Cada geração tem uma visão diferente sobre o que é o amor. Mas toda geração diz que amor mesmo era aquele dos seus avós, aquilo é que era amor de verdade. O amor é um sentimento tão complexo, que talvez levemos sempre duas gerações para conseguir entendê-lo. Agora, estamos entrando na era dos avós separados. Isso sempre foi impensável. O vovô foi feito pra ficar com a vovó. Vodrasta existe? Como é possível que o seu avô viva com outra mulher que não aquela velhinha fofa e gordinha que faz bolo pro almoço de domingo? Acontece que agora essa senhora também já se arranjou com um outro senhor e a terceira idade passou a se pegar loucamente. Ainda bem! As pessoas da minha idade têm, em sua maioria, pais separados. É supernormal ver sua mãe com alguém e depois não. E depois de novo e depois não. Papai pegador virou praxe. Não estou criticando isso, estou constatando. Se hoje é assim e as pessoas são felizes assim, maravilha! E isso me leva a pensar na minha geração. Uma geração que se preocupa menos com o amor e mais com o trabalho. Menos com ter alguém e mais com ter alguém pra essa noite. As frases de hoje são: Vamos sair hoje pra pegar mulher? E aí, comeu? Furou, furou? Olha o videozinho dessa vagabunda transando com o namorado. ("Detalhe": A menina está transando com o próprio namorado que, escondido dela, a filmou e, não satisfeito, vazou o vídeo sem ela saber e a vagabunda é ela? Entendi.) Que amores são esses, os amores de hoje? Que pessoas são essas que amamos tanto e tão intensamente em duas horas e que não sabemos nem o nome no dia seguinte pra contar a história para os amigos? Que medo é esse que nos faz descartar o amor tão rapidamente? Estreia nesta quinta, 26, o filme Ponte Aérea. Um romance ou um pequeno retrato do que o amor é/pode ser para a minha geração. O filme, dirigido de forma precisa pela Júlia Rezende, conta a história de Amanda (Letícia Colin) e Bruno (Caio Blat), duas pessoas tão diferentes, a começar pelo Rio dele e a São Paulo dela, e que se apaixonam e se desapaixonam desordenadamente numa avalanche de sentimentos. Como a nossa cabeça hoje, que quer tudo e não quer nada. Quer consertar o mundo, mas sem sair de casa. Quer ser bem-sucedido, mas sem ter que se esforçar, quer vencer na vida, mas não quer ter trabalho, quer poder fazer tudo até o fim da vida e não ter que tomar decisões, não quer ter limitações e não quer sofrer. Ninguém quer sofrer, nunca. Mas a gente sofre e não há como evitar. Como saber lidar com esse sofrimento e diminuir seu impacto é que talvez seja o segredo. Amar é sentir dor. É assim e sempre será. É abrir mão de um mundo onde só você vive e fazer parte de um outro que tem mais alguém querendo fazer as coisas de um jeito diferente do seu. E talvez venha daí a raiva, de não poder mais ser aquela pessoa perfeita pra você que você aprendeu a lidar durante a vida: você mesmo. Ui, querendo ser profundo esse Fábio... Não, é que eu fui assistir a Ponte Aérea e fiquei pensando nisso. No amor. Vai lá pra ver se eu não tenho razão.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.