Havia - sempre há - a expectativa de que o Brasil conseguisse cravar seu indicado entre os finalistas para o Oscar. A comissão que selecionou Deserto Particular, de Aly Muritiba, apostou em um possível efeito chileno, dadas as similaridades do longa com Uma Mulher Fantástica, de Sebastián Lelio. Mas não deu certo. A Academia já divulgou sua lista de 15 pré-indicados para o Oscar de melhor filme internacional de 2022. Dela sairão os cinco finalistas. A Academia faz seu anúncio em 8 de fevereiro e a premiação está marcada para 27 de março.
À espera dos ‘winners’, o leitor pode se divertir com duas listas divulgadas nos EUA: o ranking dos vencedores do Oscar de melhor filme nos anos 2010 enumerados segundo as preferências de críticos consultados pelos sites Metacritic e IMDb.
Do 10º ao 1º, a lista da Metacritic aponta: Green Book - O Guia, de Peter Farrelly, de 2018; Argo, de Ben Affleck, 2012;Birdman, de Alejandro González Iñárritu, 2014; A Forma de Água, de Guillermo Del Toro, 2017; O Discurso do Rei, de Tom Hooper, 2010; O Artista, de Michel Hazanavicius, 2011; Spotlight - Segredos Revelados, de Tom McCarthy, 2015; 12 Anos de Escravidão, de Steve McQueen, 2013; Parasita, de Bong Joon-ho, 2019; e the best, Moonlight - Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins, 2016.
Como na dança das cadeiras, a classificação, segundo o IMDb, também do 10º para o 1º, é a seguinte: A Forma da Água; Moonlight; Birdman; Argo; O Artista; O Discurso do Rei; Spotlight; 12 Anos de Escravidão; Green Book - O Guia; e, primeiro!, Parasita. Independentemente do que se possa pensar do longa sul-coreano, Bong Joon-ho fez história no Oscar ao vencer os prêmios de direção, roteiro original, e os de melhor filme internacional e melhor filme, na primeira vez, em toda a história da Academia, que isso ocorreu. O francês O Artista também venceu como melhor filme, mas é falado em inglês. Parasita, em coreano, e nisso vai toda a diferença. Ganhar duas vezes como melhor filme superou toda expectativa. Sem precedentes!
Primeiro, para o IMDb, segundo, para o Metacritic. O ano de 2019 foi extraordinário para Bong Joon-ho, que começou vencendo a Palma de Ouro em Cannes. Foi o ano em que Cannes, e depois Veneza, celebraram a revolta dos excluídos. Em Cannes, além de Parasita, venceram prêmios importantes Os Miseráveis, de Ladj Ly, e Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Em Veneza, o Leão de Ouro foi outorgado a Coringa, de Todd Phillips. Parasita é certamente um longa provocador, mas talvez não seja tão subversivo quanto parece. O twist final - olha o spoiler - deixa claro que o filme carece de dialética. Depois de adquirir o controle da casa - e da família de ricos - por métodos escusos, o filho promete a si mesmo vencer por merecimento (estudando?) para retomar a mansão e libertar o pai.
O melhor do Metacritic foi o nono do IMDb, Moonlight. Para o autor do texto, foi o melhor de todos os filmes que venceram o Oscar nos anos 2010 - mais ousado pelos temas, incluindo homossexualidade, e o mais belo e harmonioso como realização. As cenas na praia, ao luar, merecem estar em qualquer antologia de momentos gloriosos da história do cinema. Mas Moonlight, com toda a sua excelência, talvez seja lembrado para todo o sempre pela confusão na hora do anúncio. Uma troca de envelopes nomeou La La Land, de Damian Chazelle, como melhor filme, mas o prêmio foi confiscado e Moonlight subiu ao pódio. Venceu como melhor filme, mas Chazelle foi melhor diretor.
Green Book talvez tenha sido o mais controverso entre os vencedores do Oscar principal na década de 2010. Ficou em décimo no Metacritic e em segundo no IMDb. Teve críticas mistas, e médias, e ainda provocou polêmica pelo foco branco na questão racial.
Qual é a possibilidade de outro filme internacional repetir o fenômeno Parasita? Talvez isso nunca ocorra novamente - nunca é uma palavra muito forte -, mas Bong Joon-ho será sempre lembrado como o precursor.
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