Depois de 30 anos, Cássio Gabus Mendes vai voltar aos palcos. Em janeiro, ele estreia o espetáculo Uma Ideia Genial, no Teatro Procópio Ferreira. Trata-se de um vaudeville contemporâneo escrito por Sébastien Castro (e vencedor de dois prêmios Molière). O elenco conta com nomes de peso como Zezeh Barbosa, Ary França e Suzy Rego. A peça tem direção de Alexandre Reinecke e produção geral de Sandro Chaim. Nesta entrevista, ele fala da sua volta ao teatro e muito mais. Leia a seguir.
Por que tanto tempo longe dos palcos?
Eu tenho uma coisa que eu sempre quis preservar: minha vida pessoal e familiar. Eu sempre morei em São Paulo. Em 43 anos de trabalho, vivi neste bate-volta entre São Paulo e Rio de Janeiro. Mas nunca abri mão de ter esse espaço meu, com minha casa, minha família. Tive algumas oportunidades de voltar ao teatro, mas sempre coincidia com algum outro trabalho. Cinema, por exemplo, é algo que demanda menos tempo. Teatro tem ensaios, longas temporadas... Depois de um tempo, honestamente, pensei em não fazer esse tipo de sacrifício – porque eu não ficaria feliz com isso, isso não me faria bem. E no mais, eu ainda tinha o compromisso com a televisão.
Neste sentido, o fim do contrato com a Globo facilitou esse retorno aos palcos?
Isso eu já sabia que ia acontecer, essa mudança no modo de trabalhar na televisão, o fim dos contratos. E, de alguma forma, eu também estava precisando disso. Meu lado artístico sentia essa necessidade de voltar ao teatro. Eu estava um pouco desgastado com aquilo que era o compromisso com a ‘fábrica’ - porque TV é uma empresa e isso é um processo normal. Eu precisava sair, precisava me oxigenar, me exercitar de uma outra forma para encher minhas baterias.
Aí é que surge o espetáculo “Uma Ideia Genial”?
Sim, eu já estava fazendo umas leituras quando surgiu Uma ideia Genial. Foi um momento em que tudo deu certo. Foi um presente que veio no meu colo. Voltar com uma comédia, estilo vaudeville, me seduziu bastante. O elenco é formado por pessoas que gosto muito e com quem já trabalhei. Espero que a peça tenha vida longa.
A novela “Tieta”, que você participou, está sendo reprisada. Outra novela em que você atuou, “Vale Tudo”, passará por um remake. Acha que isso é um sinal de crise do formato?
Essas novelas eram muito boas. ‘Tieta’ era excepcional. Agora, se é uma crise... Talvez tenha alguma crise de inspiração. Talvez. Porque você começa a ver muito remake e as reprises fazem muito sucesso. Eu, honestamente, não sou muito a favor do remake. O que acontece é que, na maioria dos casos, pode ser uma inspiração na novela passada, mas elas seguem por outros caminhos, são atualizadas. Chega uma hora que você não pode mais considerar um remake.
O Brasil mudou muito desde “Vale Tudo”, não acha arriscado um remake agora?
Não sei se o Brasil mudou tanto assim. Não vou entrar neste mérito. Acho que os grandes sucessos tem como característica alguns conflitos, os personagens... Quando você mexe nisso pode ser perigoso porque você pode quebrar uma espinha dorsal. Eu não estou dizendo que isso vai acontecer. Pelo contrário, torço para que dê certo. Tem todos os ingredientes... O que acho complicado nos remakes é o seguinte: hoje você pode assistir, a qualquer momento, as versões originais. Mesmo você atingindo outra geração, você entrega de bandeja essa comparação.
Você se incomoda com o assédio do público?
A gente trabalha para o público. A gente não trabalha para o espelho. Então, você precisa ter uma responsabilidade em relação ao seu trabalho. Eu penso muito nisso, na responsabilidade que você tem com essas pessoas. Quando você faz uma novela, você tem que pensar em quem está assistindo. Isso é muito sério. Acho que quando uma pessoa vem falar comigo, ela precisa ser muito bem tratada. Trato bem, tiro foto, dou prioridade. E me faz um bem danado.
Você é casado há mais de 30 anos (com a atriz Lídia Brondi) e pouco se expõe, pouco se lê sobre você fora do trabalho...
Isso vem junto com meu processo de não abrir mão da minha vida pessoal. Nunca me interessou estar nos holofotes por conta disso. Eu também não sou muito festeiro. Tenho o cuidado de preservar certas coisas, sempre defendi esse lado. Mas entendo que exista uma curiosidade das pessoas sobre isso. Tem jornalistas, que são meus amigos, e perguntam coisas pra mim que eu já aviso: ‘não vou entrar em polêmica, isso não me interessa’.
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