A empresária Juliana Ferraz fala de modo rápido e assertivo. Transita bem entre os artistas. Conquistou espaço no mercado de eventos e experiências. Passou do backstage, para a frente dos holofotes. Tornou-se influenciadora e uma voz do movimento corpo livre. Ju Ferraz chegou em São Paulo aos 24 anos, e hoje aos 42, reflete sobre suas inúmeras experiências profissionais e pessoais, com muitas pedras pelo caminho até se tornar sócia camarote N°1 na Sapucaí: ‘Ouvi várias vezes que não podia trabalhar com moda por ser uma pessoa gorda, que não podia consumir moda’.
Ela acaba de lançar o livro ‘Empreendedora da Própria Vida’ em que fala sobre burnout, liberdade financeira, lições de autoestima e autoconhecimento principalmente para mulheres.

No livro você conta que deixou seu filho, quando pequeno, em Salvador com sua mãe para vir trabalhar em São Paulo. Como foi essa transição?
Acabei de voltar do lançamento do livro em Salvador, e estava muito ansiosa, pois retornar é voltar às minhas origens, mas também às minhas dores, onde ocorreram algumas das maiores perdas da minha vida. Meu pai faleceu, perdi a estabilidade financeira da minha família e deixar meu filho com apenas três meses de vida, junto com minha mãe e minha madrinha, para que eu pudesse trabalhar foi uma sensação horrível de impotência e culpa.
Como você conseguiu seguir em frente?
Nos meus dias de medo, choro e solidão, eu acreditava em um futuro próspero. Se eu não fosse agente de transformação da minha vida e da vida dele, não poderia proporcionar as condições que ele merecia.
O livro é uma espécie de biografia?
Prefiro dizer que “Empreendedora da Própria Vida” é muito mais sobre meus aprendizados. A intenção de escrever esse livro era jogar luz nas minhas histórias e ajudar outras mulheres por todo o Brasil. Consegui chegar a lugares que nunca imaginei. Senti que tinha a obrigação de compartilhar essas experiências.
Como quem sofre gordofobia se sente?
Eu me senti excluída a vida toda. Ouvi que não poderia trabalhar com moda por ser gorda, que não podia consumir moda. Hoje, sou grata por ter liberdade financeira para entrar em uma loja e comprar o que quiser. Mesmo assim, ainda existem olhares enviesados porque sou apaixonada por moda, que para mim representa comportamento e expressão no mundo.
O que a sua história tem em comum com a de Preta Gil e Cleo que contribuíram com textos para o seu livro?
Quando eu tinha 15 anos na Bahia, não havia mulheres para me espelhar, especialmente aquelas gordinhas e fora do padrão que fossem bem-sucedidas e livres. Preta sempre foi essa mulher que me disse que eu poderia ir além. Cleo também passou por um profundo processo de autoconhecimento e amor-próprio para se reencontrar. A falta de amor por mim mesma me levou a aceitar maus-tratos profissionais e relações tóxicas por medo do abandono. Quando descubro quem sou, reconhecer minha força e minhas dificuldades é o que significa ser livre. Comecei a viver muito melhor.
Como começou sua compulsão alimentar?
Meu pai faleceu de forma trágica, atropelado na estrada, voltando da fazenda para Salvador. Fomos avisados pela polícia militar por telefone, mas o corpo foi gravado na televisão e saiu no jornal local. Naquela madrugada, 9 de novembro de 1996, recorri à comida para minimizar a dor; foi instintivo. Posso te dizer que ainda não estou curada da compulsão alimentar, e talvez nunca me cure, mas hoje tenho mais autocontrole e autoconhecimento. A comida sempre foi uma tábua de salvamento, um lugar seguro e confortável para mim, mas também uma prisão.
Qual é o desejo número 1 das suas seguidoras?
Elas realmente querem se libertar das amarras do julgamento alheio. Há diversos tipos de troca: mulheres que não sabem lidar com seu dinheiro, que são submissas a seus parceiros ou parceiras; que entram em relações abusivas no trabalho porque acham que essa é a única opção; e mulheres que têm medo de empreender, pensando que não são boas o suficiente.
É melhor seguir padrões existentes ou impor seu próprio estilo?
Meu discurso é sobre o movimento Corpo Livre, buscando que as pessoas se sintam bem em sua própria pele. Isso não significa exaltar a magreza ou a gordura. Minha preocupação é valorizar a autoestima, principalmente das mulheres, independentemente se vestem 42 ou 46. Estou muito mais interessada em saber se você está bem com sua saúde emocional e física.
Você também se tornou sócia do Camarote Número 1 na Sapucaí, como deu essa virada na vida?
Eu fui almoçar no restaurante do José Victor Oliva e o encontrei e disse que estava passando por aquele processo do burnout e que estava desempregada. E ele falou vem trabalhar comigo. Vem se curar primeiro. Eu passei dois anos como diretora de novos negócios da empresa dele. No 1º ano, eu só me curei, malhei, fiz terapia e trabalhei de uma de uma maneira muito humanizada e muito cuidadosa sem cobrança de metas. Antes da pandemia estourar ele me convidou para ser sócia dele e de mais seis pessoas, no Holding Clube, um dos maiores grupos de comunicação eventos e experiências do Brasil.
Os planos para o carnaval deste ano no Camarote n°1?
Inesquecível! Este ano a gente tem uma mudança nos desfiles do grupo de elite do carnaval carioca. Vão ser no domingo, segunda e terça, antes eram apenas dois dias. Agora as escolas de samba vão ter mais tempo para mostrar o seu trabalho e mais foliões para acompanhar e o camarote número está passando por uma uma reforma estrutural. Teremos muitos artistas e temos já algumas musas divulgadas como Malu Borges que é uma influenciadora de moda a rainha da geração z. A mensagem principal desse negócio é a valorização da cultura brasileira, a gente quer que o samba e o carnaval do Brasil como um grande protagonista.
