O povo Inuit vive no noroeste da Groenlândia. Seus caçadores fazem buraco no gelo para pescar peixes. Hoje a distância até a água é de apenas um metro, sendo que já foi de dois metros de profundidade. A cena está na série documental ‘3x Ártico – O Alerta do Gelo’, que estreia na quinta-feira, 4, no Globoplay. Os três episódios revelam o aquecimento global a partir da perspectiva dos indígenas. Os efeitos da mudança climática pioraram em comparação com os anos de 1995 e 2007, quando Ernesto Paglia esteve lá pelo Globo Repórter.
O jornalista voltou à aldeia Qaanaaq em abril deste ano para mostrar a velocidade das mudanças. Desta vez, a expedição até o mar em um trenó puxado por cães durou apenas um dia, na segunda viagem foram três dias para percorrer o mesmo trajeto e na primeira em 1995, dez dias.
É necessário tomar precauções devido aos 300 quilos do trenó em pontos em que a camada de gelo se torna mais fina e pode não suportar seu peso. Uma queda na água salgada abaixo de zero grau pode ser fatal. O documentarista relata que na beirada onde o gelo termina e o mar começa, há uma explosão de vida, com a presença de plânctons.
A equipe, formada também pelo o cinegrafista Marco Antônio Gonçalves e o guia canadense Jim Allan, observou o quão rápido o degelo está ocorrendo e como essas mudanças afetam a vida dos indígenas, que não conseguem mais realizar suas expedições anuais. Agora, o ponto de degelo está apenas a 60 km da vila deles. Embora isso possa parecer uma vantagem em termos de caça, Paglia ressalta: “É na verdade uma constatação de que eles estão profundamente afetados pela mudança climática que chegou lá três vezes mais depressa do que aqui. E isso está numa progressão que daqui a pouco eles não vão ter mais onde se apoiar e é uma cultura toda baseada no gelo”.
O jornalista acredita que os Inuits serão capazes de se adaptar, já que são um povo que está lá há 1200 anos. No entanto, a adaptação que precisam enfrentar agora é urgente. Ele também os considera sentinelas da mudança climática, observando antecipadamente os efeitos que afetarão a todos nós.
Na série, Paulo Artaxo, professor de Física da USP, aponta as mudanças no modo de vida dos Inuits e analisa o risco de extinção deles. O impacto também atinge várias regiões ao longo da costa brasileira, com perda de pedaços de terra para o mar, como em praias no Nordeste, Olinda e Natal, com suas falésias sendo erodidas.
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