THE NEW YORK TIMES - Os noivos que se casam em outubro no Stanley Hotel, perto das Montanhas Rochosas em Estes Park, Colorado, às vezes têm dificuldade em fazer com que seus convidados confirmem presença.
Lauren Nichols e Jeffrey Sheffler, que se casaram lá no final deste outubro, não conseguiram convencer uma dúzia de convidados de fora da cidade a ficarem no hotel que inspirou Stephen King a escrever O Iluminado, seu romance que virou filme, depois de se hospedar no local em 1974.
E Melanie Pingel, que se casou com Kyle Johnson no hotel em 13 de outubro, foi obrigada a reservar um espaço tranquilo em um andar separado para convidados que precisavam de um momento longe das festividades fantasmagóricas. “Minha mãe dizia que era o lugar onde as velhinhas podiam descansar de tudo”, disse ela.
Estas e outras concessões – Jennie Wilson, noiva no hotel em 2017, foi informada que uma “convidada não viria de jeito nenhum” – talvez sejam o preço necessário para casais que querem trocar votos naquele que muitos chamam de “o hotel de O Iluminado”.
Somente os casais que planejam com bastante antecedência recebem luz verde para fazer suas celebrações em outubro, disse John Cullin, proprietário do Stanley.
Aqueles que conseguem uma data entre 1º de outubro e o Halloween, a época mais movimentada do hotel, tendem a compartilhar uma estética comum – noivas com dentes de vampiro e bolos com cicatrizes tipo Frankenstein, por exemplo. Daminhas vestidas como as sinistras gêmeas do clássico filme de terror de 1980 ou decoração de mesa com corações de porco preservados em formal também podem fazer parte da festa.
“Todo mundo sabe que o Stanley é mal-assombrado”
Shayna Papke, planejadora de casamentos
A atmosfera assustadora do lugar atrai muitos casais, disse Shayna Papke, famosa planejadora de casamentos da temporada de Halloween no Stanley. “A cerimônia de casamento é a expressão máxima de quem você é, e algumas pessoas são assim”, disse ela. “São os esquisitões que gostam de música macabra, de histórias macabras. São fascinados pela presença da morte na vida”.
Muitas pessoas que se enquadram nessa descrição vão ao Stanley para um passeio fantasma guiado pela equipe do hotel ou para participar de uma sessão espírita (mais de 100 mil pessoas por ano; outubro é movimentado também porque os alces andam pelas ruas e é “uma época muito boa para estar em Estes Park”, disse Cullin.) E há quem considere que é o lugar ideal para trocar votos de casamento.
“Nada diz mais ‘eu te amo’ do que assassinar esposa e filhos como em O Iluminado, certo?”, Pingel disse, brincando. Ela trabalhou com Papke para orquestrar o casamento de sexta-feira 13 no Pavilhão, um dos três espaços internos para casamentos.
Pingel, 35 anos, e Johnson, 36, moram em Los Angeles e escolheram o Stanley para aquilo que esperavam que parecesse “um elegante funeral vitoriano” para seus 105 convidados.
Uma contorcionista pendurada no teto, fantasmagóricas dançarinas de cabaré de olhos brancos e meias arrastão servindo taças de champanhe, um carro funerário com lança-chamas e asas de morcego – tudo isso fazia parte da estética do casamento. A decoração das mesas tinha mini caixões e cascatas de flores vermelhas para imitar sangue escorrendo.
Antes da recepção, os convidados que optaram por fazer tatuagens tiveram de assinar um termo de responsabilidade dando permissão para serem tatuados por um artista local. Entre as opções disponíveis, o desenho de um ceifador.
“Nosso gosto é um pouco diferente do gosto da maioria das pessoas”, disse Johnson, diretor de arte da Bravado, que faz merchandising para grandes estrelas pop. Os amigos sempre comentam sobre o rato empalhado na sua geladeira e as fotos de funeral penduradas nas paredes da sua casa, disse Pingel, enfermeira de terapia intensiva do Centro Médico Thousand Oaks Los Robles.
Seu vestido de noiva preto personalizado – by Kim Kassas – e o pão preto servido com purê de beterraba – também para imitar sangue escorrendo – no jantar pós-casamento talvez não tenham provocado suspiros nos mais tradicionalistas, ela reconheceu.
Mas ela conta com a compreensão de outras noivas de outubro, como Jennie Wilson, 34 anos, que começou a preservar os corações de porco que usou na decoração de mesa um ano antes de seu casamento, na sexta-feira 13, com Kris Wilson, 35 anos.
“Nossos amigos diriam que somos as pessoas mais estranhas que eles conhecem”, disse Jennie Wilson, que faz mídia social e trabalho de locução para o Cyanide & Happiness, quadrinho de humor sombrio cofundado por Kris Wilson. O casal, de Fort Collins, Colorado, coleciona ossos e recordações de filmes de terror.
Trezentos convidados compareceram ao casamento no Stanley, que contou com as daminhas parecidas com as gêmeas e o bolo com cicatriz de Frankenstein (“Era para sangrar quando você cortasse, mas não deu certo”, disse ela). Papke planejou o casamento.
Papke também realiza o sonho de Nichols, 39 anos, e Sheffler, 40, de Denver, no sábado, 28, quando trocarem votos no Pavilhão do hotel numa data que escolheram porque é lua de caçador (às vezes chamada de lua cheia de sangue).
O objetivo é que a cerimônia para 140 pessoas seja “bastante teatral”, disse Nichols, gerente de compras e fornecimento de uma empresa de tinturas naturais que também tem sua própria empresa de cuidados com a pele à base de ervas, a Blue Yarrow Herbs. Sheffler é executivo de contas da Hotel Engine, uma plataforma de reservas de hotéis.
Os detalhes que eles sonharam com a ajuda de Papke vão trazer um vestido de noiva preto com dentes de vampiro e asas de morcego, um padrinho vestido de dragão e uma boneca articulada Annabelle, do filme Invocação do Mal.
“Ela vai meio que flutuar”, disse Nichols sobre a boneca que terá rodinhas. “Acho que estamos tentando assustar as pessoas. Mas, na nossa cabeça, é normal. Jeff e eu somos só alternativos”. Um casal de esqueletos vai estar no topo do bolo.
Papke está pronta. Ela diz que se orgulha de nunca ter feito “casamentos onde tudo é muito bonito, onde é só vestido branco e flores rosadas, onde os convidados entram e tem frango com purê de batata e aí as pessoas dançam ‘YMCA’ e saem bolhas na pista de dança”.
“Estou 100% dedicada a isso”, disse. Ela espera que o espírito que ela muitas vezes sente observá-la quando trabalha sozinha no Stanley também esteja. “Todo mundo sabe que o Stanley é mal-assombrado”, disse ela.
Este artigo foi originalmente publicado em The New York Times.
/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
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