A escritora Edla van Steen respira palavras - idealizadora e diretora de cinco coleções da editora Global, ela divide sua rotina em pesquisa de contos, poemas e histórias infanto-juvenis, cuja seleção sustenta um projeto que já dura 20 anos. A convivência com as letras também a inspira a escrever e, apesar do longo período que separa um e outro livro, o momento transforma-se em um importante fato. É o que ocorre nessa quarta-feira, na Galeria Arte Aplicada (Rua Haddock Lobo, 1.406), às 20 horas, quando Edla lança No Silêncio das Nuvens, reunião de quatro contos e uma novela, editado pela mesma editora Global. "Não tenho outros passatempos, pois amo a leitura; estou rodeada de palavras por todos os lados", justifica a escritora, que volta a lançar um livro depois de um hiato de cinco anos - Cheiro de Amor, que lhe rendeu o Prêmio Nestlé, é de 1996. "Escrevo com dificuldade, pois faço inúmeras revisões para evitar a repetição de palavras e manter a linguagem viva, refinada." Um assunto, porém, domina seus textos: a morte. No novo livro, os contos circulam o tema, utilizando-o como condutor da trama. Como primeira explicação, a escritora justifica dizendo que final feliz não desperta interesse do leitor. A opção, porém tem um fundo mais íntimo: Edla já sofreu dois enfartes, que obrigaram a colocação de duas pontes de safena. "Assim, exorcizo a morte em meus livros", comenta a escritora. Edla planejava reunir, em No Silêncio das Nuvens, quatro novelas, mas seu rigoroso processo seletivo transformou-as em contos. O processo favoreceu o resultado, como atesta David S. George, professor titular de literatura latino-americana do Lake Forest College, nos Estados Unidos, que assina a introdução. George é um especialista na escrita de Edla sendo autor de elogiadas traduções para o inglês. "Edla é uma artista que continua reduzindo a linguagem literária aos seus elementos básicos, como fazem os bons poetas, produzindo assim um estilo que, na sua simplicidade coloquial e depuração, acaba sendo sumamente elegante", escreve George, na introdução, lembrando ainda do sucesso nos Estados Unidos de outras obras da escritora. Como Madrugada, de 1992, traduzido para Early Mourning: uma ação frenética, que se desenrola em um período de 12 horas, desde o poente até o fim da madrugada, foi comparada, por um crítico do The Washington Post a Pulp Fiction, filme de Quentin Tarantino. "O detalhe é que escrevi o romance dois anos antes", diverte-se Edla.
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