Sebastian Stan e Adam Pearson falam sobre ‘Um Homem Diferente’: ‘É fácil atacar alguém’

No filme, eles interpretam dois homens - dois atores - que lidam de maneiras opostas com sua condição, que é caracterizada pelo aparecimento de tumores nos nervos

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Em Um Homem Diferente, filme dirigido por Aaron Schimberg e que chega agora aos cinemas, o ator Edward, interpretado por Sebastian Stan, sofre de neurofibromatose, uma condição caracterizada pelo aparecimento de tumores nos nervos. Até que passa por um procedimento revolucionário, que transforma sua aparência, e dá a ele a esperança de ver sua vida e carreira melhorarem.

Em uma época de julgamentos cada vez mais baseados na estampa, de vidas perfeitas vendidas nas redes sociais, não é coincidência que o longa conviva na programação com A Substância, da francesa Coralie Fargeat, que voltou aos cinemas brasileiros em versão dublada neste fim de semana.

Adam Pearson e Sebastian Stan em 'Um Homem Diferente' Foto: Divulgação/A24

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Nele, uma atriz dispensada por causa de sua idade aceita participar de um experimento duvidoso para se tornar uma versão melhor – leia-se mais jovem – de si mesma. O longa, com Demi Moore, concorre a cinco Globos de Ouro.

“Eu fico com medo porque é muito fácil atacar alguém por ser diferente”, diz Sebastian Stan em entrevista ao Estadão. Ele ganhou o prêmio de atuação principal no Festival de Berlim e agora concorre ao Globo de Ouro, na categoria dedicada a comédias, por sua interpretação de Edward (ele também está no páreo na categoria drama, por O Aprendiz, em que vive o bilionário Donald Trump). “A sociedade está mandando a mensagem: o que somos e o que temos nunca é suficiente.”

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Mas o filme vai além do julgamento pela aparência e pela idade de A Substância, porque discute como nós tratamos as pessoas com deficiência ou desfiguradas. Edward não consegue avançar na carreira de ator; surge então a oportunidade de tentar o tratamento para eliminar os tumores na face. E ele emerge da experiência com o rosto de Sebastian Stan.

Edward consegue um papel e começa um relacionamento com a autora da peça (vivida por Renate Reinsve). Até que surge em cena Oswald, um ator com tumores na face, interpretado por Adam Pearson – que sofre de neurofibromatose na vida real.

Mesmo com seu rosto desfigurado, ele é uma ameaça para Edward, pois tem confiança em quem é. “O filme fala de identidade e de autoaceitação”, diz Pearson. “Eu sou velho o suficiente para saber quem sou e não precisar da atenção de estranhos. Eu cedo bastante em várias coisas, menos na minha identidade.”

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Com essa virada na trama, Um Homem Diferente deixa clara a intenção de derrubar os estereótipos. “Mas para fazer isso precisávamos estabelecer que eles existem. Em geral, pessoas com deficiência são as vítimas, os vilões ou os falsos heróis”, diz Pearson.

“E, na vida, se você conhecer uma pessoa com deficiência, vai ter conhecido apenas uma pessoa com deficiência. Cada um tem sua maneira de viver a vida, de encarar a deficiência e os seus desafios. Aqui temos dois caras com a mesma condição que lidam com tudo de maneiras completamente diferentes.”

Sebastian Stan ganhou o prêmio de atuação principal no Festival de Berlim e concorre ao Globo de Ouro por sua interpretação de Edward em 'Um Homem Diferente' Foto: Divulgação / A24

Em seu filme anterior, Chained for Life (2019), Schimberg, que também é desfigurado, foi acusado de explorar Adam Pearson. Se escalasse alguém usando maquiagem protética, porém, seria acusado de não ser inclusivo. “Então ele arrumou um jeito de realizar uma obra em que pode fazer as duas coisas”, diz Stan. “Quando o espectador chega à segunda parte, não está mais julgando Oswald nem Adam pela aparência. Aí o público pode ver só a pessoa.”

Sendo ator, Sebastian Stan, mais conhecido por viver o Bucky Barnes, ou Soldado Invernal, dos filmes da Marvel, sabe como é ser julgado pela aparência. “Eu tive de lutar contra uma tendência a quererem que eu fizesse sempre o mesmo tipo de papel. Muitas vezes não me deram oportunidade de mostrar que eu podia fazer outras coisas”, admite. “Mas claro que em Hollywood quem sofre mais com isso são as mulheres ou pessoas como o Adam. Ele é um grande ator.”

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Justamente para entender melhor como é estar na pele de Pearson, os dois atores começaram a conversar bem antes das filmagens. “A não ser que sejamos completamente honestos e vulneráveis, não temos o direito de pedir o mesmo do público”, alerta Pearson. “Tivemos muitas conversas profundas para entender nossos passados, motivações; entender as nuances da interação entre os personagens.”

Stan também se preparou com a ajuda da maquiagem protética, caminhando pelas ruas de Nova York, percebendo que o modo de olhar para os outros mudava – e também o modo como os outros o viam. “A mãe do Adam me disse: ‘Eu sempre quis que alguém estivesse na pele do meu filho por um dia’. Pude experimentar como é ser marginalizado, julgado. Vou carregar isso para sempre.”

Pearson acredita que as coisas estão mudando, bem aos poucos. “Eu espero que um dia possamos ver atores com deficiência e desfigurados interpretando personagens cuja deficiência não seja a principal razão de existirem.”

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