BELO HORIZONTE - O esquema de lavagem de dinheiro que levou o criador de Inhotim, Bernardo Paz, a ser condenado a nove anos e três meses de prisão repassou R$ 300 mil a um advogado preso em 2016 na Operação Aequalis, que investigou desvio de recursos públicos para a construção da chamada “Cidade das Águas”, sob a responsabilidade da Fundação Hidroex, hoje extinta.
O advogado é Odo Adão Filho, de Uberaba, no Triângulo Mineiro, que já foi braço direito do ex-deputado federal Narcio Rodrigues (PSDB), também ex-presidente do partido em Minas Gerais. O desvio de recursos na “Cidade das Águas”, que foi de R$ 14 milhões, segundo as investigações, também levou o ex-parlamentar à cadeia.
Narcio, que ficou três meses preso, era secretário de Ciência e Tecnologia do ex-governador de Minas, hoje senador, Antonio Anastasia (PSDB), que encerrou seu mandato em 2014. Foi ainda um dos principais interlocutores de Aécio Neves no período em que o hoje colega de bancada de Anastasia governou Minas. Os recursos teriam sido desviados entre 2012 e 2014. O ex-governador não figurou entre os investigados.
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A “Cidade das Águas” seria construída em Frutal, também no Triângulo, que era base eleitoral de Narcio, para funcionar como um centro de estudos sobre meio ambiente. Obras chegaram a ser feitas, mas não foram concluídas. No ano passado, uma lei aprovada na Assembleia Legislativa extinguiu a Fundação Centro Internacional de Educação, Capacitação e Pesquisa Aplicada em Águas (Hidroex), vinculada à época à Secretaria de Ciência e Tecnologia.
Ao Ministério Público Federal (MPF), Odo Adão afirmou que, dos R$ 300 mil, ficou com R$ 80 mil “por serviços” e devolveu R$ 220 mil a Bernardo Paz. Segundo as investigações, uma empresa criada pelo idealizador de Inhotim, a Horizontes, teria recebido US$ 98,5 milhões, ou, hoje, cerca de R$ 328 milhões, de recursos repassados por companhias criadas em paraísos fiscais. A Horizontes funcionou como financiadora do Inhotim.
Além de Odo, empresas também teriam recebido recursos do esquema de lavagem de dinheiro atribuído ao criador de Inhotim. As movimentações, ainda segundo o MPF, ocorreram entre 2007 e 2008. Em casos como o apontado pelas investigações, a transferência de recursos para pessoas físicas e jurídicas é chamada de pulverização. “O objetivo é dificultar o rastreamento dos recursos”, afirma o delegado da Polícia Federal Renato Sarquis, à época responsável pelo inquérito.
O advogado de Odo Adão na Aequalis, Leonardo Bandeira, afirma que seu cliente depôs como testemunha na ação envolvendo o esquema de lavagem de dinheiro que levou Bernardo Paz à condenação, e que seu cliente, nesse caso, não foi denunciado. O advogado de Paz, Marcelo Leonardo, à época da condenação, afirmou que a decisão pela condenação de seu cliente era injusta e que recorreria da sentença, o que já ocorreu.
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Sarquis afirma ter reunido durante o inquérito todos os elementos necessários para que o indiciamento de Bernardo Paz por lavagem de dinheiro fosse feito. “A base para a decisão foi o laudo financeiro feito pela perícia da Polícia Federal com base em informações repassadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), depois de quebras de sigilo”, afirmou. Segundo as investigações, o esquema teria utilizado pelo menos um posto de gasolina na “pulverização” apontada nas apurações.
Segundo as investigações do Ministério Público Estadual, responsável pela Operação Aequalis, Odo seria representante de um grupo português que teria feito acerto com Narcio Rodrigues para repasses de recursos para campanhas eleitorais em 2012. Em troca, o tucano se comprometeria a ajudar o grupo em supostos negócios com o Estado. Narcio, Odo e outras 13 pessoas foram denunciadas por crimes como organização criminosa, obtenção de vantagem indevida, lavagem de dinheiro e peculato. A Operação Aequalis foi deflagrada em 30 de maio de 2016. Odo foi preso em 3 de junho e conseguiu habeas corpus um mês depois. **
Depois de publicada a matéria "Esquema de lavagem de Bernardo Paz inclui advogado", o advogado do ex-deputado federal Narcio Rodrigues (PSDB), Estêvão Melo, enviou uma nota com o seguinte texto:
"A defesa de Nárcio estranha que seu nome apareça em um caso que não lhe diz respeito. Tal só se justifica para deixar a reportagem mais atraente. No entanto, confunde o leitor. Quanto aos processos sobre o Instituto Hidroex, a matéria omite a informação de que os tribunais de revisão declararam a incompetência da Justiça Estadual e que ainda não há manifestação do Ministério Público Federal sobre o caso. Atualmente, portanto, Nárcio não é réu."
"A defesa reitera a confiança no jornalismo do Estadão e de seus profissionais, salientando que sempre teve excelente e respeitoso tratamento com todos. É por isso mesmo que solicita a divulgação dessa nota para sanar esse equívoco."
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