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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘O Macron fez uma bela besteira. A decisão dele foi péssima’, diz Érick Jacquin

Para o chef, crise na França é “culpa dos franceses”, que estão acostumados a “ganhar tudo por nada”

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Foto do author Marcela Paes

Érick Jacquin às vezes fica confuso. Seria ele um apresentador, um chef ou um empresário? Também, após 30 anos vivendo no Brasil, se sente mais francês ou brasileiro? As perguntas não o impedem de continuar abraçando as funções, que, em sua maioria, são só prazer. Aos 60 anos de idade, em 2024 ele completou 45 anos de carreira como chef e 10 na apresentação do MasterChef Brasil. Mesmo morando no Brasil há tanto tempo, ele não deixa de acompanhar o que acontece em seu país natal.

“O que acontece na França é culpa dos franceses. Hoje é um país muito difícil, ninguém quer trabalhar, estão muito acostumados a ganhar tudo por nada. Isso é errado”, diz à repórter Marcela Paes. Leia abaixo a entrevista:

Chef Érick Jacquin no restaurante Lvtetia, uma das seis casas de seu grupo Foto: Felipe Rau/Estad

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Você é dono de diversos restaurantes e também apresenta o MasterChef Brasil há 10 anos. Se sente mais empresário, apresentador ou chef?

Às vezes fico meio perdido. Não sei se sou o homem da televisão que vai para a cozinha ou se eu sou um cozinheiro que vai na televisão. Mas acho que os dois são maravilhosos. Não sinto que estou trabalhando em lugar nenhum. Empresário é por obrigação, mas, com parceiros, sócios. Hoje, como empresário, aprendi a obedecer. Isso é o mais importante.

Qual o seu grau de envolvimento na questão de administração dos restaurantes?

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Eu obedeço. Sou leigo. O maior sucesso do meu negócio é saber aplicar as regras. Sempre eu falo, o mais importante de um restaurante não é o camarão, não é o filé mignon, nem o vinho. O mais importante de um restaurante é o dinheiro que você tem no caixa, e com esse dinheiro você pode fazer tudo que você quiser. Mas se esse dinheiro é mal administrado, se esse dinheiro não é bem dividido para os lugares que precisa, entre impostos, mercadoria e pagamentos, o negócio não vai longe. Não vendo nem compro nada sem falar com meus sócios.

Você ainda se vê no MasterChef a longo prazo?

Hoje faço 10 anos de MasterChef. Eu gravo mais ou menos cinco meses por ano, de manhã até o final da tarde, todo dia. Agora, estou pensando em voltar com o Pesadelo na Cozinha. As pessoas me param na rua para perguntar sobre o Pesadelo na Cozinha. Meu tempo é bem dividido. Tento ir a um dos restaurantes todos os dias, na parte da noite. É bem corrido, mas não acho que é impossível fazer tudo. O mais importante é ter uma equipe competente, que tem essa atitude de responsabilidade para os negócios irem pra frente. As pessoas têm medo de trabalhar comigo, não sei o porquê (risos).

Por que será (risos)? As broncas que você dá no Pesadelo na Cozinha, por exemplo, ficaram famosas.

Sim. Tem o ‘você é a vergonha da profissão’, ‘vocês estão me ouvindo?’, ‘preste atenção que o patrão sou eu’, ‘quem mede esse negócio sou eu, você não vale nada’.

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É um personagem para a televisão ou você é assim na vida real também?

Não tenho personagem, sou 100% eu. É assim que eu falo. Antigamente, eu xingava, eu brigava e pegava processo trabalhista. Hoje eu xingo, brigo e a TV me paga. É impossível fazer um personagem. Sou desse jeito em casa, no trabalho, na TV e na rua. Quando não gosto eu falo, não tem jeito.

Você está há 30 anos no Brasil. Se sente mais brasileiro ou francês?

Difícil. Minha vida está no Brasil. Eu amo o Brasil, mas nasci na França. Minha cultura vem de lá e é difícil esquecer minha adolescência, minha educação, minha formação… Mas hoje acho que sou mais brasileiro Pra você ter uma ideia, outro dia eu estava em Paris, entrei dentro de um táxi e o taxista falou pra mim ‘você fala muito bem francês, onde você aprendeu?’ Nessa hora eu percebi que estava mais brasileiro do que francês.

Qual a principal diferença entre o cliente de restaurante na França e no Brasil?

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O brasileiro vai ao restaurante para se divertir, comemorar ou conhecer o lugar. O francês vai mais para criticar, pra dizer a verdade, se é bom ou se é ruim. A gente não sente essa alegria. Na França ninguém canta parabéns, todo mundo tem vergonha. Aqui todo mundo grita o parabéns (risos).

A França vive um momento político importante. Você está acompanhando?

Lógico. O problema lá é a abstenção, pessoas que não vão votar, porque na França não existe a obrigação de votar. Eu acho normal, ninguém pode obrigar ninguém a votar, mas a abstenção é forte e, às vezes, ajuda o sistema. Sou uma pessoa social-democrata, não sou de esquerda, não sou da extrema direita. Somos um país católico, igual ao Brasil, social e democrático. A república é a coisa mais importante. Agora, o que acontece na França é culpa dos franceses, não se pode esquecer isso. Hoje é um país muito difícil, ninguém quer trabalhar, estão muito acostumados a ganhar tudo por nada. Isso é errado.

Como assim?

Às vezes tem gente que não trabalha e ganha mais do que um aposentado que trabalhou durante 40 anos. Não é normal. A gente não pode parar de trabalhar com 60 anos. Antigamente a expectativa de vida estava a 70, 65, 68 anos, hoje é de 90. Como você vai ficar mais de 30 anos recebendo sem trabalhar? O que vai acontecer na França eu não sei, mas o Macron fez uma bela besteira. A decisão dele foi péssima. Convocar eleições perto da Olimpíada, no meio das férias, perto do Tour de France. Precisa pensar.

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