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Cultura, comportamento, noite e gente em São Paulo

“Todo mundo tinha medo da Dercy Gonçalves”, diz Grace Gianoukas

Atriz vai viver a humorista no espetáculo ‘Nasci pra Ser Dercy’, com estreia no próximo dia 13

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Foto do author Gilberto Amendola
Atualização:

A entrevista com Grace Gianoukas quase não saiu porque a nossa ligação insistia em cair na caixa postal da atriz. Um pequeno imprevisto que a saudosa Dercy Gonçalves (1907 – 2008) teria resolvido “mandado tudo à m...”.

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Dito isso, e dificuldades tecnológicas superadas, a coluna conversou com a Grace sobre o espetáculo “Nasci pra Ser Dercy”, escrito e dirigido por Kiko Rieser, e que estreia no próximo dia 13, no teatro Itália Bandeirantes.

Na peça, Grace interpreta Vera, uma atriz que está fazendo um teste para o papel de Dercy Gonçalves em um filme. “São várias camadas de interpretação, tem a Vera, tem minha vivência de atriz, tem a Dercy Gonçalves e, principalmente, a Dolores Gonçalves Costa (nome real da Dercy)”, disse Grace. “Todo mundo tinha medo da Dercy porque ela dizia o que pensava. Não tinha nenhuma hipocrisia. Eu acho isso maravilhoso”, afirmou. A seguir, trechos deste bate-papo – ideal para ser lido entre um gole ou outro de café expresso, o preferido de Grace Confira a entrevista a seguir:

04/01/2023 EXCLUSIVO DIRETO DA FONTE - Grace Gianoukas em "Nasci Para Ser Dercy" Crédito: Heloísa Bortz Foto: Heloísa Bortz

Como nasceu a ideia de interpretar a Dercy?

Na verdade, o projeto não é meu. Ele é do Kiko Rieser, que começou esse trabalho à convite da Fafy Siqueira. Mas a Fafy decidiu não fazer. No meu caso, no processo de estudo sobre a vida de Dercy, descobri que posso vivê-la no teatro. Aliás, faço uma atriz (Vera) que vai viver a Dercy.

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E como é a sua Dercy?

Eu não sou uma imitadora, tenho horror de imitação. É muito difícil construir uma personagem que é uma figura pública. Eu não sou o (Marcelo) Adnet que vai lá e faz o Galvão Bueno. Eu nunca fiz isso. Conversando com Kiko, fui na minha linha de atriz, mergulhei na pesquisa – que é mais sobre a Dolores Gonçalves Costa, essa menina pobre que sai da cidade de Santa Maria Madalena, que era incompreendida... Fui procurando pontos de identificação comigo e, a partir daí, nasceu a minha Dercy.

O que te surpreendeu nesta pesquisa?

A Dercy pública a gente conhece. A Dercy das comédias, dos depoimentos bombásticos... Todo mundo tinha medo da Dercy porque ela dizia o que pensava. Ninguém calava a boca dessa mulher. Não tinha nenhuma hipocrisia. Ela sempre foi o que ela quis ser. Apesar de não concordar com muitas opiniões e posições da Dercy, é preciso reconhecer que ela era uma mulher à frente do seu tempo. Ela dizia, por exemplo, que não era feminista. Mas, ao mesmo tempo, ela teve muitas atitudes que abriram as portas para outras mulheres.

Isso sem levantar muitas bandeiras...

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Sem levantar bandeira nenhuma. Aliás, com uma única bandeira, a da liberdade. Ela lutava pela liberdade dela. Ninguém segurava a Dercy Gonçalves. Neste sentido, ela não estava ligada a nenhum movimento.

É possível dizer que ela revolucionou o humor?

Ela revolucionou milhões de coisas. Dercy foi empreendedora, produtora, escrevia... Ela trouxe o improviso para a comédia – que era uma caretice copiada de fora. Pelas pesquisas que fiz, sem dúvida nenhuma, foi a Dercy quem trouxe para a comédia o improviso e o palavrão. Com isso, ela influenciou todas as novas gerações de comédia. Ela popularizou uma forma de interpretar mais natural. Ela quebrou com o elitismo – e influenciou atores que vinham de escola mais clássica, como Tônia Carreiro, Paulo Autran e Marília Pêra.

Hoje, ela seria um estouro nas redes sociais, não é?

Ela é um estouro nas redes sociais. O que tem de meme e Tik Tok com coisas da Dercy é impressionante. Ela vai fornecer material para as redes sociais até o fim das redes sociais.

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Mas hoje seria cancelada...

Já havia cancelamento nesta época. A Liga das Senhoras Católicas e as patrulhas ideológicas sempre existiram.

Otimista com o Brasil deste 2023?

Foi impossível não se emocionar com o Raoni subindo a rampa ao lado de uma catadora, um deficiente, um metalúrgico... Isso alimenta nossas pequenas utopias e alegrias. Mas não sou ingênua, sei que não vai ser fácil e muito precisa ser feito. Mas só o fato de existir um Ministério da Cultura com uma pessoa que não é negacionista já é um alívio.

Já está com outros projetos em vista?

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Já estou ensaiando o espetáculo que estreia em março, uma comédia do argentino Juan José Campanella. Também tenho séries e programas de TV. Ansiosa pelo filme “O Clube das Mulheres de Negócios”, dirigido por Anna Muylaert e que deve estrear em 2024. Acho que esse é o trabalho da minha vida no cinema.

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