PUBLICIDADE

Spielberg diz que ‘Os Fabelmans’ foi maior desafio da carreira e revela projeto sobre Napoleão

Longa, que foi uma fracasso de bilheteria nos EUA, concorre ao Oscar ovacionado pela crítica

PUBLICIDADE

Atualização:

BERLIM – Steven Spielberg veio à Berlinale para receber um Urso de Ouro honorário de carreira. A Universal esperou para lançar Os Fabelmans na Alemanha durante o festival. O longa autobiográfico de Spielberg custou US$ 40 milhões e rendeu pouco menos de US$ 6 milhões nos cinemas norte-americanos. O fracasso de público foi compensado pela recepção da crítica. Spielberg, aos 76 anos, virou uma unanimidade. Concorre a todos os prêmios da temporada, ganhou páginas e páginas das mais importantes publicações especializadas de cinema do mundo – Cahiers du Cinéma, Positif, Sight and Sound, etc.

PUBLICIDADE

Ele falou sobre a gênese de Os Fabelmans. “Foi um filme que sempre quis fazer. Por minha mãe o teria feito antes. Ela reclamava porque eu não aproveitava o material que ela sabia que me havia dado. Há três anos, com a morte do meu pai, comecei a pensar seriamente na história da minha família. Mas o fator determinante foi a pandemia. Isolado em casa, com minha mulher e minha filha, comecei a pensar seriamente na mortalidade. A vontade de contar essa história tornou-se urgente.”

Na ficção de Os Fabelmans, inspirada na realidade, a mãe de Spielberg, interpretada por Michelle Williams, apaixona-se pelo melhor amigo do pai. É uma linda e, ao mesmo tempo triste, história de amor sobre o que se ganha e o que se perde. Daí a confissão de Spielberg: “Meu filme mais difícil de fazer, o que mais exigiu fisicamente de mim, foi Tubarão. Sempre achei que o que me exauriu emocionalmente havia sido A Lista de Schindler, mas agora mudei de ideia. Foi Os Fabelmans. Estava contando minha história mais pessoal. Tinha de respeitar as pessoas que mais amo, e também ser sincero.”

Steven conta que teve muitos mestres, e um deles foi François Truffaut, a quem dirigiu em Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Ele lembra – “Truffaut tinha um coração imenso, mas era um coração selvagem. Um pouco pelo trabalho com o menino abduzido de Contatos Imediatos, ele dizia que eu devia fazer a kids movie. Vindo de quem vez L’Argent de Poche, era uma convocação. Sem o impulso dele, não sei se teria feito E.T.” Interpretando o lendário John Ford, David Lynch, em Os Fabelmans, dá ao jovem Spielberg sua receita de cinema. Como fazer um bom filme. E o próprio Spielberg – “Quando me pedem conselhos, eu evito sempre as questões de ordem mais técnica. O importante é a história que você quer contar.”

É, até hoje, sua maior motivação. “Isso não mudou em relação ao meu cinema. Continuo fazendo os filmes que me movem, porque me movem. Cada filme torna-se único, uma experiência necessária e visceral.” Ele lembra um episódio, quando tinha 9 anos. Os pais foram sozinhos ao cinema. “O filme era um western e eles explicaram que seria muito violento para uma criança. Mas, no dia seguinte, não pararam de comentar o filme. Naquela noite eu os enganei e fui sozinho ao cinema. Consegui entrar. E vi The Searchers (Rastros de Ódio), o clássico de John Ford.” Tornou-se um dos filmes de sua vida.

Steven Spielberg recebe um Urso de Ouro honorário no Festival de Berlim  Foto: Annegret Hilse/ REUTERS

Num festival como Berlim, que sempre teve a fama de ser político e, em 2023, está sendo marcado pelos filmes de Sean Penn, sobre a Guerra da Ucrânia, e do U2, Kiss the Future, o Concerto de Sarajevo, que colocou fim à Guerra da Bósnia – mas também por manifestações da presidente do júri, Kristen Stewart, a favor dos direitos das mulheres no Irã, e não apenas -, Spielberg não defendeu outra política que não a do coração. O cinema como instrumento do humanismo. Como ele diz: “Não tenho filme preferido entre os que fiz. É clichê o que vou repetir, mas são todos meus filhos, e um pai não faz essa escolha.”

Na saída do Hyatt, onde se realizou a coletiva, havia uma multidão gritando o nome de Spielberg. Há pelo menos 50 anos, desde que Encurralado, feito para TV, ganhou as salas de todo o mundo, o diretor tem nutrido o imaginário do público. “Aquele foi um filme decisivo para mim. Scary (Assustador). Mostrou do que eu era capaz. Os produtores começaram a me chamar e eu não parei mais de filmar. Muitas vezes não sei explicar o que me leva a fazer certos filmes. De forma consciente, talvez não tivesse feito Império do Sol. Mas fiz e tenho certeza que foi fundamental na minha evolução.”

Publicidade

Gabriel LaBelle interpreta Sammy Fabelman em 'Os Fabelmans', de Steven Spielberg  Foto: Merie Weismiller Wallace/Universal Pictures

Ainda no quesito ‘criança’, Spielberg lembrou o roteiro que outro grande do cinema, Stanley Kubrick, não teve tempo de filmar e ele transformou em A.I. – Inteligência Artificial. Pinóquio na era da revolução tecnológica. O robô que queria ser menino. “Ele – Kubrick – teria feito outro filme”, admitiu. A novidade. Spielberg anunciou que outro projeto que Kubrick não conseguiu concluir – a biografia de Napoleão Bonaparte – vai virar série. “O roteiro e o personagem são muito grandes para um só filme. Vamos fazer – mas não esclareceu se vai também dirigir – uma série de 7 capítulos.”.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.