PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Belarmino é o macho que a gente não quer mais ver’, diz Antonio Calloni sobre seu papel em Renascer

A novela estreia nesta segunda-feira; ator também fala sobre seu amor por São Paulo

PUBLICIDADE

Foto do author Gilberto Amendola

Antonio Calloni vai viver o coronel Belarmino no remake da novela Renascer, que estreia hoje na TV Globo. O papel, que já foi de José Wilker na primeira versão da trama, ganha uma leitura diferente de Calloni: “Fiz questão de não ver o trabalho do Wilker para fazer o personagem a partir do zero, da minha perspectiva”. Nesta entrevista, Calloni fala também do seu amor por SP. Leia trechos a seguir:

PUBLICIDADE

Qual é a sua abordagem para o Coronel Belarmino?

Ele é um personagem muito estimulante, um coronel típico daquela época. Alguém que tem muita avidez por terra e poder. Belarmino é um homem violento, sempre foi. Isso é interessante porque eu fiz um personagem na novela das seis, (o Matias, de Além da Ilusão) que não tinha o hábito de ser violento, mas foi se transformando. Ele era um ser humano cheio de contradições. O Belarmino não tem isso.

Ele não tem nuances?

Belarmino é o macho que a gente não quer mais ver. A maioria dos homens não quer mais se reconhecer nesse tipo de macho. Mas voltando às nuances... Ele percebe a mudança dos tempos, mas não muda interiormente. Ele apenas está mais velho e mais cuidadoso.

Publicidade

Na primeira versão de ‘Renascer’ (1993), o Belarmino de José Wilker tinha um bordão: ‘É justo, muito justo, justíssimo’. O bordão volta nesta versão?

Com certeza. Em respeito e em homenagem ao Wilker. Eu não vi o trabalho dele, mas sem ver eu já acho que é muito bom. Ele era um grande companheiro, mas fiz questão de não ver – inclusive para fazer o personagem a partir do zero, da minha perspectiva. Na composição, eu usei um chapeuzinho pequenininho de palha virado para cima, sandálias e óculos. Eu queria a aparência de um de um senhorzinho aposentado.

Em tempos polarizados, você teme que o seu personagem seja tachado, por exemplo, de bolsonarista?

Eu vou achar ótimo todas as leituras que fizerem. Como as pessoas irão ler esse personagem já é algo que não me pertence. A graça do trabalho é essa. Se compararem ao Bolsonaro ou ao Lula é um acontecimento bem-vindo. Agora, acho essa polarização algo ridículo, infantil e improdutivo. A gente precisa ir além dela.

Com ‘Renascer’, vamos acompanhar um novo remake. Acha que isso indica uma crise no formato?

Publicidade

Acho que temos muitos bons autores jovens. Talvez não tantos como antigamente...Eu não chego a identificar uma crise de criatividade. O que existe é um saudosismo do público e o prazer de fazer clássicos.

Belarmino (Antonio Calloni) Foto: Fabio Rocha/TVGlobo

Aniversário de SP chegando... você tem muito a cara de SP, não?

Eu serei eternamente paulista. Eu amo o Rio de Janeiro. Não me mudaria daqui, mas eu serei eternamente paulista. Confesso que, sempre que eu vou a São Paulo, ultimamente não, porque tô com medo, mas sempre que eu ia para São Paulo, eu andava a Paulista de ponta a ponta e descia a Consolação até o final. Minha relação com São Paulo é de um amor profundo. Eu nasci no bairro da Liberdade, comecei a fazer teatro no bairro da Liberdade.

No meio da sua resposta você falou de medo. É medo da violência de SP?

Eu fui assaltado em São Paulo, na Bela Cintra. Foi no período da tarde, à mão armada. Uma única vez na minha vida... Deixou esse gosto ruim, fiquei com medo. Continuo amando a cidade. O assalto é um detalhe numa vida toda que eu tive em São Paulo.

Publicidade

Você também é escritor. Acha que os atores leem pouco no Brasil?

Olha, vou dizer uma coisa que pode gerar até um cancelamento, mas eu vou me arriscar. O ator pode ser até analfabeto e ser um grande ator. Digo isso porque a arte, para mim, é extremamente democrática. A arte não é para iniciados, a arte não é para pessoas especiais, a arte é para qualquer um.

Qualquer um?

Qualquer um pode ser ator, cantor e escritor a hora que bem entender. Agora, quase 100% de certeza que se esse ator ler grandes romances, livros, ouvir música...Esse artista tem mais chances de se manter bem na carreira e de ver melhorar sensivelmente o seu trabalho. A arte é muito democrática, mas não se acomode – porque tem muita coisa pra gente descobrir.

Depois dos 60 anos, a passagem do tempo virou uma questão pra você?

Publicidade

A única coisa que o tempo está fazendo comigo é me deixar intrigado. Eu fico muito intrigado com o tempo. Ele me intriga, me diverte e me provoca, mas em nenhum momento me deixa angustiado. Só tenho uma dorzinha no ombro que deve ser do desgaste natural das peças (risos).

Antonio Calloni Foto: Estevam Avellar
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.