Quem foi Rubens Paiva, político morto pela ditadura militar em caso retratado em ‘Ainda Estou Aqui’

Ex-deputado é interpretado por Selton Mello no filme de Walter Salles, baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Estreia nesta quinta-feira, 7, nos cinemas

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Foto do author Gabriela Caputo
Atualização:

Ainda Estou Aqui, filme que pode levar o Brasil ao Oscar, estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 7. Dirigido por Walter Salles, o longa é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva sobre o desaparecimento de seu pai, o político Rubens Paiva (1929-1971), e da luta de sua mãe, Eunice Paiva (1929-2018), em busca da verdade.

Eunice, a protagonista da trama, se tornou um símbolo da luta contra a ditadura militar. Ela passou mais de 40 anos em busca de esclarecimentos sobre o paradeiro do marido, preso e morto pelo regime. O caso foi um dos mais emblemáticos das violações de direitos humanos durante o período.

O ex-deputado Rubens Paiva, morto durante a ditadura. Foto: Acervo pessoal/Família Rubens Paiva

No longa, Rubens é interpretado por Selton Mello, enquanto o papel de Eunice é dividido entre Fernanda Torres e Fernanda Montenegro.

Quem foi Rubens Paiva?

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Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos, no litoral paulista, em 26 de dezembro de 1929. Seu pai era advogado e fazendeiro, e foi prefeito da cidade de Eldorado.

Formou-se em engenharia civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, em 1954. Durante o período, Paiva foi militante no movimento estudantil, presidente do Centro Acadêmico Horácio Lane (CAHL) da Escola de Engenharia do Mackenzie, e vice-presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP).

Ele conheceu Eunice, sua futura esposa, em 1947. Eles se casaram em 1952 e tiveram cinco filhos, dentre eles Marcelo.

Rubens foi eleito deputado federal por São Paulo em 1962, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Em abril de 1964, pouco antes da deposição do então presidente João Goulart, Paiva fez um discurso histórico na Rádio Nacional, em que criticou o governador paulista Ademar de Barros por apoiar o golpe militar.

Durante o curto mandato, Paiva tinha participado de uma CPI criada para examinar as atividades do IPES-IBAD, instituição de pesquisa que financiava artigos que alarmavam sobre a chamada “ameaça vermelha” no Brasil. Seu nome foi incluído na primeira lista de políticos cassados em 1964 com base no Ato Institucional-1.

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Entre 1964 e 1970, os Paivas viveram anos aflitivos. Rubens se exilou na então Iugoslávia e depois na França. Acabou voltando para o Brasil e surpreendeu a família com sua chegada. Eles se mudaram de São Paulo para o Rio de Janeiro, onde o ex-deputado voltou a trabalhar com engenharia, mas mantinha contato, em segredo, com colegas exilados.

Em 20 de janeiro de 1971, foi levado pela polícia da casa em que vivia com a família no Leblon. Uma equipe de agentes armados do Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica (CISA) invadiu a casa - cena angustiante que tem destaque no trailer de Ainda Estou Aqui.

A luta de Eunice

Selton Mello como Rubens Paiva em 'Ainda Estou Aqui' Foto: Sony Pictures

No dia seguinte à prisão do marido, Eunice também foi detida, junto da filha Eliana, então com 15 anos. Permaneceu 12 dias sendo interrogada no Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi). Após sua libertação, ela passou a questionar o paradeiro de Rubens – pergunta que permaneceu sem resposta por décadas.

Eunice escreveu cartas ao presidente Emílio Garrastazu Médici e outras autoridades, exigindo a verdade. As notícias de Rubens eram sempre desencontradas. Os órgãos oficiais, quando forneciam alguma resposta, davam relatos diferentes: que ele havia sido sequestrado por desconhecidos ou que havia fugido para Cuba.

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Ela se formou em Direito depois de viúva e se tornou símbolo das campanhas pela abertura de arquivos sobre vítimas do regime.

Eunice e Rubens Paiva, retratados no filme 'Ainda Estou Aqui' Foto: Acervo pessoal/Família Rubens Paiva

O que aconteceu com Rubens Paiva?

Foi somente em 1996 que Eunice conseguiu que o Estado Brasileiro emitisse oficialmente o atestado de óbito de Rubens Paiva. O corpo nunca foi encontrado. A primeira prova objetiva de seu assassinato só foi encontrada 41 anos depois, em novembro de 2012: uma ficha confirmava sua entrada em unidade do DOI-Codi.

A morte foi apurada nas Comissões Nacional da Verdade (CNV) e Estadual da Verdade do Rio, permitindo que a família reconstruísse o desaparecimento de Rubens após décadas de busca. Em uma passagem do livro Ainda Estou Aqui, publicado pela Alfaguara em 2015, Marcelo Rubens Paiva resume o que aconteceu com o pai após ser levado da casa da família:

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“Meu pai entrou no DOI-Codi em 20 de janeiro de 1971, morreu na noite do dia 21 de janeiro, foi levado na madrugada do dia 22, esquartejado, enquanto minha mãe e minha irmã eram interrogadas em separado. Testemunhas de lá de dentro nos dizem que ele foi enterrado na restinga de Marambaia, sob a areia de 42 quilômetros de praia que pertence à Marinha do Brasil, base paradisíaca de 81 quilômetros quadrados e acesso restrito, hoje Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia dos Fuzileiros Navais”.

'Ainda Estou Aqui': Ao lado do pôster, Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que conta a história de sua família, transformado em filme por Walter Salles. Foto: Daniel Teixeira/Estadao

Caso Rubens Paiva reaberto

Arquivado em 1971, o Caso Rubens Paiva foi reaberto em abril deste ano pelo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), sob a alegação de irregularidades na votação feita na época. Com isso, a investigação sobre a prisão, tortura, morte e desaparecimento do ex-deputado federal terá continuidade.

Conforme noticiado pelo Estadão, o conselho tem atribuição para ouvir testemunhas, requisitar documentos, fazer audiências e produzir relatórios propondo sanções contra os perpetradores, como a advertência e censura pública, bem como outras medidas ao Estado brasileiro, caso constate violações aos direitos humanos.

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O caso permanece indefinido no âmbito da Justiça. Em 2014, o Ministério Público Federal chegou a denunciar cinco militares pelo crime, sob as acusações de sequestro, cárcere privado, homicídio qualificado, fraude processual e ocultação de cadáver.

Uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) paralisou o caso, após denúncia ser aceita pela 1ª instância e confirmada pela 2ª instância da Justiça Federal. Os acusados alegam que os crimes estão abrangidos pela Lei de Anistia, de 1979. Nenhum deles foi punido. Clique aqui para ler mais sobre o transcorrer do caso ao longo dos anos.

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