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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Não quero me aposentar do surf em decadência’, diz Pedro Scooby

Surfista de ondas grandes se prepara para disputar o Nazaré Big Wave Challenge, com ondas de cerca de 25 metros de altura

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Foto do author Marcela Paes

Antes de começar a entrevista, feita por videoconferência, Pedro Scooby avisa os filhos gêmeos Bem e Liz que vai estar ocupado. O surfista, que vive no Brasil, está em Cascais, onde eles vivem com a mãe, a atriz Luana Piovani. O resto da prole, Dom e Aurora, estão no Rio.

O surfista Pedro Scooby Foto: Gustavo Bordallo

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Portugal, ou mais precisamente, Nazaré, é o lugar onde Scooby costuma estar nesta época do ano. Ele e Lucas Chumbo são a atual dupla campeã do principal campeonato de ondas grandes do mundo, que ocorre justamente na cidadezinha portuguesa. É lá que os dois se preparam para enfrentar ondas de cerca de 25 metros de altura. Sem data marcada, os atletas que competem no Nazaré Big Wave Challenge são chamados para o dia da competição 72 horas antes, dependendo da condição das ondas – que precisam estar monstruosas para que a disputa aconteça.

“Antes, o surf de onda gigante era muito mais ‘roots’ do que agora, era mais coragem. Tanto que eu tenho uma tatuagem na coxa em que está escrito ‘coragem e pulmão garantem a diversão, calma e paciência garantem a sobrevivência’, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista:

Como você começou o surf de ondas grandes?

Foi de uma forma até engraçada. Não foi em um mar igual Nazaré, claro. E eu estava em Puerto Escondido, no México, voltando de uma lesão de uma viagem de surf com a Nike. Entrou um swell (fenômeno meteorológico capaz de gerar grandes ondas), o maior do ano, e eu fiquei assistindo os melhores do mundo pegarem onda durante umas três horas. Até que virei para o chefe da equipe e falei que estava com vontade de entrar, que me sentia confortável. Aí eu fui, entrei no mar e, cara, peguei a melhor onda do dia. Concorri a vários prêmios, tive um destaque muito grande no surf de onda gigante. Depois disso o Carlos Burle (surfista de ondas grandes) me chamou pra treinar com ele.

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O que faz uma pessoa querer surfar ondas desse tamanho? O risco é grande.

Estou com 36 anos, sou de uma geração anterior. Antes o surf de onda gigante era muito mais ‘roots’ do que agora, era mais coragem. Tanto que eu tenho até uma tatuagem na coxa que diz ‘coragem e pulmão garantem a diversão, calma e paciência garantem a sobrevivência’. Sou um cara viciado em adrenalina, tenho plena consciência disso, mas hoje em dia o equipamento evoluiu muito, tem os coletes que você infla, a galera é muito mais preparada. Eu tenho vários jet-skis e a equipe de resgate, tenho um monte de coisa.

E o medo? Ele é positivo nessa situação?

Acho que o medo é o que faz você ficar vivo. Se você vai de louco, você morre. Acho que a questão é como você lida com o medo. O surf de onda gigante é cabeça. Falando de uma forma mais básica, ele é 50% psicológico, 50% físico. Claro que dentro disso tem o talento e tem o preparo. O que acontece hoje em Nazaré é que todo o equipamento acaba dando coragem para gente que, na verdade, não é tão corajosa assim. Muita gente que aparece em Nazaré em uma temporada, na seguinte já não vem.

Já tem uma data pensada para a aposentadoria do surfe de ondas grandes?

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Tenho, na minha cabeça, um plano de me aposentar com 40 anos. Eu cheguei a falar quando era mais novo que eu queria me aposentar com uns 37, mas minha carreira só tem crescido e eu tenho só melhorado o meu desempenho nas ondas gigantes. Acredito que pelo menos pelos próximos três anos eu garanto essa qualidade. Não quero me aposentar em decadência. Quero ter tempo para ficar com os meus filhos.

Nas Olimpíadas você fez entrevistas para a Cazé TV. É algo em que você pensa em investir profissionalmente depois que parar de surfar?

Cara, eu gosto de me arriscar em coisas novas. Eu não sei te dizer se eu gostaria de seguir carreira como apresentador. Eu me joguei, amei a experiência, mas eu estou querendo viver ela agora, enquanto eu tenho tempo, enquanto eu estou surfando. Acho que se aposentar de fato é se aposentar. Quero poder investir em projetos legais, como o Mamba Water Project. Eu sou sócio de uma marca de água com embalagem sustentável toda feita em alumínio reciclável e super alcalina. E nós temos um projeto que se chama Mamba Project, em que levamos água para os lugares que não têm acesso à água potável.

Como você lida com a exposição da sua vida privada?

Cara, eu aprendi a lidar com isso. Sinceramente, hoje em dia isso não me afeta em nada. Em algum momento já deve ter me afetado. Aprendi assim, de tanta porrada que eu tomei. Tem muita coisa que sai que não é verdade. O que é doido é que as pessoas às vezes começam a te observar e te conhecem por algo negativo, mas se você for um cara verdadeiro, as pessoas acabam enxergando isso e te compreendendo.

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A paternidade mudou alguma coisa em você como pessoa?

Cara, eu acho que mudou sim. Ajudou com que eu me tornasse mais focado. Eu tive o Dom muito novo, com 22 anos. Olhando pra trás, eu vejo que fui crescendo, amadurecendo e evoluindo junto com os meus filhos. Eu não tive estabilidade e criei responsabilidade para só depois ter o filho. Simplesmente, a Luana engravidou e eu fui aprendendo tudo. Mas sempre fui dedicado, todo mundo que participa e participou da minha vida no privado sabe o quanto eu me dedico aos meus filhos.

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