Sean Connery virou astro da noite para o dia; só mais tarde ele se tornaria também um grande ator

De vilão em 'Tarzan' a James Bond: conheça a trajetória meteórica de Sean Connery, que morreu aos 90 anos

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Em 25 de agosto, em pleno isolamento da pandemia, Sean Connery completou 90 anos. Nasceu em 1930, em Fountainbridge, Edimburgo, no Reino Unido. Thomas Sean Connery militou pela independência da Escócia, mas há muito tempo fixara residência em Nassau, nas Bahamas, para fugir ao rigor do Fisco britânico. E foi nas Bahamas que Sean Connery morreu, neste dia 31, em que se comemora o Halloween. No imaginário do público, ele foi talvez o melhor intérprete de James Bond, formatando o agente com licença para matar em filmes de grande apelo popular. Nunca quis ficar preso ao papel e levou uma importante carreira paralela, fazendo grandes filmes de grandes diretores.

O ator Sean Connery, na homenagem que recebeu pelo conjunto da obra em 2005, no European Film Award Foto: Markus Brandt/Reuters

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Filho de pai católico e mãe protestante, Connery foi leiteiro na juventude. Trabalhou como motorista de caminhão e modelo vivo para artistas do Colégio Real de Artes de Edimburgo. Terceiro colocado no concurso de Mister Universo, foi levado por um amigo para fazer um teste para o musical South Pacific/Ao Sul do Pacífico. Aprovado, participou do coro da peça. Estreou no cinema, sem crédito, fazendo ponta em Lilacs in the Spring, de 1955. Nos quatro anos seguintes continuou fazendo pequenos papéis em filmes e peças, até A Maior Aventura de Tarzan, de John Guillermin, de 1959. O filme é considerado um dos melhores com o personagem criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs. Connery faz o vilão – Gordon Scott é Tarzan.

Em 1962, a história mudou quando foi escolhido para interpretar James Bond em Dr. No - no Brasil, 007 Contra o Satânico Dr. No. Criado pelo escritor Ian Fleming, 007 tornara-se um fenômeno nos livros quando o então presidente John F. Kennedy disse que seguir suas aventuras era o maior divertimento para aliviar as tensões do cargo. Terence Young, que dirigiu o filme, contava que não foi fácil ensinar etiqueta e elegância ao rude escocês, mas o público imediatamente correspondeu e Sean Connery virou astro, da noite para o dia. Seguiu fazendo o personagem em Moscou Contra 007 (Terence Young), 007 Contra Goldfinger (Guy Hamilton), 007 Contra a Chantagem Atômica (Young) e Com 007 Só se Vive Duas Vezes (Lewis Gilbert). Cansado da figura, rompeu com o papel, mas voltou mais uma vez em 007 os Diamantes São Eternos (Hamilton). Nos anos 1980, e dessa vez fora da série oficial, despediu-se do papel em Nunca Mais Outra Vez, de Irvin Kershner.

Sean Connery e o Aston Martin em 007, franquia que o revelou Foto: Eon Productions

Connery tinha o physique du rôle e o humor cínico de 007. Cada vez mais à vontade no papel, ele seguiu nos anos 1960 e 70 uma carreira paralela. Filmou com Alfred Hitchcock (Marnie, Confissões de Uma Ladra), Irvin Kershner (Sublime Loucura), Martin Rtitt (Ver-te-ei no Inferno, seu maior filme), John Huston (O Homem Que Queria Ser Rei) e Richard Lester (Robin e Marian). Manteve uma bem sucedida parceria com Sidney Lumet (A Colina dos Homens Perdidos, O Golpe de John Andersen, Até os Deuses Erram, Assassinato no Orient Express). Foi com esses diretores que Connery fez a passagem de astro para (grande) ator. Tornou-se respeitado, tanto quanto admirado. Ganhou o Bafta de melhor ator de 1986 por O Nome da Rosa, que Jean-Jacques Annaud adaptou do livro de Umberto Eco, e o Oscar de melhor ator coadjuvante por Os Intocáveis, de Brian De Palma, em 1987. Dois anos depois, Steven Spielberg fez dele o pai de Indiana Jones em A Última Cruzada. A forma irônica como ele chamava Harrison Ford de 'Júnior' contribuiu, e muito, para o charme do filme.

Harrison Ford e Sean Connery em 'Indiana Jones e a Última Cruzada' Foto: Paramount Pictures

Foi uma bela carreira, mas houve momentos controversos. Em 1965, totalmente imbuído do machismo de 007, Sean Connery disse numa entrevista que já havia batido em mulheres. Até aconselhou – não se devia bater nelas como num homem. Um tapa aberto, dizia, podia ser suficiente. Em 1971, para voltar a ser 007 (Os Diamantes São Eternos), ganhou o maior salário pago a um ator, na época. Deu-o integralmente para as crianças pobres da Escócia. Embora defendesse a independência e ajudasse a financiar o Partido Nacional Escocês, não resistiu e virou sir do império britânico – numa cerimônia que, a seu pedido, foi realizada na Escócia e à qual compareceu vestido com o traje típico, o kilt, em 2000. Recebeu também a Légion d'Honneur da França. O fracasso de público e crítica de A Liga Extraordinária, em 2003, deixou-o desgostoso com o cinema. Emprestou a voz a alguma animação, e só. Teve sérios problemas de saúde – nódulos na garganta que se revelaram malignos, catarata nos dois olhos. Morreu pacificamente, dormindo.