A generosidade não é uma qualidade tão fácil de se encontrar por aí – em nenhuma área da vida. Mas quando um artista transparece esse traço de personalidade, o que se vê é a comunhão perfeita entre ele e o público. O ator Marcelo Serrado já experimentou essa ‘graça’ algumas vezes em sua carreira, com o seu lendário personagem Crô (da novela Fina Estampa) ou durante a última temporada do musical Noviça Rebelde (quando era aplaudido em cena aberta). “Tenho um traço de generosidade muito grande na minha personalidade. Aí os personagens carregam isso”, disse Serrado.
O ator está prestes a estrelar o musical O Jovem Frankenstein; está no elenco de uma novela da HBO; vai transformar uma peça de sua autoria em série; participar de um projeto baseado em Cidade de Deus e muito mais. “Trabalho chama trabalho. Eu sou workaholic mesmo. Sempre fui. Não tenho problema com isso.”
No musical O Jovem Frankenstein você irá viver um papel que já foi Gene Wilder (Dr. Frederick) em um clássico do Mel Brooks. O que isso representa para um ator?
Esse filme marcou minha adolescência. Lembro de fazer sessões em casa para assistir O Jovem Frankenstein. Todo mundo que veio depois bebeu da fonte do Mel Brooks. Ele é o papa da comédia. Quis muito fazer o musical. Esse é um gênero que transita comigo há muito tempo. Minha relação com a música é forte. Vai ser intenso e divertido.
Você falou em diversão. O processo de preparação de um espetáculo precisa ser ‘divertido’ para funcionar?
Musical é uma estafa muito grande, mas eu tento me divertir. É quase um colégio interno. Eu tento me divertir e ter prazer. A vida já é tão complicada... Eu busco prazer no meu trabalho.
Tem uma característica nos seus trabalhos mais populares que é a generosidade com o público. Estou errado nesta percepção?
Tenho um traço de generosidade muito grande na minha personalidade. Me chamam de “produtor de elenco” – porque quero indicar todo mundo. Aí as personagens carregam isso.
Você é um ator mais do estudo ou da intuição?
Eu sou muito do estudo. Escrevo um livro do personagem. Escrevo sobre passado, presente e futuro dele. Porém, sou intuitivo também. Vou com aquilo que os atores me dão em cena. Procuro escutar o que o outro diz. Fernanda Montenegro é quem diz que o importante para um ator é a escuta.
Incomoda as pessoas ainda falarem do Crô com você (personagem da novela Fina Estampa que virou uma febre nacional)?
Não me incomoda. Fiz personagens muito díspares depois. Mas o público tem isso... O personagem deixou de ser meu. Lembra das pessoas no carnaval de Crô? Os memes do Crô? Estava gravando o Velho Chico (novela) no sertão de Sergipe. Passou um senhorzinho de charrete com o filho e falou: ‘não é Crô aí, não...”
Voltaria a interpretá-lo?
Não. Eu acho que Crô teve seu momento. Foram dois filmes depois da novela. Deixa ele descansar, dormir.
Você vai fazer uma novela na HBO, a Beleza Fatal. O streaming mudou muito a carreiro do ator?
O mundo mudou. A novela da HBO tem 40 capítulos. É um novo mundo. Precisamos estar abertos a ele. Tenho projeto na Globo, na Amazon...Me agrada ser plural. Estou exatamente onde eu gostaria de estar na minha carreira.
Qual o seu papel na trama?
Faço um cirurgião plástico. Ele é um vilão com mel na palavra. Cruel e divertido. O streaming está entrando neste mercado. Existem personagens que caem nas nossas mãos e que não podemos recusar.
O espetáculo Um Pai de Outro Mundo vai virar série?
A Talita Rebouças vai escrever para a TNT. Assim como a peça, a série é sobre a relação entre os pais e filhos. Uma visão meio Fleabag (série em que a personagem quebra a quarta parede e conversa com o público), um Fleabag masculino, um pai desconstruído vivenciando coisas como o primeiro namoro da filha...
Você ainda está na série baseada no filme Cidade de Deus, tem um espetáculo em que canta Frank Sinatra, série para estrear no Multishow e outros projetos. Como consegue?
Eu faço muita coisa. Muita. Mas a vida não escolhe. A vida vai trazendo coisas pra gente. O importante é ser feliz, ter saúde e levar a vida com leveza - com generosidade em relação a todos os caminhos. Trabalho chama trabalho. Eu sou workaholic. Sempre fui. Não tenho problema com isso.
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