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'Resposta à forma como os filmes começaram', diz Jordan Peele sobre 'Não! Não Olhe!'

Novo filme do diretor de 'Corra!' e 'Nós' relembra anonimato de homem negro nos primórdios do cinema mesclado a uma história com OVNIs

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Por Jake Coyle
Atualização:

NOVA YORK - Não há nada no universo dos filmes contemporâneos como a chegada de um novo filme de Jordan Peele. Eles tendem a chegar sinistra e misteriosamente, um pouco como um objeto não identificado que vem de cima e lança uma sombra crescente e escura à medida que se aproxima.

Jordan Peele dirigiu 'Não! Não Olhe', mais um de seus filmes de terror com personagens negros no centro da trama e questionamentos sobre falsa ideia de democracia racial. Foto: REUTERS/Aude Guerrucci

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Não! Não Olhe!, o terceiro filme do roteirista-diretor, está quase chegando. Depois da estreia singular com Corra!, sobre a posse de corpos negros e a falácia da América pós-racial, e sua continuação, Nós, um conto monstruoso com doppelgangers e espelhos sociais, o aguardado Não! Não Olhe! traz um novo conjunto de horrores e metáforas inquietantes. Para Peele, que escreve enquanto filma e considera a conversa gerada por um filme um de seus principais ingredientes, Não! Não Olhe! está longe de ser um projeto finalizado.

"O filme está feito", disse Peele em uma entrevista recente. “E eu ainda o estou escrevendo.” É o filme mais ambicioso de Peele até agora, um filme de terror com disco voador que se aprofunda na natureza do espetáculo e no desejo de documentá-lo - um tema multifacetado que engloba a história de Hollywood e o próprio Não! Não Olhe!. Daniel Kaluuya e Keke Palmer estrelam como um irmão e uma irmã em um negócio familiar de disputas de cavalos para produções cinematográficas. Seu rancho na Califórnia é visitado por uma força estranha e violenta das nuvens que eles se esforçam para capturar em filme.

Não! Não Olhe!, que estreia em 25 de agosto nos cinemas brasileiros, também estende a própria mitologia autoforjada de Peele. Seus filmes não são muito amarrados (alguns estabelecimentos fictícios aparecem em vários deles), e agora até abrangem uma atração de parque temático Não! Não Olhe! no Universal Studios Hollywood. O mundo sombrio de Peele é cada vez mais nosso.

Para Peele, conforme ele disse recentemente pelo Zoom de Los Angeles, Não! Não Olhe! é sobre alcançar um tipo de filme de Hollywood antes inatingível. Ele incisivamente abre o filme com o estudo fotográfico de 1887 de Eadweard Muybridge mostrando um cavaleiro negro em um cavalo. Esta foi uma das primeiras imagens em movimento. Mas enquanto o nome do cavalo e de seu dono foi registrado, o nome do jóquei negro é desconhecido.

“Sinto que este é o primeiro momento em que alguém permitiria que eu ou alguém fizesse este filme. Então eu tive que aproveitar. Eu tinha que ir o mais longe possível'', disse Peele. “Eu pensei: ‘Vamos lá.'''

As respostas foram editadas por questões de brevidade e clareza.

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A imagem de Eadweard Muybridge paira sobre 'Não! Não Olhe!'; diz-se que seus personagens são descendentes desse cavaleiro sem nome. Para você, o que significa esse apagamento do homem negro no momento da fundação do cinema?

É uma parte triste desta indústria. Foi algo que aprendi nesta história. Eu senti que há cinco, 10 anos atrás, eu nunca seria capaz de vender esse filme para alguém. Então, estou justapondo essa história da origem do cinema e também tentando fazer uma história que seja assustadora, alegre e aventureira e tudo o que eu amo no cinema. Parecia muito apropriado que esse ponto de partida fosse reconhecido e tivesse implicações ancestrais para nossos personagens principais.

Você pensa em seu filme como um antídoto para essa história?

Sim. Eu tenho tentado juntar isso. É uma continuação, é um antídoto, é um reboot, é uma resposta à forma como os filmes começaram e continuaram.

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Por que você acha que ao escrever 'Não! Não Olhe!' seus pensamentos se voltaram para a origem do cinema?

Parte do mundo de Não! Não Olhe! é flertar com a Hollywood real e a Hollywood que acontece em meus sonhos e pesadelos liminares. Na vida real, dos treinadores de cavalos proeminentes de Hollywood, não há um afro-americano que eu esteja representando. Os Haywoods são uma família e uma noção muito inventada. Foi divertido entrelaçar a ficção de Hollywood com a realidade e tentar fazer uma imersão perfeita no que é real e no que não é.

Desde que vi seu filme, as nuvens assumiram uma aparência sinistra para mim. O que o levou a construir o filme em torno dessa imagem de uma nuvem imóvel?

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A beleza do céu é fascinante - os primeiros filmes, de certa forma. De vez em quando você vê uma nuvem que fica sozinha e é muito baixa, e me dá essa vertigem e essa sensação de Presença com P maiúsculo. Não posso descrevê-la, mas eu sabia que se pudesse captar isso e colocar em um filme de terror, poderia mudar a maneira como as pessoas olham para o céu.

Cena de 'Não! Não olhe!', novo filme de Jordan Peele, que estreianos cinemas brasileiros em 25 de agosto. Foto: Universal Pictures

Quando o governo dos EUA tornou público o vídeo dos pilotos da Marinha encontrando aeronaves inexplicáveis- algo que seu filme faz referência - como você reagiu? Você foi afetado por essas imagens?

Sim. Aquilo se tornou muito real, muito real no momento. É uma das razões, eu acho, e posso dizer isso com orgulho pelas quais este filme é baseado em uma história real. Mas o que foi mais enervante ou assustador para mim sobre a coisa toda é que você gostaria de pensar que, quando uma prova real de vídeo dos OVNIs fosse divulgada, algo mudaria em nosso estilo de vida, não que fosse encarado como algo costumeiro. Isso apenas prova que há uma dessensibilização ao espetáculo. Estamos realmente muito viciados. Temos provas de OVNIs ou UAPs (fenômenos aéreos não identificados), mas o interesse do grande público vai longe. É muito interessante.

Quão focado você está em criar seus próprios filmes como um todo?

Nada é mais gratificante do que ser capaz de liderar algo que vem de algum lugar profundo e obter o apoio de uma equipe em algo assim. Eu sinto que se eu estivesse trabalhando sobre o mundo de outra pessoa, eu ficaria devendo algo a alguém. Se não fosse esse núcleo central de inspiração, simplesmente não seria tão divertido para mim.

Depois de 'Corra!', você sugeriu que embarcaria em uma série de filmes de gênero que lidam com grandes questões sociais. Com três filmes, onde você está nesse projeto?

Eu sinto que estou na correria. Eu só não sei se eu poderia limitar quantos filmes eu tenho que são realmente eu. Estou começando a perder de vista o que estaria fazendo se não estivesse fazendo filmes como este. Então eu diria que o projeto se estendeu. /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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