Quando a delegação brasileira iniciar sua apresentação pelas ruas de Paris e no Rio Sena nesta sexta-feira, durante a cerimônia de abertura oficial dos Jogos Olímpicos, a tocha da polêmica será acesa mais uma vez: o uniforme do time Brasil é feio? É simples demais? Inadequado?
Os uniformes que os atletas brasileiros usarão no desfile são compostos por uma camisa listrada nas cores verde e branco ou amarelo e branco e, por cima, uma jaqueta jeans que carrega nas costas um bordado com desenhos que remetem à fauna e flora do Brasil. Animais como onças, araras e tucanos são representados nas artes.
Os trajes foram confeccionados pela Riachuelo. Os desenhos foram bordados por um grupo de mulheres costureiras do Rio Grande do Norte, em uma ação feita em parceria com o COB.
O uniforme sofreu críticas do público e de artistas como Anitta - que no Instagram escreveu que “O look representa exatamente como o atleta é tratado no País. Sem estrutura, sem oportunidades, desvalorizado”.
A coluna Direto da Fonte convidou alguns estilistas para repensarem esse uniforme. Sem criticar diretamente os trajes criados para os Jogos Olímpicos, estilistas como Amir Slama, Alexandre Herchcovitch e Rodrigo Ribeiro falaram sobre como seriam suas versões para esses uniformes.
Amir Slama, criador da marca Rosa Chá e que hoje dirige uma marca com o seu nome, desenhou croquis para apresentar sua visão para os uniformes:
“Pensei em uma brasilidade contemporânea e moderna. Tentei traduzir uma coisa mais casual, partindo do esporte, sem ficar rígido, mas preservando os cortes modernos, os cortes arquitetônicos. Temos uma estampa estilizada de um azul mais marinho, um verde escuro, mas sem ser caricato. O Brasil tem essa coisa artesanal, mas é sofisticado no designer, no mobiliário, na arquitetura, na moda... Eu quis representar essa sofisticação também”, disse Slama.
Em 2004, o estilista Alexandre Herchcovitch desenhou os uniformes de performance da equipe brasileira para as Olimpíadas de Atenas. Na ocasião, ele utilizou materiais tecnológicos para melhorar a ventilação e o desempenho dos atletas, incorporando também elementos do design brasileiro. “Foi um desafio emocionante equilibrar funcionalidade e estética, e ver os atletas competindo com meus designs foi um momento de imenso orgulho”, disse.
Convidado a imaginar um uniforme para a abertura das Olimpíadas do Brasil, ele afirma: “É essencial valorizar diversos aspectos que refletem a identidade e a riqueza cultural do País. Elementos culturais são igualmente importantes. Incorporar padrões e motivos que remetem à cultura brasileira, traria autenticidade e um sentido de pertencimento”.
“Além disso, a sustentabilidade deve ser uma prioridade. Utilizar materiais ecológicos e sustentáveis demonstra o compromisso do Brasil com a preservação ambiental e com um futuro mais verde. Conforto e funcionalidade são cruciais para garantir que os atletas se sintam bem e possam se movimentar livremente”, comentou Herchcovitch.
Por fim, o estilista afirma: “Celebrar a diversidade é fundamental, refletindo a rica mistura de influências étnicas e culturais que compõem a identidade brasileira. Elementos de modernidade também são importantes para mostrar um Brasil contemporâneo e inovador. Isso pode ser feito através da incorporação de tecnologias modernas no design e nos materiais. Esse equilíbrio entre tradição e inovação, sustentabilidade e funcionalidade cria um uniforme que representa o Brasil de forma autêntica”.
Mesmo sem desenhar um croqui, o estilista Rodrigo Ribeiro, fundador e atual consultor da marca Foxton, que desenvolveu os looks da comissão técnica do Fluminense para o Mundial de Clubes, detalhou aquilo que ele imaginou ser um uniforme ideal para o time Brasil:
Masculino :
- 1. Blazer
- - Material : Linho 100% natural.
- - Corte : Slim fit com um toque sofisticado, de dois botões, lapelas finas
- .- Cor: Tons de bege ou areia.
- - Detalhes: Bordados discretos em tons de verde e amarelo nos punhos e na parte interna do colarinho, representando folhas e flores tropicais típicas brasileiras.
2. Camisa
- - Material:: Linho leve 100 % natural e respirável.
- - Corte:: Clássico com vista virada e ajuste moderno ( gola e manga ).
- - Cor: Branco ou marfim.
- - Detalhes: Pequeno bordado na altura do peito com o logotipo da delegação e detalhes tropicais nas mangas.
3- Calça:
- - Material: Linho.
- - Corte: Ajustado, reto
- - Cor: Bege ou marrom claro.
- - Detalhes: Dobra na bainha para um toque descontraído.
4.- Acessórios:
- - Chapéu: : Chapéu de palha bem fechada tradicional brasileiro com faixa verde e amarela.
- - Calçado Mocassins de couro com detalhes em ráfia ou fibras naturais.
- - Cinto: De couro trançado, em tom natural.
Feminino:
1- Blazer
- Material:: Linho 100% natural.
- - Corte: Tailored fit com um toque elegante, acinturado, de um botão.
- - Cor: Tons de bege claro ou areia.
- - Detalhes: Bordados discretos em tons de verde e amarelo nos punhos e gola, representando a flora tropical brasileira.
2- Blusa
- - Material: Linho 100% leve.
- - Corte:: Fluido com mangas 3/4.
- - Cor: Branco ou marfim.
- - Detalhes:: Bordados delicados no decote e nas mangas, inspirados na fauna e flora tropical brasileiras.
3.- Saia ou Calça
- - Material: Linho 100% Natural.
- - Corte Saia: Midi, evasê.
- - Corte Calça:: Pantalona, ajustada na cintura.
- - Cor: Tons de bege ou marrom claro.
- - Detalhes: Bordados discretos na barra da saia ou calça.
4.- Acessórios
- - Chapéu:: Chapéu de palha bem fechados estilo panamá com faixa verde e amarela.
- - Calçado:: Sandálias de couro com detalhes em ráfia ou fibras naturais.
- - Cinto: De couro trançado, em tom natural.
- - Bolsa: Clutch de palha trançada para complementar o look.
De acordo com Ribeiro “todos os bordados devem ser feitos artesanalmente por artesãos locais, destacando a cultura e a biodiversidade brasileira”. Além disso, o uniforme deve “priorizar tons neutros e naturais, como bege, areia, branco e marfim, com toques de verde e amarelo para representar o Brasil”.
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