The Flash é até bem intencionado, mas de boas intenções… O filme é a nova aposta da DC no cinema e na disputa com a Marvel. E também mira no multiverso, sem acertar. É um filme que tenta. Exaustivamente. Demais. E por isso cansa o espectador. A primeira metade demora a passar - o que é irônico, visto que deveria ser um flash.
Na história, Barry Allen (Ezra Miller), o Flash, descobre que consegue correr tão rápido que é capaz de romper o tecido do tempo. E vê nisso a oportunidade de salvar mãe e pai. Ela, de um assassinato. Ele, da condenação por esse crime que não cometeu.
Obviamente, na volta ao passado tudo dá errado e ele acaba parando em uma linha do tempo diversa. Onde a Liga da Justiça não existe. E na qual Zod - vilão de Homem de Aço, de 2013 - pretende destruir a Terra e só pode ser parado pelo Super-Homem.
Flash, acompanhado do próprio eu mais jovem e ainda sem poderes, é o único que sabe como parar o kryptoniano. Mas precisa da ajuda de Batman. Não o de Ben Affleck, mais recente. E sim o de Michael Keaton, que volta brilhantemente ao papel para viver um Bruce Wayne aposentado da vida de herói.
Acontece que, antes disso, o filme já começa errado, com a passagem inicial forçando um humor que não encaixa fora da tela. A reportagem assistiu ao filme em sessão reservada à imprensa e fãs, portanto com parte do público amigável ao filme logo de largada.
Nem assim engatou. As piadas não despertaram os risos evidentemente esperados. A sequência toda tem mais cara de encomenda de chefão de estúdio. ‘E se fizéssemos o Flash socorrer gente em perigo nessas circunstâncias?’, algum figurão deve ter pedido.
O resultado é a dependência quase completa dos efeitos visuais - nem tão bem feitos assim, parece Playstation 2 às vezes. O trecho eclode tão arrastado que dá tempo até para fazer um lanchinho no meio do caminho. Sim, o Flash faz um lanchinho.
Filme do Flash ou do Batman?
Outro problema é a presença soberana do Batman. Fazendo quase parecer que é um filme do homem-morcego, ao invés do ligeirinho. E nem no segundo ato essa impressão se dissipa de todo. Os planos de Flash são subordinados demais ao cavaleiro das trevas.
Em um filme dominado por figuras masculinas - Flash duas vezes, vários Batman, o pai de Barry, Zod, até o atendente da cafeteria - precisa chegar a Mulher-Maravilha para fazer o humor funcionar. Infelizmente, a participação de milhões dura poucos centavos, digo, segundos.
O que salva o filme é o artifício da nostalgia. O retorno de Keaton, acompanhado da antiga batcaverna e do mais incrível batmóvel que o cinema já criou iluminam o longa. Outras aparições também compensam, com super-homens do passado e até um inesperado Nicolas Cage no papel do homem de aço.
Conjunto de oportunidades perdidas
Outro elemento que poderia ter sido melhor aproveitado é a trilha sonora. Excelentes escolhas que mesmo assim não empolgam. E o filme perde tempo em múltiplas e repetitivas explicações, enquanto apressa decisões e resoluções, o que cria o paradoxo de uma trama acelerada e simultaneamente lenta.
A maior surpresa é terem conseguido manter Ezra Miller equilibrado tempo suficiente para gravar um filme inteiro. Em dose dupla, inclusive, pois representa a mesma personagem de universos distintos. Não foram poucas as tretas em que o ator se envolveu durante a produção.
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Mas nada é tão desperdiçado quanto a Supergirl. A heroína é apresentada na velocidade da luz, enfrenta logo um conflito interno e muda de posição muito rápido. Quase impossível se conectar com a personagem que, de outro modo, teria muito potencial com a talentosa Sasha Calle.
Nos cinemas a partir de 15 de junho, não deve demorar para o filme chegar ao streaming. Já foi divulgada a previsão de entrada do título no catálogo do HBO Max no outono gringo. Portanto, entre setembro e novembro de 2023.
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