Pense em qualquer nome de relevância da música brasileira, dos anos 1960 para cá. Chico, Gil, Caetano, Gal, Elis, Vinicius, Tom, Tim Maia, Cartola, Chitãozinho & Xororó, Pena Branca & Xavantinho, Beth Carvalho, Tom Zé, Martinho da Vila, Dorival Caymmi, Ney Matogrosso... Quase todos se submetido aos closes de Fernando Faro para o seu Ensaio. O mais impressionante é que este ainda é o programa musical mais inovador da televisão brasileira.
Seu criador, Fernando Faro, morreu aos 88 anos na madrugada desta segunda, 25, em decorrência de uma infecção pulmonar. Ele estava internado desde o dia 26 de janeiro no Hospital Oswaldo Cruz. Nascido em Aracaju, em 21 de junho de 1967, Faro cresceu em Salvador e chegaria a São Paulo para estudar Direito na São Francisco. Logo, trocou o estudo das leis pelo Jornalismo. Foi trabalhar no jornal A Noite, de Adhemar de Barros, e chegou à TV logo depois de sua inauguração, ainda em 1951, pela TV Paulista, dirigindo programas e escrevendo teleteatros. A carreira como diretor musical começou na Tupi, na década de 1960, com o Hora da Bossa, aos domingos. Por um bom tempo, trabalhava paralelamente para agências de publicidade, complementando o orçamento.
Ao ver o preparo todo de um estúdio para gravar um programa, Faro notou que o backstage era cenário de interesse para a plateia. Tratou assim de incorporá-lo à edição final. Quando um cantor desafinava e pedia para gravar de novo, Faro consentia, mas levava o erro ao ar, não como achincalhe ao artista, mas para desnudá-lo de sua falsa perfeição, para torná-lo humano. Seu acervo com mais de 700 entrevistas, entre Ensaio e Mosaicos, é o que há de mais precioso na TV Cultura. Como o canal nem tem material suficiente para compor sua grade e vive a buscar produções fora de casa, seria de bom tom manter o Ensaio no ar, ad eternum, como um canal Viva de si próprio.
Nos 45 anos da Cultura, em 2014, em evento realizado no Teatro Bradesco, Faro foi a figura mais bajulada por Serginho Groisman, mestre de cerimônias da ocasião, e a mais low profile de toda a plateia. Mal se levantou de seu lugar para uma chuva de aplausos interminável. Mal disse duas palavras. Foi ovacionado. Ainda que soubéssemos do valor dele em vida, merecia ser mais e mais ovacionado em qualquer ocasião. Ave, Faro.
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