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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Skatista Cego’ explica a técnica da bengala e os desafios do esporte

Fernando Araújo, conhecido como ‘Skatista Cego’, é integrante do time de Bob Burnquist dedicado à diversidade; Araújo sonha em participar dos Jogos Paralímpicos e é tema de documentário do canal OFF

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Foto do author Paula Bonelli
Atualização:

Com auxílio de uma bengala, o deficiente visual Fernando Araújo, conhecido como Nando ou Skatista Cego, faz reconhecimento de pistas de skate e executa manobras impressionantes. O método foi desenvolvido por seu treinador, Léo Scott, e adaptado por Araújo, sendo praticado no Centro Olímpico do Rio.

O skatista profissional, que faz parte do time de diversidade de Bob Burnquist, é tema do documentário “Skate no Escuro” e já participou do STU, maior campeonato do País. O filme foi exibido no programa Off Docs, do canal Off. A seguir, a conversa com Araújo sobre os desafios de tornar o skate um esporte mais acessível.

Fernando Araújo Foto: Sergio Klavin

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Como é o método da bengala no skate?

Antes de cada campeonato ou quando chegamos em uma pista nova, eu e o Léo fazemos um reconhecimento do local bem detalhado. Tem que ter uma atenção maior por causa dos obstáculos. Ele narra tudo o que tem na pista, enquanto eu passo a mão em cada obstáculo. Depois, pego o meu skate e a bengala. Faço o trajeto com skate, batendo a bengala, o que me permite perceber a distância que o skate está em relação aos obstáculos e a altura deles, que consigo avaliar com a mão. Eu memorizo tudo e faço um mapa mental. O método ajudará outros deficientes visuais a andarem de skate com mais segurança.

O skate é um esporte democrático?

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Os skatistas são muito unidos e ajudam as pessoas com deficiência (PCDs) a terem acesso e conhecerem o esporte. Por outro lado, é uma modalidade cara, pois o skate mais barato custa R$ 300, além dos equipamentos de segurança. A maioria dos deficientes visuais vive com um salário mínimo. Para eles, comprar um skate e equipamentos de segurança pode ser um pouco pesado, mas hoje em dia, com os projetos sociais, é possível ter o primeiro contato com o esporte.

O que acha das Paralimpíadas?

Eu tenho o sonho de participar, mas está um pouco distante, pois precisa haver 30 países representando o skate, e ainda não temos esse número.

Como descobriu a prancha de quatro rodas?

Quando eu tinha cinco anos, meu irmão me deu um skate de presente, e eu fiquei brincando. Naquela época, eu possuía apenas 50% da visão e não fazia manobras. Há 8 anos, decidi andar de skate para aprender manobras e participar de campeonatos, ajudando a combater o preconceito e incentivar os deficientes visuais a entrarem para o esporte. Tive uma inflamação na córnea e, atualmente, consigo enxergar apenas 5 cm na frente do meu rosto com detalhes.

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Teve medo de se machucar?

Nunca me machuquei seriamente no skate; a vontade de andar é maior que o medo. Eu assistia a alguns vídeos do Bob Burnquist na megarampa, não só dele, mas também do Mineirinho, e tinha essa vontade.

O que sentiu com as medalhas da Rayssa Leal e do Augusto Akio, o Japinha, na Olimpíada?

Rayssa representou muito bem e deu um rolê absurdo, mas o nível da competição estava muito alto. Este ano, o skate na Olimpíada foi bastante técnico. A galera do Street Park, como o Japinha, o Pedro Barros e o Luigi Cini, andou bastante. Meu coração ficou na mão.

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