‘Sem Coração’: Conheça o único filme brasileiro que vai concorrer no Festival de Veneza 2023

Longa, que é um desdobramento do curta de Nara Normande e Tião, está na mostra competitiva Horizontes e conta uma história de despertar LGBT numa vila de pescadores em Alagoas

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Por Nadedja Calado

ANSA - A equipe do filme Sem Coração se prepara para a estreia mundial no 80º Festival Internacional de Cinema de Veneza, como concorrente da mostra competitiva Horizontes, dedicada a filmes que representam novas tendências estéticas e expressivas. O evento será realizado entre 30 de agosto e 9 de setembro, na Itália.

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O filme, uma coprodução entre Brasil, França e Itália, será o único representante brasileiro na próxima edição da mostra e pretende abrir uma janela na Europa para o Alagoas, onde foi gravado e de onde vem boa parte da equipe.

“As imagens foram feitas em Maceió; em Guaxuma, onde nasci; e em Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres”, disse à ANSA Nara Normande, que assina a direção com Tião.

O nome Sem Coração faz referência ao apelido da personagem principal do filme, por causa de uma cicatriz no peito, e a história já havia sido retratada em um multipremiado curta-metragem dos mesmos diretores em 2013 (veja o trailer do curta abaixo).

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“Foi um processo natural, quando filmamos o curta vimos que era um material rico, teria potência para a história ir além”, explicou Nara.

Nos dois filmes, o roteiro se baseou em memórias de infância dela própria e também da atriz que interpreta a protagonista, Eduarda Samara.

A atriz, que tinha 13 anos na época do curta, contribuiu para o roteiro com diálogos e memórias da infância com o pai. Agora, aos 23, participou da pesquisa de elenco do longa, em que interpreta a mesma personagem.

Cena de Sem Coração, filme de Nara Normande e Tião que terá estreia no Festival de Veneza Foto: Festival de Veneza

“É uma menina que vive numa vila de pescadores e mora com o pai. Eles são o apoio um do outro, mas, ao longo do tempo, constroem uma relação de afeto mais expressiva. Ela cresce em meio às dificuldades, identifica as classes do lugar, observa pessoas com condições melhores e vê que não pode viver o mesmo que outros jovens”, explicou Eduarda.

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“Eu tive a realidade de ter um pai que nos sustentou por meio da pesca, eu vivia naquele lugar, muita coisa é baseada na minha vida”, contou a atriz, que entre o curta e o longa também atuou em outros filmes, como Bacurau (2019).

A outra protagonista de Sem Coração é Tamara, interpretada pela estreante Maya de Vicq, que se prepara para deixar a vila de pescadores quando conhece e se apaixona por Sem Coração.

“Foi a primeira atuação dela no cinema, e ficamos muito felizes com o resultado. A personagem é inspirada em mim, na história de descoberta da orientação sexual, o interesse por mulheres. Foi muito natural”, explicou Nara.

Elenco de Sem Coração

A diretora classificou a escolha do elenco como “muito afetiva”: “Fizemos uma pesquisa enorme. Encontramos o Alaylson [Emanuel], que faz o Galego. Ele veio do interior do Alagoas, é filho de cortador de cana, o trabalho foi fenomenal. Também o Kaique Brito, que é de Salvador, influenciador digital, e interpreta o Binho, um personagem gay muito interessante”.

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“O Lucas [da Silva, intérprete de Cidão] é filho de marisqueiras de uma das maiores favelas de Maceió, o teste dele foi incrível. Maeve Jinkings, parceira e amiga, preparou o elenco do curta e interpreta a mãe da Maya numa cena muito importante. Erom Cordeiro também é alagoano, há uma identificação no elenco”, complementou.

A produção brasileira do longa ficou por conta da Cinemascópio, do casal Emilie Lesclaux e Kleber Mendonça Filho.

“Como cinéfila e produtora, é muito claro para mim que, quanto mais pessoal e singular uma história é, por causa das suas características locais e culturais, mais ela é capaz de achar um público que se identifica de diversas maneiras, e em qualquer lugar do mundo”, disse à ANSA Emilie, que é francesa e radicada no Brasil.

“Mas pessoas de outros países podem ter uma visão diferente de uma cena ou outra e isso já gerou discussões interessantes. Acho que isso aconteceu no Sem Coração, e pelas primeiras reações que observei, há uma força nos personagens e na história do filme que transcende as diferenças culturais”, respondeu a produtora sobre a expectativa da estreia na Europa.

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Na coprodução, a França ficou com a fotografia e finalização, e o design de som foi feito na Itália. A obra também recebeu financiamento do Centro Nacional da Cinematografia francês e do Ministério da Cultura italiano.

Agora, a equipe se prepara para ir a Veneza - para Eduarda e Maya, será a primeira viagem internacional. Após a estreia mundial, Sem Coração ainda poderá ser exibido em festivais do Brasil antes de entrar em cartaz.

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