derrotar alguém”, afirmou Taback em uma entrevista ao site Deadline. “Eu sou uma fera implacável a ponto de destruir alguém? Não. Minha estratégia nunca foi essa. Existem pessoas incríveis por aí que são implacáveis, mas minha estratégia tem sido ser incansável. Prefiro ser inteligente e não maldosa.”
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Em 2014, Taback deixou de trabalhar exclusivamente com a Miramax e passou a oferecer os seus serviços para outros estúdios e companhias. O final da parceira ocorreu anos antes dos escândalos de abuso sexual do produtor serem revelados para o público. Em 2018, a Netflix ofereceu uma posição na companhia para Taback, que aceitou. A publicitária fechou sua empresa, a LTLA Communications, e se tornou vice-presidente de Talentos e Premiações do streaming.
A contratação de Taback faz parte de um esforço da Netflix para conquistar o tão sonhado Oscar. O estúdio está tentando faturar o principal troféu da premiação há mais de uma década, mas nunca conseguiu tal feito. Com Emilia Pérez, no entanto, a plataforma de streaming alcançou o maior número de indicações em sua história — 13 no total — e vê o musical francês ser tratado como favorito para o prêmio de Melhor Filme.
A campanha do longa de Jacques Audiard, no entanto, enfrenta um péssimo momento. O filme, que narra a história de uma mulher trans mexicana em busca de uma cirurgia de redesignação de gênero, está sendo bastante criticado por sua representação do México e da causa trans. Além disso, a atriz Karla Sofía Gascón, que protagoniza a obra, está sendo bastante criticada por conta de publicações racistas antigas em suas redes sociais. Caberá a Lisa Taback recalcular a rota e garantir o primeiro Oscar de Melhor Filme para a Netflix.
A cerimônia de premiação do Oscar 2025 ocorrerá no dia 2 de março, no Dolby Theatre, em Los Angeles, Estados Unidos.