Wes Anderson explica estilo singular ao Estadão: ‘É como se o filme estivesse dentro do meu cérebro’

Ele estreia série de curtas na Netflix baseados na obra de Roald Dahl, de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’. Diretor com estética tão marcante que virou meme conta como cria universos ilusórios de escape da realidade.

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Por Mariane Morisawa
Atualização:

Asteroid City ainda está em cartaz, mas Wes Anderson já tem projeto novo na praça: uma série de curtas baseados na obra de Roald Dahl estreando na Netflix. O primeiro, A Incrível História de Henry Sugar, exibido fora de competição no recém-encerrado Festival de Veneza e inspirado no conto de mesmo nome, chega na quarta-feira, 27. Na sequência estreiam as versões dos contos O Cisne (quinta, 28), sobre um menino brilhante perseguido por valentões; O Caçador de Ratos (sexta, 29), sobre um exterminador de roedores; e Veneno (sábado, 30), em que um homem descobre uma cobra venenosa em sua cama.

'A Incrível História de Henry Sugar' tem Benedict Cumberbatch como Henry Sugar. Ator é um dos queridinhos de Was Anderson. Foto: Netflix/Divulgação

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O cineasta americano, que costuma criar seus roteiros do zero, tem poucas adaptações em seu currículo. As exceções são O Grande Hotel Budapeste (2014), inspirado pela obra de Stefan Zweig, e a animação em stop motion O Fantástico Sr. Raposo (2009), também uma adaptação de Roald Dahl, mais conhecido por Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate.

O fascínio de Wes Anderson pelo escritor britânico vem da infância e da juventude passada no Texas. “Eu me lembro de focar na chama da vela e tentar ver através das cartas de baralho, de tanto que essa história me marcou”, disse o diretor em entrevista com a participação do Estadão, em Veneza. “E muitas outras pessoas me contaram ter feito o mesmo. Então acho que o Dahl, com seja lá que tipo de cérebro ele tinha, era capaz de criar ideias que provocavam algo muito raro.”

No média-metragem de 39 minutos, Benedict Cumberbatch é um homem rico que descobre um guru (Ben Kingsley) com a habilidade de enxergar sem os olhos. Henry Sugar passa anos praticando seus métodos (que envolvem olhar fixamente para a chama de uma vela) com o objetivo de trapacear no jogo.

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Anderson é conhecido por trabalhar com os mesmos atores repetidamente. “Muitos dos atores com quem trabalhei são simplesmente meus favoritos. Então, estou mais do que feliz de ter Ralph Fiennes de volta”, afirmou. “Fora isso, vários viraram meus amigos, mas só os vejo quando estamos fazendo um filme juntos. É um grande reencontro. Mas eu também gosto de novas caras e de expandir o grupo.”

Aqui, Ralph Fiennes, que fez O Grande Hotel Budapeste, está de volta como o próprio Roald Dahl. Rupert Friend, que apareceu em Asteroid City, faz os curtas O Cisne e O Caçador de Ratos. Os outros são adições à companhia Wes Anderson: Cumberbatch, Kingsley, Dev Patel e Richard Ayoade. Os atores se revezam nos curtas, interpretando vários papeis e narrando a história ao mesmo tempo, com efeito singular.

Diretor no controle

Como sempre, A Incrível História de Henry Sugar – o único a que a reportagem teve acesso – mostra um diretor no controle. Essa é uma palavra-chave para entender seu cinema. Conforme o tempo passa e você amadurece, percebe que a vida é indomável e o mundo, incontrolável. Wes Anderson remedia isso, pelo menos em seus filmes, criando um universo único, quase como um conto de fadas, com uma paleta de cores típica, movimentos milimétricos, um jeito de dizer as falas um tanto artificial. “Quando você faz um filme, você está no controle daquele mundo”, disse Anderson. “Mas eu não sugeriria fazer um filme se você quer ter controle na sua vida.”

Só nos filmes em que lançou neste ano, há morte, visitas alienígenas, poderes miraculosos. Coisas incontroláveis. E isso tem a ver com o que passa na cabeça do diretor nesta fase de sua vida. “Sim, nestes curtas e em Asteroid City também, meu processo de pensamento está inserido no filme. É como se o filme estivesse dentro de meu cérebro.”

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Os mundos que ele cria são universos ilusórios de escape da realidade.

Mas isso para mim é a descrição do cinema. Não é a realidade. É uma ilusão. E o que pode ser chamado de minha estética ou estilo não é isso para mim. É mais meu ponto de vista. É simplesmente o que quero fazer. Essa é a resposta verdadeira.

Wes Anderson, diretor

Por isso, ele dificilmente vai ver aqueles vídeos do TikTok no “estilo Wes Anderson” que foram moda uns tempos atrás. “É como se alguém falasse: Tal pessoa faz uma imitação incrível de você. Eu não quero ver isso. Veja bem, eu acho legal. Eu mesmo fiz um filme de Indiana Jones quando era garoto. Tentei fazer uma peça de Star Wars. Mas não acho que aquilo ali no vídeo sou eu. E vou ficar envergonhado.”

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