Encerrada na noite de hoje, 2, a 46.ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo inicia nesta quinta, 3, a tradicional repescagem, que estará concentrada em uma só sala – Cinesesc. Como sabe todo cinéfilo de carteirinha, trata-se de mais uma oportunidade – para alguns filmes que não têm distribuição, a última – para se assistir aos filmes premiados e a outros títulos raros que foram destaque da programação. Começando pela crítica, os vencedores foram Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, o melhor brasileiro, e Noite Exterior, o melhor estrangeiro.
Elis & Tom, de Roberto de Oliveira, ficou fora da repescagem, porque deve estrear nas próximas semanas. Marco Bellocchio já foi homenageado com o Prêmio Leon Cakoff, que leva o nome do criador do evento. Último grande da sua geração ainda vivo, aos 82 anos ele segue contemplando o público com filmes que celebram o casamento da arte com a política. Em Noite Exterior, volta ao tema do sequestro de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, que já abordou em Bom-Dia, Noite e o faz agora de forma ainda mais abrangente. Se no anterior concentrava-se na relação de Moro com os sequestradores, Bellocchio agora amplia o quadro – a família, a imprensa, o Parlamento, até o papa. Toni Servillo é excepcional como o último, mas quando ele não é?
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A premiação da Mostra mantém o formato idealizado por Leon Cakoff nos anos 1970, quando ele criou o evento. Em plena ditadura não havia eleição direta para presidente e o melhor filme da Mostra, na competição para Novos Diretores, até o segundo filme, passou a ser uma escolha pelo júri a partir de uma pré-seleção feita pelo público.
O júri deste ano, formado por Lina Chamie, André Novais e Rodrigo Areias, outorgou o Prêmio Bandeira Paulista, criado pela artista plástica Tomie Ohtake, a Aftersun, do Reino Unido. Escrito e realizado pela escocesa Charlotte Wells, o longa, fortemente pessoal e até autobiográfico, narra a história de uma mulher que tenta se reconciliar com a memória do pai, a partir da lembrança de um período de férias que passaram juntos, 20 anos antes.
Aftersun teve os direitos adquiridos para o Brasil pela Mubi, em parceria com a O2 Play. Deve estrear em 1.º de dezembro. Em Cannes, em maio, venceu o prêmio French Touch. De Cannes veio Tempestade Sobre as Ilhas, de Albert Serra, que, com seu título internacional, Pacifiction, estará também na repescagem. De Cannes Classics, outra grande atração – o monumental, e não só pelas quatro horas, La Maman et la Putain, de Jean Eustache.
EXU
Outros filmes premiados pelo público e que estarão na repescagem são Exu e o Universo, Marcha Sobre Roma, O Mestre da Fumaça e Nayola. Merecem toda a atenção dos cinéfilos e o mesmo se pode dizer de outros três que receberam menção do júri – a atriz Zelda Samsom, o ator Ali Junejo e Salgueiros Cegos, Mulher Dormindo.
Exu e Marcha são documentários importantíssimos. O primeiro aborda a liberdade de culto e o racismo estrutural, mostrando professor nigeriano e sua comunidade tentando provar que o deus Exu não é o Diabo. No segundo, o crítico, historiador e pesquisador Mark Cousins reconstitui a marcha dos camisas negras de Mussolini, nos anos 1920, para forçar sua ascensão ao comando do governo italiano. Tem tudo a ver com movimentos de extrema direita no Brasil e no mundo, na atualidade. A lista completa de filmes da Repescagem e horários pode ser consultada nos sites do CineSesc (sescsp.org.br) e da própria Mostra (46.mostra.org).
VENCEDORES
Prêmio do júri
Melhor filme: Aftersun, de Charlotte Wells
Prêmio de público
Ficção estrangeira: Nayola, de José Miguel Ribeiro
Ficção brasileira
O Mestre da Fumaça, de André Sigwalt
Documentário estrangeiro
Marcha Sobre Roma, de Mark Cousins
Documentário brasileiro
Exu e o Universo, de Thiago Zanato
Prêmio da crítica
Melhor filme brasileiro:
Elis & Tom – Só Tinha de Ser Com Você, de Roberto de Oliveira
Melhor filme estrangeiro:
Noite Exterior, de Marco Bellocchio
Prêmio Abracine
À Margem do Ouro, de Sandro Kakabadze
Prêmio Paradiso
Walala, de Perseu Azul.
Menção honrosa do Júri
Atriz Zelda Samsom (Dalva), ator Ali Junejo (Joyland), e Salgueiros Cegos, Mulher Dormindo, de Pierre Földes