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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘A dor moldou a minha comunicação’, diz Fabrício Carpinejar, que acaba de lançar novo livro

‘Se Eu Soubesse - Para Maiores de 40 Anos’ já está na segunda tiragem desde que entrou nas livrarias há duas semanas

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Foto do author Marcela Paes

As lições aprendidas nos 51 anos de vida do escritor, cronista, jornalista e poeta Fabrício Carpinejar são o mote para o livro Se Eu Soubesse - Para Maiores de 40 Anos. Lançada há duas semanas, a obra já está na sua segunda tiragem – a inicial foi de 8 mil exemplares. Ideias sobre amizades, família, amor e recomeços profissionais estão incluídas nas reflexões trazidas no lançamento. Além dos livros – Carpinejar já lançou mais 50 – ele mantém uma popular conta de Instagram. Leia abaixo a entrevista com o autor dada à repórter Marcela Paes.

O escritor Fabrício Carpinejar Foto: Annick Melo

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O que você aprendeu de mais importante após os 40 anos?

O rigor. Você entende que toda escolha envolve renúncia. Você tem gosto de dizer não. (risos).Você tem a solidão, diferentemente de outras épocas, como sinônimo de qualidade. Nada é melhor do que estar sozinho e isso já é um pré-requisito para escolher as companhias. Você não quer ninguém para estragar o momento que você tem consigo mesmo, que é tão raro. Você prefere receber amigos em casa do que ir para um bar. Você seleciona a sua nau de insensatos.

A maneira como as novas gerações se relacionam é muito diferente do jeito com que as pessoas com mais de 40 se conectam?

É, mudou a maneira que nos relacionamos com a memória. Nós, com mais de 40, temos muito mais fluência para conversar com os pais e com os avós, porque a gente teve lista telefônica, teve telefone fixo. Tivemos máquina de escrever, a gente tinha que aparecer de repente na porta, bater palmas para ver se havia alguém em casa, passávamos maior tempo na rua. São fatos determinantes de uma formação que mantêm um idioma correspondente. Somos a geração sanduíche.

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Geração sanduíche?

A geração que é capaz de cuidar dos pais, ou seja, a geração que historicamente é a primeira que cuida dos pais e filhos ao mesmo tempo, e talvez dos netos. É uma geração esmagada de responsabilidades. Nunca haverá uma geração igual. É uma geração que tem singularidades. A gente não tem a quem pedir ajuda. É uma geração prensada.

Hoje se fala muito mais sobre saúde mental, existem mais diagnósticos. Será que estamos mais deprimidos ou simplesmente falamos mais sobre o assunto?

Meus filhos fazem terapia desde cedo. Eu passei a fazer terapia aos 30 anos. Na hora que eu sentei no divã, eu estava fazendo terapia por três gerações. Havia um recalque de três gerações, porque meus pais não fizeram terapia, meus avós não fizeram terapia. Os traumas estavam recrudescidos, eu fui o primeiro a, de uma certa forma, organizar as emoções e os pensamentos e tentar diferenciar os comportamentos. Se hoje aparecem mais problemas, é que eles estão sendo mais discutidos. Antes a terapia era exclusividade da doença, hoje a terapia é prevenção. E as melhores sessões são quando você não tem nada a dizer.

Eu li que você tinha muita dificuldade para falar e se expressar quando criança. Escrever e, depois, trabalhar com palestras, é uma reviravolta nesse contexto.

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Eu falo bem porque eu sei o quanto custa não saber falar. Eu amo bem porque eu sei o quanto já fui rejeitado. Quando eu tinha sete anos, fui diagnosticado com retardo mental. Foi dito que eu teria a mentalidade de quatro anos a menos e fui convidado a sair da escola, porque o corpo educacional acreditou que eu não teria condições para aprender a ler e escrever. Eu tinha a língua presa, falava absolutamente errado, céu da boca um pouco estreito. E a minha mãe foi a única pessoa que acreditou em mim. Ela foi até a direção da escola e pediu uma segunda chance, uma segunda chance dentro da lei. E em dois meses eu voltei pra escola lendo e escrevendo melhor que os meus colegas. O que resulta em uma síntese da minha vida: diagnóstico não é destino. É um retrato provisório, ou seja, eu realmente tinha limitações que foram superadas com uma educação amorosa, afetiva. Essa foi a primeira etapa.

Qual foi a segunda?

Eu sofria muito bullying pela aparência e por não saber falar e tive que me defender sozinho porque havia o contraturno da família pra me abastecer de coragem e voltar na manhã seguinte. Se hoje eu fosse criança e tivesse bullying digital, não sei se eu ia conseguir sobreviver. Nunca, em nenhuma das minhas maiores fantasias imaginava ser um dia escritor, falar na televisão, no rádio, ter audiência. E talvez só tenha acontecido porque eu nunca parei de me aperfeiçoar. Nunca me senti suficientemente salvo. E também existe, por um outro lado, um entendimento de quem não consegue falar. Acabo sendo uma antena dos excluídos, dos rejeitados, de todos que são postos de lado, porque eu tenho o DNA do sofrimento e posso ajudar. Sei o que eles precisam. A dor moldou a minha comunicação.

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