Opinião | Terror ‘Mouse Trap’ coloca Mickey como psicopata assassino apenas pela piada e faz humor rasteiro

Filme em cartaz nos cinemas - e que se vale da entrada do personagem em domínio público - não tem o que dizer

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Foto do author Matheus Mans

Assim como as livrarias ficaram lotadas de versões de O Pequeno Príncipe após o fim dos direitos autorais da obra de Antoine de Saint-Exupéry, o cinema pode se preparar. Nos próximos anos, deve haver uma avalanche de filmes com o Mickey Mouse. E não é algo à toa: desde 1º de janeiro de 2024, a primeira versão do rato não é mais de propriedade da Walt Disney. Agora, qualquer um pode usar os personagens do curta Steamboat Willie.

O primeiro lançamento neste sentido, claro, veio do terror. Mouse Trap: A Diversão Agora é Outra é o típico filme de fim de patente. Estreia desta quinta-feira, 14, o longa não está preocupado com a história ou em convencer o espectador de que é um grande filme – o que, já adiantamos, não é. É um longa que existe por existir, apenas preocupado em fazer marketing a partir do ineditismo da coisa: colocar o Mickey Mouse pra matar pessoas.

'Mouse Trap' parece um filme feito por fãs, ou até por haters, do Mickey Mouse Foto: A2 Filmes/Divulgação

A mesma história de sempre

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Mouse Trap, afinal, conta a história de um grupo bem desinteressante de amigos que se reúne em um fliperama, no final do dia, quando a loja já está fechada. Entre romances e intrigas, esse grupo começa a sumir pouco a pouco. O motivo, claro, é aquilo que esperamos: nos bastidores da loja, uma pessoa (ou seria criatura?) está vestida como o Mickey de Steamboat Willie, matando com uma enorme faca.

A partir daí, surgem aqueles questionamentos de sempre: quem será a pessoa por trás da máscara? Qual o objetivo? Até onde ela pode chegar e como os jovens podem sobreviver?

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Com essa premissa, é natural comparar Mouse Trap com outros filmes que embarcam na onda do fim dos direitos autorais, como o malfadado Ursinho Pooh: Sangue e Mel ou, ainda, os já variados longas de terror com a Cinderela. No entanto, é necessário dizer: perto de Mouse Trap, o terror da turminha do Ursinho Pooh parece uma obra-prima, um novo Cidadão Kane. O filme do rato, afinal, está contente em ser apenas vazio. Oco.

Vários gatos e um rato

Dirigido por Jamie Bailey (da pérola Viralize ou Morra) e roteirizado pelo também ator Simon Phillips (Sequestrando Chaplin), Mouse Trap parece se divertir em emular o estilo dos filmes de “gato e rato” com personagens fugindo desse psicopata vestido de Mickey. É um humor rasteiro, que já fica evidente no primeiro minuto, quando os diretores colocam um letreiro no estilo de Star Wars para falar como amam a Disney – de verdade, precisava disso?

E o que mais o espectador espera, que é a revelação do motivo de existir um assassino por aí vestido como Mickey Mouse, nunca chega. Ursinho Pooh: Sangue e Mel pelo menos cria uma mitologia própria com esses animais, enquanto os slashers da Cinderela se divertem o suficiente apenas ao recriar essa história, colocando a princesa em situações absurdas.

Os adolescentes que tentam sobreviver ao Mickey são absolutamente desinteressantes Foto: A2 Filmes/Divulgação

Muita gente pode dizer que Mouse Trap é um filme apenas para ganhar dinheiro, mas nem isso: o longa-metragem custou inacreditáveis US$ 800 mil e arrecadou, de acordo com o Box Office Mojo, apenas US$ 60 mil até agora. Saiu no prejuízo, não contou uma boa história e desperdiçou uma oportunidade. Talvez, no fundo, serviu apenas para deixar os executivos da Disney de cabelo em pé – mas tranquilos após a falta de bons resultados.

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Agora, é esperar a estreia ScreamBoat, outro terror com o Mickey. Só tem uma imagem divulgada, mas fica a sensação que é quase impossível ser pior do que Mouse Trap. A ver.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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