Aos 51 anos, Fabio Assunção faz sucesso em “Todas as Flores”, primeira novela da Globo 100% voltada ao mercado de streaming. Com mais de 15 novelas no currículo, o veterano ator diz como é a sensação de estrear no novo formato. “No streaming as cenas vão ficar ali, eternizadas, já novela na TV aberta tem uma proximidade maior do público”.
Para o ano que vem, Fabio se prepara para estrear uma peça de teatro ao lado de seu primogênito, João, de 19 anos. “A história do livro A Morte do Pai, do norueguês Karl Ove vai servir de plataforma pra falar sobre a nossa relação de pai e filho. Será uma mistura de dramaturgia com experiências pessoais”, adiantou o ator em entrevista por videoconferência à repórter Sofia Patsch.
Mais afinado com sua essência, Fabio afirma que depois dos 50 anos conseguiu alinhar seu lado emocional ao espiritual. “Foi um processo de amadurecimento, de sensibilidade, um processo de cura que estamos sempre vivendo. A gente tá sempre vivendo uma possibilidade de curar alguma coisa, quem não precisa de cura, precisa se olhar melhor”. Confira entrevista a seguir:
Sua personagem em “Todas as Flores” está sendo muito elogiada. É sua primeira novela gravada totalmente para o streaming. Como está sendo a experiência?
A sensação que tenho é que as cenas vão ficar ali eternizadas, disponíveis, daqui há anos as pessoas ainda vão ter acesso, já novela na TV aberta tem uma proximidade maior do público, mas não fica eternizada. Foi a mesma diferença que senti da TV aberta pro cinema. E na TV aberta, a novela tem um certo paralelismo, nesse sentido, com o teatro. No teatro você apresenta uma obra e tem a possibilidade de ir aperfeiçoando.
É ir afinando a personagem, não é?
É um processo, no teatro não existe estrear com a peça pronta, pelo contrário, a estreia é só o começo de um movimento que você vai fazer por meses, já cheguei a ficar dois anos em cartaz, então vai estar sempre em movimento, não tem como não.
Ano que vem vai estrear uma peça de teatro ao lado do seu filho mais velho, João. Como nasceu o projeto?
Olha, o projeto que tenho com o João nasce primeiro de um exercício de paternidade muito especial. Encontrei um livro chamado A Morte do Pai, do norueguês Karl Ove e vamos usar a história como uma plataforma pra falar sobre a nossa relação de pai e filho. Vai ser um primeiro trabalho do João no teatro, uma mistura de dramaturgia com experiências pessoais. E queremos documentar todo o processo de ensaio, para quem sabe, se tivermos um material consistente, transformar num produto audiovisual.
O João está seguindo seus passos como ator?
Quando o João tinha 11 anos fizemos um filme juntos, o Belmonte, Entre Idas e Vindas. O João sempre me acompanhou em praticamente todos os sets que participei, todos os projetos que fiz na vida, sempre levei ele para ver. No teatro, quando fiz a peça do Woody Allen, Adultérios, ele ia todo dia, passava o texto junto com a gente e adorava. Então, acho que tudo isso levou ele pra um lado de ator. Ele está fazendo faculdade de Relações Internacionais, mas o ano dele foi de testes, testes e testes e participou de duas séries.
Você deu uma guinada em sua vida depois dos 50 anos. Se casou de novo, foi pai pela terceira vez, perdeu 28 quilos. Pode dividir um pouco desse processo?
Tive grandes desafios na vida. Quando comecei a fazer televisão, morava em São Paulo com meus pais e irmãos e fui pro Rio sozinho fazer novela. Fazer a primeira peça de teatro depois de já ter feito novela também foi um grande desafio. Os desafios fazem parte do meu caminho. Acho que a maturidade veio de uma maneira muito forte, juntando o meu emocional ao meu espiritual, acho que tudo se alinhou.
Se reconectou ...
A perda de peso estava diretamente ligada à composição de uma personagem. Com a pandemia, a perda de peso me trouxe bem-estar, esse bem-estar me trouxe espiritualidade, conexão com a natureza, com a vida, num momento de muitas notícias ruins, muitas mortes... Então, veio também essa conexão de estar presente, de estar ativo na vida, atuante, conectado. O meu emocional foi entrando também nesse eixo, então veio todo um processo de pacificação com pessoas que passaram pela minha vida. Foi um processo de amadurecimento, de sensibilidade, um processo de cura que estamos sempre vivendo. A gente tá sempre vivendo uma possibilidade de curar alguma coisa, quem não precisa de cura, precisa se olhar melhor.
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