Fenômeno no segmento de literatura para adolescentes, há pouco tempo Thalita Rebouças se lançou em território desconhecido: escrever para um público mais maduro, mais precisamente, mulheres acima de 40 anos, categoria na qual a escritora está inserida. Assim, em 2024, ela lançou Felicidade inegociável e Outras Rimas, pela Harper Collins. Neste sábado 7, Thalita participa de conversa com a estreante Iana Villela no Salão de Ideias da Bienal do Livro de SP sobre a necessidade de questionar e desafiar as normas sociais impostas às mulheres, a importância do autoconhecimento e a busca por uma “felicidade inegociável”. Leia abaixo a entrevista:
A repercussão dos seus vídeos nas redes sociais foi um impulso para a escrita do livro, não? O feedback que os seguidores davam, além de perguntas e comentários, foram também material para a escolha dos temas que você aborda no livro?
Totalmente, os vídeos me impulsionaram a entender que podia dar certo. E eu fiquei muito feliz com isso. Todos os comentários todos me inspiraram. Alguém falava ‘ah, e a memória?’ e eu ia falar sobre o nevoeiro cerebral, ‘encontrar o amor é que é difícil?’, aí lá fui eu falar sobre encontrar o amor aos 45 do segundo tempo.
Na abertura do livro você traz uma reflexão que mostra certa insegurança ao mudar. Gostaria de que falasse mais sobre isso dentro da experiência como escritora. Você chegou a ter medo do livro não ser aceito?
Óbvio, eu morri, morri, morri de medo do livro não dar certo. Porque é tudo muito diferente, né? Já me disseram que a Fernanda Montenegro até hoje tem frio na barriga pra entrar no palco, sabe? A gente trabalha pro público e dá sempre aquela insegurança. Resolvi rimar, resolvi falar para um público mais velho. Insegurança foi o que eu realmente senti. Mas ao mesmo tempo, eu fiz o que eu falo para as pessoas fazerem: não terem medo de se jogar.
Como não cair no clichê ao falar de temas que são bastantes discutidos nas redes?
A minha escrita para as mulheres maduras pode soar bem clichê, mas é isso. E eu faço muito com coração. E o DNA da minha escrita é o humor, né? E a leveza. Mas eu acho que a rima, que é um dos formatos que eu uso no livro, já não é clichê. Além disso, eu acho que os clichês também não nascem à toa. Sou muito fã dos clichês. Sobre já serem assuntos muito falados, eu acho que a gente tem que falar cada vez mais, na verdade. Estamos preparando as gerações que vão vir para entender melhor o que vai acontecer com elas.
Qual texto ou poesia do livro você mais gostou de escrever e por quê?
O texto que eu mais gostei de escrever é o Eu Não Sou Mãe. Não só porque foi o primeiro que nasceu, como foi uma coisa com a qual eu lidei a minha vida inteira. Nas entrevistas, nos textos que escreviam sobre mim era aquela coisa: ‘Thalita Rebouças, que não tem filho, lança 20º livro’, ‘Thalita Rebouças, que não é mãe, é publicada em mais de não sei quantos países’, entendeu? Para muita gente a minha carreira vinha depois do fato de eu não ser mãe. Eu ouvi que nunca saberia o que é amor de verdade por não ser mãe, que não tinha lugar de fala para escrever para e sobre adolescentes e pré-adolescentes porque eu não tinha filhos. E eu sempre pensei, ‘meu Deus, mas eu preciso matar alguém pra escrever sobre assassinato?’ O Rafa Montes, por exemplo, é a coisa mais fofa dessa vida e ele escreve as coisas mais absurdas e sangrentas (risos).
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