Elizabeth Jobim volta a expor em SP

Suas obras agora são mais verticais, as pinceladas, mais largas e soltas, nas quais imperam o azul e o vermelho. É a segunda individual da artista que vem apresentada pelo crítico Rodrigo Naves

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Elizabeth Jobim volta a expor em São Paulo seus comentários sobre o desenho de objetos. A artista retorna ao Gabinete de Arte Raquel Arnaud quarta-feira para esta que é sua segunda individual com grandes obras em papel em que sua natureza morta (o trabalho começa a partir da observação de pedras) ressurge com mais força. Suas obras agora são mais verticais, as pinceladas, mais largas e soltas, de forma que o resultado dá-se mais pelo contato da tinta e da água com o papel do que com a gestualidade. Essa maior liberdade se materializa também na escolha cromática. Na última individual na cidade, a artista começou a acrescentar cores às linhas pretas. Agora, o preto é quase uma eventualidade entre os nove trabalhos azuis ou vermelhos, escolhidos entre uma série de 13, produzidos nos últimos dois anos. Na montagem, as obras azuis tomam conta da parede direita da galeria, do ponto de vista de quem entra. Elas criam um universo particular nesse lado do espaço, uma vez que a artista valoriza a natureza da tinta. O comportamento do azul aparece nitidamente diferente do vermelho, mesmo que ambos, acrílicos (até então, ela pintava com óleo), tenham recebido o mesmo tratamento. Passagens em preto - "Cada cor se comporta de maneira diferente", relata a artista, que acrescenta pigmento às cores para evitar o brilho e usa nanquim para as passagens em preto. Os trabalhos em vermelho e preto e em vermelho ocupam a parede esquerda e a divisória do fundo, que fecha a exposição com uma obra inesperadamente horizontal e em tamanho médio. "Achei interessante a idéia de um horizonte para esse local, que é o mais distante da entrada do espaço." Mas não é só a natureza do material que permite essa espécie de autonomia entre os grupos de mesma cor. "O azul tem uma vibração mais líquida, o que se contrapõe à solidez da pedra", observa Elizabeth. "Já o vermelho parece se transportar dentro da obra, estabelecendo uma relação com a circulação sanguínea, esse movimento orgânico próprio dos corpos." Os movimentos dos desenhos da artista carioca, aliás, são conseqüência direta da diluição em água. São monumentais desenhos de pequenos sólidos, as pedras, que se liqüefazem diante dos olhos do espectador. Além do traço, cada vez mais espesso e transparente, composto por camadas sutis como na aquarela, as obras de Elizabeth são em parte preenchidas por linhas paralelas e verticais, conseqüências das gotas de tinta que escorrem das pinceladas. Essas linhas "espontâneas", que por conta da gravidade acabam ocupando a parte inferior dos trabalhos, são o que se apresenta com mais definição aos olhos. Filhas das largas pinceladas, as gotas testemunham o altíssimo grau de diluição das cores, por apresentar a tonalidade menos diluída nos trabalhos, em contraposição às linhas do pincel, que são quase superfícies apagadas. Como o crítico de arte Rodrigo Naves comenta no texto do catálogo da exposição, é como se as linhas, de tão largas, não suportassem o próprio peso. "A sua consistência nasce dessa nova plasticidade: em lugar da ilusão da profundidade, a constituição de uma espessura que, de tão evidente, perde a rigidez e se torna esponjosa, mole." Elizabeth explica esse efeito como uma conseqüência dessa liberdade maior nos trabalhos. É a ação da água e não da mão que promove esse desmanche. "Em vez de trabalhar no chão, como costumava, fiz esses quadros em pé, já na vertical", conta ela. "Assim, com esse movimento criado pela água, a pincelada ficou menos pessoal." Ao mesmo tempo em que tornou a gestualidade "mais impessoal", Elizabeth ganhou maior domínio do pensamento implícito em seus desenhos, que versam, bem-humoradamente, sobre a impossibilidade da existência deles próprios, incorporando dados do mundo à sua poética, como quando utiliza as folhas de papel exatamente nos tamanhos em que são produzidas, quando não, recortadas em larguras e alturas proporcionais ao seu tamanho original. Ou, como escreve Rodrigo Naves: "Um pouco como todos nós, esses desenhos pedem compreensão e desacreditam dela. (...) São mansos e humildes de coração, mesmo que agora coração não seja mais que um músculo feito de estopa." Elizabeth Jobim. De segunda a sexta, das 10 às 19 horas; sábado, das 11 às 14 horas. Gabinete de Arte Raquel Arnaud. Rua Arthur de Azevedo, 401, tel.: 883-6322. Até 31/10. Abertura, nessa quarta-feira, às 20 horas

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.