Mesmo com a bagagem de mais de 30 anos só de televisão, Eliane Giardini diz gostar de trabalhar com “uma galera mais jovem”. Segundo ela, “eles trazem o futuro para dentro da vida da gente”. Nesta entrevista, Eliane fala sobre sua personagem em Mania de Você, etarismo e a presença dos influencers nas novelas. Leia a seguir:
Fale sobre sua personagem em Mania de Você?
É sempre difícil falar assim no começo da novela. Nós temos poucos capítulos e a novela é uma coisa que muda muito no decorrer do tempo. Mas o que eu tenho de cara é que a Berta é uma pessoa bastante equilibrada, uma mulher muito rica e de berço. Quer dizer, ela não tem essa ganância ou essa vontade que outros personagens da novela têm de ganhar mais. Ela vive em uma bolha onde o sarrafo econômico é bastante alto. Ela vive muito bem até que as coisas viram muito rápido. O filho dela sofre um acidente de lancha e morre. Depois, Berta começa a ter uma certeza que foi algo encomendado, um assassinato. Ela fica em busca desse assassino para vingar a morte do filho.
A presença de influencers nas novelas te incomoda?
Não me incomodo com influencers no elenco das novelas. Eu acho que novela é o campo para isso. Quando comecei a fazer televisão, não eram as influenciadoras, mas a questão eram as modelos. Mais difícil do que você aparecer em um trabalho é você sustentar a posição que você conquistou. Os influencers, de tantos que entram, um ou dois têm talento real e persistem. A verdadeira prova é a prova do tempo.
Gosta de trabalhar com os mais jovens?
Adoro essa galera mais nova. Eles trazem coisas que eu nunca ouviu falar. Eles trazem o futuro para dentro da vida da gente. É uma maravilha isso. Lembro quando as minhas filhas começaram a ficar mocinhas. De repente, elas traziam um mundo para dentro de casa, novas músicas, novos cantores... Eu gosto muito de trabalhar com jovens. Com influencers não sei dizer, ainda não tive essa experiência, mas acho que posso curtir. Estou de boa com isso.
Aos 71 anos, os papéis ainda são interessantes? Sente o etarismo no trabalho?
A minha experiência não é convencional. Eu comecei a fazer televisão com 40 anos. Eu fazia teatro antes disso, então já comecei em uma idade um pouco mais avançada. Eu não passei por essa fase de começar os 18 anos na televisão e fazer mocinhas. O protagonismo mesmo é dos jovens, sempre foi. Isso porque são histórias de amor e tal. E as pessoas acham que só os jovens amam. Mas enfim...
Deve ser mais difícil para outras atrizes...
Acho que quem começou fazendo mocinhas em novela e chega na minha idade pode sentir mais esse downgrade. Você sai dos grandes papéis para algo mais coadjuvante. Eu já comecei nesse lugar. Então, não sinto muito essa diferença - e também procuro não pensar nisso. Eu quero saber é da qualidade do personagem que eu estou fazendo, entendeu?
Como você lida com a curiosidade sobre sua vida pessoal? Aliás, está namorando no momento?
Eu não estou namorando, pronto. Olha, eu lembro que teve uma época em que namorei um rapaz muito mais jovem do que eu. Nossa Senhora! O que ouvi de barbaridade! Tanto que eu nem entro mais em rede social essas coisas. Meu perfil tá abandonado, coitado... Eu não gosto de abrir minha vida pessoal.
Você já cogitou aposentadoria?
Eu não me vejo me aposentando tão rápido. Eu vou até onde conseguir. Gosto muito e me divirto fazendo o que eu faço. Meu trabalho me mantém viva, me dá sentido. Não me vejo parando de jeito nenhum. Talvez, quem sabe, desacelerando um pouco mais pra frente.
Que conselho você daria para uma jovem atriz?
Diria para fazer uma escola de teatro. Acho fundamental. Acho que uma formação leva o tempo do amadurecimento, o tempo para você saber se é isso mesmo que você quer. O tempo para você se exercitar. Acho importante esse tempo para que você não se exponha desnecessariamente. É melhor do que você se expor no primeiro trabalho e quebrar a cara. Aprender no ar é cruel demais.
Você é saudosista?
Deus me livre! Eu tenho horror de saudosismo, de imaginar que o passado foi muito melhor do que aquilo que o futuro ainda pode me reservar. Eu prezo as minhas memórias e as coisas que vivi... mas sou uma pessoa completamente aberta para o futuro, cheia de esperança para tudo o que ainda pode acontecer.
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