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Rene Russo faz inescrupulosa diretora de programa de notícias em ‘O Abutre’

Filme de Dan Gilroy com Jake Gyllenhaal está em cartaz nos cinemas brasileiros

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Por Nancy Mills
Atualização:

“Eu nunca tive a oportunidade de fazer uma personagem desesperada”, disse Rene Russo. “Demorei um pouco para imaginar quem era Nina. Cada fronteira moral que ela transpôs foi por medo e desespero.” A atriz estava falando sobre seu papel como uma inescrupulosa diretora de um programa de notícias de TV em O Abutre, um drama sobre as entranhas da coleta local de notícias que já está em cartaz no Brasil.

Jake Gyllenhaal faz Lou Bloom, um repórter freelance que à noite vasculha Los Angeles armado com uma câmera de vídeo atrás de acidentes de carro, incêndios e assassinatos – qualquer coisa suficientemente escabrosa para vendê-la a pessoas como Nina. Como ela diz a Bloom: “Pense em nosso noticiário como uma mulher aos berros, correndo pela rua com a garganta cortada”. Quando ele não consegue satisfazer as necessidades da emissora com desgraças normais, ele improvisa.

Rene Russo na premiere de 'O Abutre'em outubro de 2014, em Nova York Foto: Andy Kropa/Invision/AP

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A reação do público a Nina tem se dividido, relata Rene Russo, de 60 anos. “Um jovem me falou: ‘Sua personagem é uma vadia’. E uma mulher da minha idade garantiu: ‘Não, ela é uma sobrevivente’”. 

“Diante desses comentários, eu me perguntei: e se tivesse o trabalho de Nina e precisasse do dinheiro, do seguro-saúde e estivesse sozinha o que eu faria?” Em seguida, a atriz concluiu: “Depois que Nina cruzou aquela linha, foi ladeira abaixo e fez cada vez mais concessões. Eu já estive desesperada e cruzei fronteiras morais. Menti para amigos porque não queria ir a suas apresentações”. Rene Russo recostou-se numa cadeira em sua suíte no hotel em West Hollywood e ficou pensativa por alguns instantes antes de confessar algo pior.

“Eu cresci com uma irmã, e me sentia muito competitiva com ela”, recordou. “Meu pai se foi quando eu tinha 2 anos e ela era um bebê. De repente, minha mãe ficou incumbida de duas crianças. Quando éramos mais crescidas, eu culpava minha irmã por alguma coisa que eu tinha feito ou tentava encrencá-la”, prosseguiu. “Tinha medo de não receber amor suficiente. Não havia amor suficiente por lá. Minha infância foi um período angustiante.” Mas neste dia de entrevista, ela não parecia minimamente aflita. Parecia esbelta e chique num suéter preto justo e leggings pretas.

“Gostei de Nina”, ela disse. “Não a julguei, me senti mal por ela. De certo modo, ela era minha mãe, que tinha duas filhinhas e nenhum marido. Para uma mulher, era duro nos anos 60 alugar um apartamento. Ela estava desesperada e teve de pegar dois empregos.” E Rene lembrou: “Estávamos no supermercado um dia e, quando chegamos ao caixa, minha mãe não tinha dinheiro suficiente. Eu era uma garotinha, mas me lembro que foi traumático. Ela começou a tirar compras do saco. Depois remexeu na bolsa e encontrou US$ 20. A expressão em seu rosto foi de um tremendo alívio”. Na época, eu me prometi: “Quando ficar rica e famosa, porei notas de US$ 20 nas bolsas de mães”.

O Abutre deu a Rene Russo a chance “de perder as estribeiras” como atriz, após anos fazendo mulheres cool, que estão no controle de suas vidas. “Quando foi a última vez que eu perdi as estribeiras? Provavelmente na estrada, dirigindo.”

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Desde que estreou no cinema em Major League (1989), fazendo a namorada do personagem de Tom Berenger, a atriz contracenou com um time all star de atores de Hollywood: Michael Keaton em Justiça sob Tutela (1991), Mel Gibson em Máquina Mortífera 3 (1992), O Preço de Um Resgate (1996) e Máquina Mortífera 4 (1998), Clint Eastwood em Na Linha de Fogo (1994), Dustin Hoffman em Epidemia (1995), Kevin Costner em O Jogo da Paixão (1996) e Pierce Brosnan em Thomas Crown – A Arte do Crime (1999).

O papel em O Abutre veio por intermédio de seu marido, Dan Gilroy, que havia escrito filmes como Tudo por Dinheiro (2005) e O Legado Bourne (2012). Um dia, ele disse a ela: “Escrevi um roteiro para você”. Gilroy, que também dirigiu o filme, ajudou sua mulher a entrar na personagem. “Vamos assistir às âncoras da TV. Quero que você fique com esta aparência, com excesso de maquiagem e vestida para uma ocasião formal.” Rene admitiu que neste estágio de sua carreira não esperava um papel tão robusto. Na última década, ela só fez dois filmes, Thor (2011) e Thor: O Mundo Sombrio (2013). “Se pudesse escolher um lugar para mim em Hollywood teria sido em comédia, mas, assim que Máquina Mortífera 3 saiu, fiquei marcada como uma mulher forte, que está sempre no controle.” Apesar de ter passado a maior parte da infância em Burbank, Califórnia, um subúrbio de Los Angeles, Rene não pretendia ser atriz. “No colegial, eu era muito impopular, muito magrinha e mais alta do que todos os garotos.”

Quanto tinha 17 anos, porém, um agente a notou e a indicou para a agência de modelos de Eileen Ford em NY. Ela se tornou um sucesso durante uma década até decidir que tentaria atuar. “Eu tinha um objetivo: comprar uma casa para minha mãe e outra para mim. Na época, não aceitaria fazer um filme ruim nem um de US$ 1 milhão. Agora, posso fazer os filmes de um milhão e também escolher algo que realmente queira fazer.” 

Em sua lista de desejos, a atriz tem um bastante curioso. “Gostaria de ganhar uma montanha de dinheiro e depois distribuí-lo. Será que há alguma coisa mais excitante do que ser Bill Gates e doar US$ 50 milhões?” / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK 

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