Frank O'Hara ajudou uma escritora a se reconciliar com o pai

Foi pela admiração pelo poeta, morto em 1966, que Ada Calhoun perdoou Peter Schjeldahl

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Por Joan Frank

A veterana ghostwriter, jornalista e autora de não-ficção Ada Calhoun também é filha do respeitado crítico de arte nova-iorquino Peter Schjeldahl – agora com 80 anos – e de sua esposa, a ex-atriz Donnie Brooke Alderson.

Calhoun – que usa o nome do meio como sobrenome para evitar comparações com seu pai – cresceu em meio às travessuras de uma turma do movimento artístico da Escola de Nova York: “aquelas pessoas que você faz de tudo para ver, até passar reto por gente mais famosa”. Suas obras e vidas eram deslumbrantes, disruptivas. Seu “coração pulsante”, segundo Calhoun, era o falecido e incandescente poeta, curador e adorado diletante Frank O’Hara – a quem Schjeldahl idolatrava.

Frank O'Hara em retrato de 1960 por Alice Reel Foto: National Portrait Gallery

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Agora, se você, assim como eu e muitos outros, amava a crítica de arte de Schjeldahl – sua acuidade, sua paixão – e o considerava (citando um fã) “o melhor escritor de arte de nossa época, um dos melhores críticos de todos os tempos” – prepare-se. Also a Poet: Frank O’Hara, My Father, and Me, o novo, corajoso e empolgante livro de memórias de Calhoun, pode obrigar você a rever suas opiniões.

Sua gênese: vasculhando o porão do apartamento de seus pais em East Village no outono de 2018, Calhoun encontrou “dezenas de fitas cassete soltas e cobertas de poeira, rotuladas com as datas de 1977 ou 1976 (...) e nomes como Willem de Kooning e Eduardo Gorey”. Schjeldahl planejava escrever uma biografia de O’Hara e gravou essas entrevistas como pesquisa. Mas, depois de encontrar resistência da irmã de O’Hara, Maureen, que controla a herança, ele desistiu.

De imediato, Calhoun pediu permissão para retomar o projeto.

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Ela também reverenciava O’Hara – para a surpresa de Schjeldahl, fato que horroriza e magoa sua filha: “Para mim, era um pouco como não saber que sua filha era vegana, teosofista ou alérgica a abelhas”. Rapidamente, percebemos que Calhoun (casada e mãe de dois filhos) passou a vida toda à sombra de um albatroz de três cabeças: a fama de seu pai, sua imponente autoestima e, mais tristemente, sua indiferença por ela. “Meu pai é considerado um verdadeiro escritor, um artista atormentado (...). Eu venho trabalhando duro, cumprindo prazos”. Embora tenha certeza de que seu pai “sempre me amou (...) ele nunca pareceu particularmente interessado em mim”.

Sem meias palavras: Schjeldahl era um péssimo pai. “Meu pai nunca me comprou presentes de Natal. Ele não conhecia meus professores, meus amigos ou o número dos meus calçados (...). Não consigo me lembrar de uma única vez em que ele tenha me perguntado sobre o meu dia, feito um lanche para mim ou me ajudado com a lição de casa”. É verdade que a infância de Calhoun não foi exatamente uma infância de Norman Rockwell: “Que meu pai estava na foto era uma coisa que mais da metade dos meus amigos que cresceram na década de 1980 poderia dizer”.

Assim (tomando de empréstimo a linguagem do famoso “Maiakovski” de O’Hara): “Escrever este livro talvez fizesse a personalidade catastrófica de meu pai parecer bonita aos meus olhos (...). E talvez eu pudesse parecer interessante e moderna para ele”.

O que poderia dar errado?

Às vezes, a saga da negligência de Schjeldahl (um exemplo depois do outro), combinada com os repetidos esforços de Calhoun para ganhar seu carinho e estima, quase obliteram a história de O’Hara – tornando-a mais um satélite no qual se refletem os conflitos entre pai e filha. É uma triangulação estranha, deixando inevitavelmente de lado o artista a quem o velho amante Joe LeSueur chamou, depois do funeral de O’Hara, de “nosso Apollinaire”.

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Aos vinte e poucos anos, Schjeldahl encontrava O’Hara (dezesseis anos mais velho) em várias festas: “Com seu nariz torto e sorriso largo, [ele parecia] a um só tempo meigo e rude: meio boxeador, meio bibliotecário”. O’Hara autografou um catálogo do Museu de Arte Moderna para Schjeldahl: “para Peter, com a parceria de Frank”. Das entrevistas transcritas – apesar das enlouquecedoras interrupções de Schjeldahl – absorvemos impressões e relatos fantásticos. Não menos importante, respiramos a inebriante atmosfera nova-iorquina de tudo, o que um observador chamou de “o redemoinho glamoroso que o talento solitário pode inventar numa cidade grande”.

Pintura de 1948 de Jackson Pollock, artista que foi financiado pelo New Deal americano, tornou-se a mais cara do mundo entre 2006 e 2011 Foto: Coleção de David Martinez

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E os nomes! Larry Rivers, Helen Frankenthaler, Lucas Matthiessen – que adoravam O’Hara como uma figura paterna e a quem Calhoun chama de “o coração moral dessas entrevistas” – uma longa e brilhante lista. A angústia e a crueldade se repetem nos seus relatos. Rivers, pintor, viciado em heroína e amante ocasional de O’Hara, usava e insultava O’Hara, seduzia os amigos de O’Hara, depois tentou suicídio e ligou para O’Hara, “que veio e enfaixou seus pulsos”. Jackson Pollock gritava insultos a todos os membros do grupo de Nova York que encontrava. Abundavam as traições dilacerantes. Lisa de Kooning [filha de Willem] teve uma morte prematura e misteriosamente desgraçada.

Estranhamente, esses relatos surpreendem Calhoun: “Eu não esperava encontrar tanta escuridão na (...) história de O’Hara (...). Talvez seja verdade, talvez os vilões sejam mais interessantes, talvez falte à moral elevada (...) valor de entretenimento”.

Entretenimento – do tipo de explodir a cabeça – marca a troca telefônica de Calhoun com uma indignada Maureen, que se recusa a acessar os materiais de seu irmão: “[Este livro é] uma má ideia. Por favor, não use Frank. É muito injusto. É usar Frank para falar sobre uma situação que é apenas entre você e seu pai (...). Se as pessoas não conhecem bem poesia, elas não devem escrever a respeito (...). Você não entende? Frank acharia tudo isso muito estranho! Pense nisso! É muita exploração!”.

Complicações impressionantes se acumulam. Schjeldahl, fumante inveterado durante toda a vida, é diagnosticado com câncer terminal (até hoje a doença está sob controle). O apartamento do East Village pega fogo. Ah, também tem a covid.

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Meus principais pensamentos ao longo de Also a Poet foram: como Schjeldahl não está processando Calhoun por difamação? Ainda assim, a primeira frase de seus Agradecimentos declara que Schjeldahl leu o rascunho e enviou um e-mail: “Fiquei pensando que é o melhor livro que já li”. Quando Calhoun confessa que estava “com medo do que ele pensaria”, o pai diz a ela: “Espero nunca confundir a verdade com uma massagem nas costas”.

Bom, então, parabéns a ambos por este dueto feroz, dissonante, mas convincente. Ou por este trio improvável.

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O último romance de Joan Frank é The Outlook for Earthlings. Entre outros de seus trabalhos estão Where You're All Going: Four Novellas e Try to Get Lost: Essays on Travel and Place.

/ TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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Also a Poet: Frank O’Hara, My Father, and Me

Ada Calhoun

Grove Press - 272 página - US $27

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