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‘Só cheguei onde cheguei porque nunca tive medo de nada’, diz Miguel Falabella

Ator fala sobre saída da Globo e discute o mercado do streaming ao estrear musical de Cole Porter

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Foto do author Paula Bonelli

Quando a coluna entrou no camarim para uma entrevista individual com Miguel Falabella de dez minutos, o ator, que é protagonista do musical Kiss Me, Kate, clássico do Cole Porter, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, em São Paulo, se queixava que tomar Whey Protein não era bom para cantar e fazer as notas agudas porque ficava uma “sujeira” na voz.

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Aos 66 anos e em forma, ele encara o fazer teatral como futebol: “Precisa armar bem o time”. Falabella se vê como um ator que tem “muita noção de tempo em cena”.

Sem contrato fixo desde 2020 com a Rede Globo, onde fez séries, novelas e programas por 38 anos, enxerga com naturalidade as mudanças no mercado audiovisual: “Só cheguei onde cheguei porque nunca tive medo de nada. Sempre fui à luta”. Confira a seguir a entrevista concedida à repórter Paula Bonelli.

Miguel Falabella em 'Kiss Me, Kate'. Crédito: Priscilla Prade  Foto: DIV


Ensaiar para uma peça que dentro da história tem uma outra deve suscitar muitas experiências.

A premissa de Kiss Me, Kate é maravilhosa: dois grandes astros do teatro que já foram casados, os personagens Fred e Lili, se reencontram para fazer A Megera Domada. No clássico de Shakespeare, os dois protagonistas também brigam constantemente. É muito interessante. Canto músicas como Petrucchio e como Fred, com embocaduras e tessituras vocais diferentes. Está aí a dificuldade. O Cole Porter fez esse musical para grandes cantores, como Alfred Drake e Patrícia Morrison que estrelaram na Broadway em 1948.

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O que essa versão brasileira de Charles Möeller e Cláudio Botelho tem a ver com a americana?

Ela foi diminuída um pouco porque os tempos são outros, mas as músicas estão todas aí. A história é divertida, tem esses gângsters que acabam entrando em cena no espetáculo. São encenados pela Fafy Siqueira e Edgard Bustamante...uma farra. É todo mundo do ramo musical, isso faz uma diferença.

As músicas de Cole Porter podem encantar os jovens e adolescentes de hoje?

Se uma pessoa não se encantar com So In Love está com sérios problemas. Procuraria um psiquiatra. É um clássico que foi gravado por Ella Fitzgerald, Frank Sinatra, Lady Gaga. Todo mundo cantou e a versão do Cláudio Botelho é muito feliz.

Prefere o Falabella ator ou Falabella cantor?

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O cantor apenas, não existe. Sou um cantor no teatro musical, além de ator e um comediante basicamente. Tenho muita noção de tempo em cena. Trabalho isso com os meus alunos, quando dou aula. Teatro é igual futebol. Tem que armar bem o time. Precisa de um grande meio de campo. Tem que ter centroavante e gol. Comédia, principalmente, é como futebol de salão.

Como avalia a sua potência vocal neste trabalho?

Muito bem. Sou barítono. Eu tenho um grande professor que é o Juvenal de Moura. E essa peça não tem como enganar, meu amor, ou você canta as canções, ou não canta.

Saiu da Globo em 2020, como tem sido?

Maravilhoso. Fiquei quase 40 anos na TV Globo, onde fui tratado como um príncipe, lindamente. Saí com carinho, com respeito e não paro de trabalhar. Estou lançando uma série com a Monica Iozzi que se chama Novela, para Prime Video, que estreia dia 19. Vou filmar Querido Mundo, e fazer também um espetáculo sobre Martinho da Vila, Coração de Rei. Vou remontar A Partilha com elenco negro. Vou para Portugal com a Marisa Orth fazer um espetáculo.

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Ficou alguma mágoa na sua saída da Globo?

Mágoa de quê? Por quê?

Pela mudança do formato contrato, antes era fixo...

Não, nenhuma mágoa. Só tenho amigos lá. Fui dos poucos que fiz tudo aquilo que quis.

É um desafio, para o ator, o mercado das plataformas de streaming?

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É para quem é medroso. É desafio para quem não sabe encarar a vida. Só cheguei onde cheguei porque nunca tive medo de nada. Sempre fui à luta. Fiz tudo dentro da Globo: Toma Lá, Dá Cá, Sai de Baixo, Pé na Cova. Ah, e não fui o único que saiu da Globo. Foi todo mundo, houve uma renovação.

Queria discutir as mudanças no mercado audiovisual, o advento do streaming, a inteligência artificial, a remuneração dos atores de olho na greve de roteiristas e atores de Hollywood.

Eles obviamente são muito mais organizados do que nós. Devemos muito a Glória Pires, uma pessoa que vem lutando muito pelos direitos. Nós estamos nos organizando aos poucos e trabalhando. O streaming abriu um leque de opções.

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