‘Sound of Freedom’: Filme cristão apoiado por Elon Musk e Trump vira fenômeno cultural; entenda

Longa ganhou força entre grupos conservadores, com Elon Musk sugerindo promover transmissões gratuitas pelo Twitter. Alvo de controvérsias, produção arrecadou US$ 100 milhões e chega em agosto na América Latina

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Por Redação
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Entre grandes produções da atual temporada de 2023 nos cinemas, como Barbie, Oppenheimer e Indiana Jones, outro filme que não estava no radar despontou nas listas de bilheteria e conversas sobre o assunto nos Estados Unidos: Sound of Freedom.

Estrelada por Jim Caviezel, ator que interpretou Jesus Cristo na versão de A Paixão de Cristo de Mel Gibson, a trama aborda um esquema de tráfico de crianças que, segundo os produtores, é “baseado em fatos reais”. Jim interpreta Timothy Ballard, um ex-agente do Departamento de Segurança Interna dos EUA que desmantela uma quadrilha de abuso sexual infantil na Colômbia.

'Sound of Freedom' atraiu a atenção de grupos conservadores. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/IGN Movie Trailers

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O sucesso da produção, feita de forma independente com financiamento coletivo e apoiado pela distribuidora cristã Angel Studios, surpreendeu no país norte-americano. Segundo a Variety, Sound of Freedom arrecadou US$ 100 milhões – cerca de R$ 490 milhões – nas três primeiras semanas de lançamento. O filme estreou nos EUA no dia 4 de julho.

Apesar do sucesso, grupos conservadores passaram a acusar os cinemas e a divulgação de Barbie de boicotar Sound of Freedom. No Twitter, perfis de extrema-direita fazem uma série de publicações alegando que o filme de Greta é uma “cortina de fumaça” e um “artifício para desviar o foco” do filme.

Mas o que fez com que grupos conservadores abraçassem um filme independente sobre tráfico de crianças? Entenda o que provocou a movimentação em torno de Sound of Freedom.

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Sound of Freedom foi divulgado por Donald Trump e Elon Musk

O filme é extremamente elogiado por políticos e personalidades ligadas à extrema-direita norte-americana e ganhou o gosto do ex-presidente Donald Trump. No final de julho, Trump chegou a fazer um evento com a exibição do filme em um clube particular de Nova Jersey, segundo o The New York Times.

Ivanka Trump, filha do ex-presidente, promoveu o longa antes mesmo do lançamento. “Sound of Freedom lança luz sobre a realidade angustiante do tráfico humano, despertando nossa consciência coletiva e nos inspirando a agir”, escreveu em uma postagem feita no Twitter em junho.

Há grupos religiosos e igrejas que incentivam a presença de fiéis nas salas e até fecham sessões do filme para seus seguidores, como noticiou o site Vox. Também há relatos de salas com ingressos esgotados e cadeiras vazias, o que levantou suspeitas nas redes de que a bilheteria tenha sido, em parte, inflada por essa estratégia. Mas não há um levantamento claro sobre o quanto isso influiu nos números, e também há inúmeros relatos de salas cheias.

O filme também chegou aos ouvidos do dono do Twitter, Elon Musk. Também antes do lançamento, o empresário sugeriu que a produção do longa o autorizasse a transmitir Sound of Freedom de graça através da rede social.

“Eu recomendo colocar o filme nesta plataforma gratuitamente por um breve período ou apenas para pedir às pessoas que o apoiem – não vamos ter nenhum lucro com isso”, escreveu Musk em resposta ao perfil oficial do filme em junho. “É uma ideia interessante. Vamos conversar”, respondeu a produção.

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Apesar da interação, o site da Angel Studios negou que o longa será transmitido no Twitter. “Embora Sound of Freedom tenha ganhado atenção mundial em sites populares de mídia social, ele não estará disponível no Twitter ou em qualquer outra plataforma”, disse.

Filme chega à America Latina - sem confirmar o Brasil

A Angel Studios agora se prepara para lançar o filme fora dos Estados Unidos. No dia 18 de agosto, Sound of Freedom chegará à África do Sul. No dia 31, países da América Latina, como Argentina, Chile, Peru e Colômbia, terão o longa disponível nos cinemas. Sound of Freedom não tem previsão de estreia no Brasil.

A distribuidora aproveitou a repercussão do filme para criar um modelo em que apoiadores pagam para que outras pessoas possam assistir à produção no cinema. “O apoio inabalável e o fervor demonstrados pelo público levaram o filme a um sucesso sem precedentes”, diz o site da Angel Studios.

Jim Caviezel é um dos adeptos do movimento QAnon

A polêmica em torno de Sound of Freedom atraiu um grupo específico da extrema-direita dos Estados Unidos: o movimento QAnon – sigla para “Q Anônimo” –, considerado uma ameaça doméstica de terrorismo no país.

Os adeptos acreditam que o presidente Donald Trump foi escolhido por um exército secreto para enfrentar uma rede de tráfico humano e pedofilia que envolve desde políticos de esquerda até o Vaticano. O movimento também tem apoiadores no Brasil, que incorporaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como um dos “heróis patriotas”.

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O longa, porém, não cita o movimento. A ligação entre Sound of Freedom e o QAnon foi apontada pela revista norte-americana Rolling Stone, que criticou o longa-metragem. Não pela trama e pelo gosto pelo filme entre grupos conservadores, mas pela escolha de Jim Caviezel como protagonista.

Jim Caviezel já demonstrou apoio ao movimento conspiratório QAnon. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/IGN Movie Trailers

O ator participou de uma conferência do QAnon em 2021 e foi convidado diversas vezes no podcast de Steve Bannon, ex-assessor de Trump, em que elogiou o movimento, conforme a BBC. Ele já chegou, até mesmo, a falar sobre “qualidades místicas” do adrenocromo, um composto químico que os adeptos dizem estar sendo colhido por traficantes no cérebro de crianças.

Além disso, a organização criada por Tim Ballard para combater o tráfico infantil, Operation Underground Railroad, foi criticada por promover um alarmismo em torno do problema. Ballard, durante a divulgação na Fox News, citou a ligação do filme com o QAnon, dizendo que aqueles que citam teorias da conspiração “não fazem conexão com a história real”.

“Ele conta uma história baseada na realidade. Acho que a esquerda, esses meios de comunicação, não querem ter uma discussão que esse filme vai obrigar”, pontuou. Conforme a BBC, a Angel Studios negou que a produção tenha relação com o movimento conspiratório.

Sobre o apoio de Caviezel ao QAnon, a distribuidora disse que “cada ator tem a sua opinião”. “Para nós, se trata de transmitir uma mensagem: neste momento, há crianças que estão sofrendo”, afirmou o presidente da empresa, Jordan Harmon, ao jornal.

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