Richard Linklater viaja de volta no tempo em ‘Apollo 10 e Meio’

Tema tem sido um dos favoritos do diretor; novo filme estreia nesta sexta, 1º, na Netflix

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Por Jake Coyle

Passeios de bicicleta, kickball, Jiffy Pop, Jell-O e outras delícias da época dominam Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial (Apollo 10 ½: A Space Age Childhood), de Richard Linklater, uma afetuosa ode à sua própria infância perto de Houston no final dos anos 1960.

A Nasa e a missão lunar estão ali na esquina, assim como outras maravilhas científicas (AstroTurf!). Mas a sensação de assombro que permeia Apollo 10 e Meio se espalha com a mesma força pelas ruas do bairro, onde as crianças brincam com os joelhos esfolados.

Cena do filme 'Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial', de Richard Linklater Foto: Netflix

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O tempo flui nos filmes de Linklater. Sua passagem definiu o ritmo de Boyhood e tomou toda a trilogia Antes de Amanhecer. Linklater também mergulhou nos anos 1970 em Jovens, Loucos e Rebeldes e nos anos 80 em Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, e fez filmes durante tempo suficiente para os deixar ligados aos 90.

“Nunca é tarde demais para olhar para outra época e dizer, ‘Uau, como chegamos de lá até aqui?’”, Linklater disse recentemente via Zoom desde sua casa perto de Austin, Texas. “É a nossa relação com o tempo, não é? Nosso eu presente e nosso eu passado e os mundos passados onde vivemos.”

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Apollo 10 e Meio que estreia sexta-feira, 1º, na Netflix, marca o terceiro filme de animação de Linklater depois de Acordar para a Vida e O Homem Duplo. Mas, se os filmes do diretor e roteirista de 61 anos sempre se moveram no seu próprio ritmo vagaroso e filosófico, Apollo 10 e Meio irradia uma brilhante nostalgia pela infância nos dias felizes da era espacial e, como diz seu narrador (Jack Black), “pelo apogeu da era dos trotes de telefone”.

Richard Linklater é o diretor de 'Apollo 10 1/2' Foto: Jack Plunkett/AP

“Eu queria voltar a essa época e contar como era”, diz Linklater. “Caímos em mitos de heróis e grandes histórias. Me corrija se estiver errado, mas quando foi a última vez que o mundo se concentrou e se uniu em torno de uma conquista humana?”.

Linklater falou com a Associated Press sobre seus filmes e nostalgia. As respostas foram editadas para maior clareza e brevidade.

Quando você fez 'Jovens, Loucos e Rebeldes', em 1993, os anos 70 não estavam tão distantes. Mas agora tudo isso já faz 50 anos. Parece muito distante para você?

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Quando estava fazendo Jovens, Loucos e Rebeldes, honestamente parecia mais distante. Sim, é muito tempo, mas para mim não parece muito. Eu me lembrava de tudo muito bem. Se tenho um dom natural no mundo, provavelmente é uma memória muito precisa de pessoas, detalhes e conversas.

 

O que fez você querer escrever este filme? Fazer 'Boyhood' instigou alguma coisa?

Ao revisitar sistematicamente o tempo a que Boyhoo’ me levou, me dei conta: “Espere aí, este foi um tempo muito interessante para se viver, para ser criança”. Acho que aquela época só cresce com o tempo. Você toma essas coisas como um dado da realidade. “Ah, sim, vai ser assim para sempre”. As pessoas extrapolavam o sucesso e diziam que chegaríamos em Marte no final do século. Como isso não aconteceu, aquela época ficou ainda maior. A ideia para o filme me veio assim: que época interessante para ser criança. A maravilha da época encontra a maravilha de ser criança.

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'Licorice Pizza', de Paul Thomas Anderson, ambientado na década de 1970, nasceu pelo menos em parte para capturar uma época em que a sensação de mistério era mais difundida. Parece que as décadas anteriores à internet estão ficando cada vez mais atraentes.

Todos nós temos o gene da nostalgia. Nem acho que nostalgia seja a palavra certa. É uma espécie de curiosidade cultural. Como era viver naquela época? As crianças são fascinadas por história antiga. Aí você fica um pouco mais velho e sua história imediata fica relevante de verdade quando seus próprios interesses crescem. Não confio em ninguém que não se interesse por história. É fácil ser nostálgico por uma época sobre a qual você não sabe muito, antes que você realmente saiba como o mundo funciona. Em Apollo 10 ½, tenho as duas coisas, intencionalmente. Um narrador adulto que aponta ironias e abusos mais do ponto de vista da crítica adulta, de forma bem-humorada. Eu não poderia ter abordado de outro jeito. Seria um desserviço à complexidade da época entrar demais na cabeça do menino e não ter uma crítica mais madura. Fui descobrindo isso ao longo dos anos. Fiquei surpreso ao descobrir que houve uma reação contra os recursos que foram gastos (para a Apollo 11), uma conversa legítima que a sociedade sempre teve.

Cena do filme 'Apollo 10 e Meio: Aventura na Era Espacial', de Richard Linklater Foto: Netflix

Dá para ver isso no documentário 'Summer of Soul' sobre o Festival Cultural do Harlem de 1969.

Compartilhamos algumas imagens! Eu tinha alguns desses vídeos uns oito anos atrás. E falei comigo mesmo: “Ah, fizeram um festival de soul naquele mesmo dia, que coisa fascinante”. Antes de ver Summer of Soul, pensei, “Perfeito!” Eu tinha visto esses vídeos anos antes, ao longo dos nossos dez anos de pesquisa. Fiquei muito surpreso de ver Cronkite e Sevareid e as críticas negativas. E a Gloria Steinem sendo (palavrão). Eu tenho um vídeo ótimo de Kurt Vonnegut tirando sarro da coisa toda. Mas fazia parte do debate.

Em retrospectiva, ser cético da missão lunar não soa tão bem.

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Não. É como ser eleitor de Nader. Você tem que ver de que lado da história pode estar. Você não pode medir tudo com sua régua política.

O diretor Richard Linklater durante as filmagens de 'Apollo 10 1/2' Foto: Matt Lankes/Netflix via AP

Pessoalmente, você luta contra a nostalgia ou a abraça?

Eu consegui fazer alguns filmes de época que eu acho que são, por definição, nostálgicos, mesmo que seja uma época em que você não viveu. Você mencionou Licorice Pizza. Paul tinha o quê?, dois ou três anos na época? Onde isso se encaixa na coisa da nostalgia? É uma época de que você provavelmente não se lembra, mas sabe que é culturalmente interessante, então você escolhe esse ano com cuidado. Escolhi 1937 (para Eu e Orson Welles). É nostálgico, mas para quem? Estamos antes da guerra, há muita miséria no horizonte. Mas a arte está sempre no ar. A nostalgia é uma faca de dois gumes. Acho que você pode olhar para o passado desde que o faça honestamente, sem lente cor de rosa. Sempre é perigoso dizer: “Era uma época melhor para todo mundo”, o que, é claro, nunca é verdade. Por mais que eu ame o programa Apollo, é de partir o coração olhar para ele e dizer: “Isso também fazia parte de uma cultura muito excludente”. Onde estão as astronautas mulheres? Onde estão as pessoas não brancas? Essas pessoas estavam trabalhando nos bastidores. Sempre é tenso voltar a qualquer época.

Ainda assim, seu filme é antes de tudo uma celebração de um modo de vida mais despreocupado que agora parece ultrapassado.

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Meu pai sempre diz: “A gente simplesmente deixava você sair de manhã”. Quando os pais precisavam do filho, simplesmente enfiavam a cabeça na porta e berravam: “Ei, Tommy, volte para casa”. Mas o mundo desabou sobre todos nós. Todo mundo ficou com medo. Você sabe, as táticas de medo da mídia funcionaram. “Uma criança foi sequestrada hoje em St. Louis”. Então é isso, não existe mais brincadeira infantil sem supervisão. Existe algo de bom em brincar na rua que eu acho que poderia voltar se os bairros se reunissem e dissessem: “Ei, todos nós vamos fazer isso e vai ser ótimo e nada de ruim vai acontecer”. Mas, convenhamos, quais são as probabilidades de isso acontecer? / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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