Dez livros essenciais recomendados pela equipe do 'Aliás' em janeiro

Obras de ficção e não ficção, brasileiras e estrangeiras figuram na lista dos livros sugeridos no primeiro mês de 2021

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No último domingo de cada mês, a equipe do Aliás seleciona e indica dez livros que não podem passar batidos. A Estante de janeiro de 2021 conta com obras heterogêneas, de relatos históricos a ficções, abarcando leitores de diversos gostos. 

Os livros recomendados pelo 'Aliás' em janeiro de 2021 Foto: Reprodução

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Confira a lista:

Menino Sem Passado - Silviano Santiago (Companhia das Letras)

A infância do grande escritor mineiro Silviano Santiago, que completa 85 anos em setembro, é relembrada neste Menino Sem Passado, cuja precisão memorialística o coloca ao lado do mestre Pedro Nava. O livro começa em Formiga, terra natal do autor, quando Santiago, com apenas um ano e meio, perde a mãe. O pai, comerciante de tecidos, então transfere a família para Belo Horizonte, e emprega uma italiana, Sofia, para cuidar dos filhos. São poucos os anos de convivência da babá com as crianças. A família depois se complementa com a entrada em cena da madrasta e dos três filhos do segundo casamento. Da infância ele parte para a vida adulta de professor universitário com sérias dificuldades financeiras, deixando para trás os sonhos embalados pela leitura de gibis e idas ao cinema. Apesar de ser discípulo de André Gide, cuja obra estudou profundamente, Santiago jamais manteve um diário, o que surpreende quando se lê relatos de fatos que aconteceram há mais de sete décadas. O título Menino sem Passado é uma homenagem ao poeta Murilo Mendes (A Idade do Serrote), mas a influência de Drummond surge quando Santiago se dá conta de que a infância passou e ele não viu. Intelectual desde sempre, ele ainda relembra seus primeiros anos como crítico de cinema e a vida política no Brasil de Vargas. O livro cobre o período entre 1936 e 1948.

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Trilogia do Reencontro - Botho Strauss (Temporal)

Inspirada em Os Veranistas, de Gorki, Trilogia do Reencontro é a primeira peça do consagrado dramaturgo alemão Botho Strauss, que estreou em 1977. O próprio Strauss havia dirigido antes, no Schaubühne am Halleschen Ufer, em Berlim, uma versão de Os Veranistas. Infelizmente, não é um autor muito lido no Brasil (dele foi publicado aqui o texto de sua peça Grande e Pequeno, de 1978, montada no Brasil em 1985). Um grande autor erudito, ele ajudou Peter Stein em montagens difíceis baseadas em autores como Ibsen e Heinrich von Kleist. A Trilogia do Reencontro se passa no verão de 1975. Durante a inauguração de uma exposição, os espectadores são um pouco também observadores de si e dos outros (especialmente dos outros). O confronto entre o curador da mostra e um integrante de uma associação que pretende impedir o vernissage é seu tema central. A peça, originalmente publicada em 1976, tem aqui sua primeira tradução no Brasil, a cargo de Alice do Vale.

Menino de Ouro - Caire Adam (Todavia)

Claire Adam, escritora nascida em Trinidad e Tobago, vive em Londres há alguns anos, tendo estudado escrita criativa na Universidade de Londres. Menino de Ouro é seu romance de estreia e foi incluído, no ano de seu lançamento na Inglaterra (2019) na lista dos cem livros que “moldaram nosso mundo”. A ação do livro se passa na ilha caribenha onde Claire Adam nasceu. O protagonista é pai de dois filhos. Sem recursos, os gêmeos idênticos têm diferentes personalidades. Peter é o vocacionado – e os país apostam todas as fichas em sua formação. Seu antípoda Paulo vive perambulando pelas ruas até desaparecer um dia, obrigando o pai a buscar o filho pródigo, numa reprodução atemporal da parábola bíblica. Uma surpresa aguarda o leitor desse romance de estreia que revela uma escritora sensível e atenta aos problemas dos jovens contemporâneos. Claire Adam surpreendeu até Sarah Jessica Parker, que classificou Menino de Ouro de “uma história inesquecível”.

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Gênesis - Guido Tonelli (Zahar)

A evocação do Gênesis bíblico por um respeitado cientista como Guido Tonelli, professor da Universidade de Pisa, pode parecer paródica, mas não. Tonelli fala da relação entre os mitos fundadores e a ciência de modo respeitoso, criando, a exemplo de Hesíodo, uma ponte entre poesia e cosmologia em sua narrativa das origens. O físico observa que, na origem de grande parte das narrativas mitológicas, tudo começa no caos, até que um ser sobrenatural surge para dar forma ao universo. Do nascimento da ordem à emergência da línguas, até chegar aos aceleradores de partículas, Tonelli aborda a teoria da relatividade de Einstein, o Big Bang e o universo que surge da espuma quântica num átimo (o primeiro dia da Criação, segundo o físico). O livro toca ainda em temas polêmicos, como o sucesso da teoria inflacionária (a hipótese de que o universo passou por uma fase de inflação cósmica) e como o toque delicado de um bóson pode mudar tudo, para sempre (Tonelli, como se sabe, foi um dos responsáveis pela descoberta do bóson de Higgs, que colocou nosso conhecimento do universo de pernas para o ar). Um livro fascinante como os de Stephen Hawking.

Eu em Pessoa - José Eduardo Gibello Pastore (Chiado) 

O fascínio do poeta português Fernando Pessoa pelo esotérico (da Cabala aos templários, da maçonaria ao espiritismo) talvez explique sua dedicação às ciências ocultas e comunicações mediúnicas. É possível, portanto, que não lhe parecesse estranho um livro em que um autor do século 21, o advogado trabalhista José Eduardo Gibello Pastore, Eu Em Pessoa, fale com ele como um íntimo, dedicando seus poemas a Pessoa, invariavelmente, desta forma:“De um amigo que não te foi, mas é”. Administrador de um grupo de admiradores de Pessoa no Facebook, que reúne 5 mil membros, Pastorefaz do poeta seu interlocutor, escrevendo cartas ao “amigo’, exatamente como o fazia Mário de Sá-Carneiro a Pessoa há um século. Nesse diálogo poético não há o despojamento de Sá-Carneiro, mas um tom reverencioso em busca da unidade temática da poesia de Pessoa que, paradoxalmente, teve de adotar heterônimos para chegar à síntese de O Livro do Desassossego. Na segunda parte do livro, Pastore, em outra experiência literária, mescla seus poemas com fragmentos de Pessoa, numa relação simbiótica entre mestre e discípulo.

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Contra Mim - Valter Hugo Mãe (Biblioteca Azul)

Contra Mim é o livro mais íntimo de Valter Hugo Mãe, um escritor de livros já bastante pessoais. Na obra, ele percorre sua juventude pobre, reflete sobresua relação com os pais e fala do irmão Casimiro, quemorreu ainda criança, antes de oautor nascer. O escritor americano Philip K. Dick teve uma irmã gêmea que não vingou e o impacto dessa ausência é sentido ao longo de toda a sua obra, nos questionamentos que ele faz a respeito da essência da realidade. Do mesmo modo, a literatura de Mãe parece buscar nesses traumas pessoais a base para produzir seus próprios questionamentos poéticos, o que faz de Contra Mim tão relevante para lançar luz sobre sua obra. 

A Representação da Criança na Literatura Infantojuvenil - Isabel Lopes Coelho (Perspectiva)

Isabel Lopes Coelho coordenou as publicações do catálogo infantojuvenil da editora Cosac Naify por doze anos, onde foi premiada e se tornou autoridade no assunto. Agora, ela expande sua tese de doutoramento no livro A Representação da Criança na Literatura Infantojuvenil: Rémi, Pinóquio e Peter Pan. Nessa obra, Coelho analisa a evolução do olhar da literatura para os pequenos por meio de três obras infantojuvenis que a autora julga representativas dosmercados editoriais de três países: França (Sans Famille, 1878, de Hector Malot), Itália (As Aventuras de Pinóquio, 1883, de Carlo Collodi) e Inglaterra (Peter e Wendy, 1911, de J.M. Barrie). 

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Senciente Nível 5 - Carol Chiovatto (Avec)

Histórias futuristas recheadas de pessimismo grassam pela literatura. Em resposta, na última década, surgiu o hopepunk, subgênero que vislumbra um futuro otimista, mas nunca ingênuo, sugerindo que crer na humanidade é um gesto de transgressão. Senciente Nível 5 é um exemplo desse movimento no Brasil. A obra retrata duas potências interplanetárias, Bílgia e Lena-Hátia, à beira de uma guerra. Para evitá-la, Lin e Teo, em lados opostos desse impasse, devem aprender a confiar um no outro apesar de suas visões conflitantes.O que impressionaé que, numa ficção com viagens espaciais, o aspecto mais distante da realidade é o diálogo e o respeito mútuo.

A Ascensão do Dinheiro - Niall Ferguson (Crítica)

Que o mundo muda, isso não é segredo para ninguém, muito menos para Niall Ferguson, um dos mais instigantes historiadores da atualidade. Mas, para esse professor da Universidade de Harvard, diferente do que muita gente possa supor, as mudanças pelas quais o mundo passam não advém de progressos tecnológicos, e sim de evoluções financeiras. No livro A Ascensão do Dinheiro, Ferguson reconta, sob a perspectiva do dinheiro, diversos episódios da história humana, das notas promissórias de argila da Mesopotâmia no século II a.C. até a influência das finanças orientais para o mecenato que viabilizou as obras de arte do renascimento.

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O Esplêndido e o Vil - Erik Larson (Intrínseca)

À frente da Inglaterra na maior parte da 2ª Guerra Mundial, Winston Churchill se notabilizou por ser um homem que combateu as bombas alemãs com palavras. É essa capacidade do então primeiro-ministro britânico de seduzir mentes e corações com seus discursos – que lhe renderam, inclusive, o prêmio Nobel de Literatura em 1953 – que o jornalista Erik Larson descreve no livro O Esplêndido e o Vil. A obra fornece um relato detalhado do período de um ano e meio entre o início dos bombardeios nazistas em Londres e a entrada dos EUA no conflito, com ênfase em como as falas de Churchill repercutiram na opinião pública e foram cruciais para reverter a guerra.

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