Zeca Camargo viaja há mais ou menos 45 anos. Ele já deu a volta ao mundo algumas vezes e acumula um punhado considerável de perrengues e sucessos em seus diários de viagem. Tudo isso é material para Passaporte, programa que estreou recentemente no novo canal fechado CNBC/Times Brasil. Na atração, Zeca une a experiência como viajante a ideias de como empreender no ramo do turismo. Leia abaixo a entrevista com o apresentador dada à repórter Marcela Paes.
Você tem uma experiência grande em viagens, mas nessa atração o enfoque é mais direcionado ao empreendedorismo no turismo. Como foi trazer isso?
Acho que tenho uma vocação de fazer as pessoas verem o turismo como negócio. O Brasil está léguas atrás do que poderia ser em termos de renda, de geração de emprego e de PIB. Eu quis mostrar que há um potencial de gerar capital, empregos e receita. Sobretudo, aumentar o número de pessoas que visitam o Brasil é fundamental. No bom sentido, é claro, ninguém quer que isso aqui se torne de repente uma Barcelona da vida e que as pessoas fiquem com raiva dos turistas.
Como atrair mais turistas estrangeiros para cá? Com incentivo governamental?
Mais do que o incentivo, é preciso a certeza de que o turismo é um negócio que dá dinheiro. O meu maior exemplo é sempre a Tailândia. A Tailândia leva o turismo super a sério, é uma porcentagem do PIB super importante. Lá, além do investimento há uma proteção. Não necessariamente precisa ser com investimento, mas sim com uma abertura, com a boa vontade, e boa-fé de que isso pode sim ser gerador de receita, de impostos e de empregos. Da minha experiência de viajar bastante para lugares que em teoria não seriam talvez tão atrativos, eu também percebi que primeiro há investimento em turismo de luxo e por efeito cascata, ou imitação, acaba trazendo outras faixas de turistas para um determinado destino.
Muita gente diz que o Instagram acabou popularizando destinos, mas também levou a uma forma de turismo predatória em que muita gente está lá só pata ter uma foto bonita em seu feed.
Não tenho nenhum problema com isso, tudo é turismo. Se a pessoa sai de casa com uma mochila pra fazer selfie, ótimo, ela está fazendo turismo também. Eu tenho a maior antipatia de alguém falar ‘ai, não gosto de viajar assim’. Se você não gosta de viajar assim, pague um pouco mais e faça o seu turismo exclusivo. Eu posso até lamentar, culturalmente, claro. Há alguns anos atrás eu fui para Firenze e fiquei um pouco chocado que as pessoas iam ver o Davi, de Michelangelo, para fazer uma selfie engraçadinha.
Mas isso faz a máquina girar.
Claro. Se você saiu de casa e quis gastar o seu dinheiro pra fazer isso, tá ótimo. O hotel está cheio, as cantinas estão cheias, o museu está sendo visitado. Não estou aqui para julgar a relação desse turista com a experiência.
Pessoalmente, você que viaja muito, não fica irritado quando quer ir a algum lugar e está completamente lotado?
Fico, mas ao mesmo tempo penso ‘então não sai de casa’. Recentemente eu estive em Veneza para ver a Bienal. Eu nunca tinha ido a uma Bienal lá e resolvi ir por ser o ano de um curador brasileiro, o Adriano Pedrosa. As ruas entupidas de gente, mais de uma hora de fila para ver o pavilhão vencedor, que eu acabei não indo justamente por isso…Aí você tem que colocar na balança. Mesmo com todos esses perrengues, vale a pena ir viajar? Eu sempre vou dizer que vale. Não tem experiência ruim. No meu caso, são mais de 45 anos viajando pelo mundo todo. E eu já tive todo tipo de experiência, desde tomar um dry martini na garupa de uma moto no Camboja a andar numa rua lotada em Veneza e encarar uma fila gigante para comprar um pedaço de pizza.
Para quem viaja pouco acho que isso, o perrengue, tem ainda menos importância.
Sim, ele realmente não tá ligando pra esse perrengue. O sonho da pessoa é conhecer Paris e quando ela chega lá pela primeira vez, não vai ligar se tem fila na torre Eiffel, se está chovendo…
Você tem uma carreira longeva na televisão. Como enxerga o meio atualmente?
Sim, são 34 anos exatamente. Eu vejo a televisão bastante perdida, mas isso não é uma coisa ruim. Eu saí do Fantástico há 11 anos e desde aquela época já nos perguntávamos o que seria do programa no futuro. Quando eu digo perdido, não significa num mato sem cachorro, mas significa procurar respostas ali. Hoje a televisão não sobrevive por si só, ela precisa da rede social. Eu sou otimista, acho que a televisão careta já acabou. A Maju Coutinho acaba de fazer uma série maravilhosa sobre a África para o Fantástico, que repercutiu muito nas redes. Essas coisas andam juntas.
Recentemente você viralizou no X (antigo Twitter) por ter dançado animadamente enquanto era DJ de uma festa. Acha que isso chama a atenção porque as pessoas se acostumaram a vê-lo em uma postura mais formal, de apresentador?
Total. A maioria eram pessoas surpresas. Obviamente alguma coisa negativa é inevitável, mas esse nunca é meu foco. Eu viralizei também por ter feito uma resenha do disco Brat, da Charli XCX. Foi maravilhoso, porque metade das pessoas falava, ‘quem é esse velho que não entende de música?’ A outra metade fala assim, ‘tá maluco, ele já entrevistou todo mundo’. Tinha comentários assim ‘Zeca, eu queria que você fosse meu pai’ (risos). O negócio da festa também é super bacana. Tem um pouco a ver com uma enorme liberdade minha. É a primeira vez em muitos anos que eu não estou na TV aberta. Se eu quero sair tocando uma noite na festa, beleza. Não estou preocupado com nada, eu quero que as pessoas dancem
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