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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

‘Sem a curadoria das gravadoras, a música se democratizou’, diz Luiz Calainho

Produtor e empresário no setor da economia criativa prepara edição do festival ‘Noites Cariocas’ para março de 2023

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Foto do author Gilberto Amendola
Atualização:

Um café coado pela manhã é o combustível do empresário e produtor cultural Luiz Calainho, 56 anos. Ele, que já foi vice-presidente da Sony Music, tem hoje casas de show (Blue Note), um teatro, uma produtora de musicais e muitas outras atividades no setor da economia criativa. No momento, está envolvido com os últimos detalhes do icônico festival Noites Cariocas, no Morro da Urca. “Em 2023, o Tim Music Noites Cariocas acontece de 24 de março até 15 de abril, com abertura de Gilberto Gil”, contou. Nesta conversa, além de falar dos seus projetos, Calainho fez reflexões sobre o mercado da música e também sobre os artistas insubstituíveis. A seguir:

Luiz Calainho  Foto: DENISE ANDRADE/ESTADAO CONTEUDO

Você não tem a sensação de que nada será como essa geração que está na casa dos 80 anos, com Caetano, Gil, Paulinho da Viola...

Do ponto de vista poético, eles são ícones únicos. Uma geração que privilegia a poesia, a profundidade e a conexão com questões sociais e políticas do nosso País.

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São insubstituíveis?

A palavra insubstituível é complicada. Mas, de fato, eles são. Como você vai substituir Caetano, Gil...? Sabe, as coisas não são boas ou ruins. Elas são feitas com determinado propósito. O fenômeno das redes sociais abriu ainda mais a possibilidade dos artistas se conectarem com o público. Antes, você tinha um limitador, que eram as gravadoras. Necessariamente, o artista tinha que passar por uma gravadora, era elas que tinham a capacidade econômica, as conexões com os grupos de comunicação... Sem a curadoria das gravadoras, a música se democratizou. Existe uma profusão de artistas, a coisa está mais diluída.

Ou seja, hoje é mais difícil emplacar um sucesso em território nacional. Por isso a impressão de que nada mais acontece na música...

Por exemplo, hoje em dia fazer um sucesso como o do Michael Jackson é impossível. Quando lançaram o clipe de Thriller, o Brasil inteiro parou para ver. Teve televisão e todos os jornais e rádios em cima. Uma máquina no País inteiro fez com que as pessoas assistissem e se envolvessem com o artista. Hoje, isso é impossível de ser feito. Tem uma diluição muito maior.

Ainda faz sentido lançar um álbum?

Lá atrás eu já antevia que o modelo do álbum, do estúdio, ia se esgotar. Hoje não é mais usual, os artistas lançam singles, EPs... Aquele álbum fechado, hermético, do artista que fica em estúdio e sai com 12, 14 faixas caiu por terra. Agora, o processo é mais rico. O artista produz ao longo do tempo. Ele não fica mais preso por dois anos em um trabalho que, às vezes, já não tem mais nada a ver com o que ele pensa. O processo atual é mais rico.

Como a morte da Gal Costa te impactou?

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Eu nasci frequentando o Canecão, o Teatro Casa Grande, o Municipal. Gal esteve em muitas das vezes em que eu fui nesses lugares. Gal também era uma das artistas prediletas da minha mãe. A morte dela foi um impacto imenso para mim. Voltamos ao assunto: a Gal é insubstituível. Um ícone que devemos celebrar sempre.

Você tem uma produtora de musicais. O Brasil já tem uma linguagem própria para além do que importamos da Broadway?

Completamente. A minha produtora, a Aventura Teatro, começou fazendo clássicos da Broadway, como Noviça Rebelde, Hair e Mágico de Oz. A gente foi aprendendo com aquela estrutura. Entendemos que precisávamos desenvolver uma linguagem brasileira. Então, fizemos o musical da Elis, do Chacrinha... Hoje, já existe uma linguagem de teatro brasileiro – e esse é um processo que só está começando.

Fale sobre a nova edição do ‘Noites Cariocas’?

Sempre gosto de lembrar que o ‘Noites’ foi uma criação do Nelson Motta nos anos 1980 – que eu frequentei desde os meus 16 anos. Nos anos 2000, quando o Nelsinho se mudou para NY, nós assumimos o festival. Tivemos uma primeira fase que foi de 2004 a 2011. Retomamos em 2021. Em 2023, nosso line-up tem Gilberto Gil, Alceu Valença, Nando Reis, Roupa Nova, Pabllo Vittar, Duda Beat e outros...

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No pós-pandemia o interesse das pessoas por grandes eventos aumentou?

Acho que a pandemia ampliou o interesse pelo mundo da economia criativa e da música. No processo de confinamento muitas pessoas descobriram na música e nas artes uma fonte para desestressar. Houve uma ampliação importante do público. E as empresas entenderam o quanto é importante a experiência presencial, as ativações e engajamento

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