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Hanson volta ao Brasil com crítica a streaming após polêmicas envolvendo armas, racismo e covid

Trio fenômeno dos anos 1990 diz que plataformas digitais fizeram as pessoas mudarem forma de valorizar a música; irmãos tiveram de responder a cobrança de fãs por posicionamentos em temas sociais delicados

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colunista convidado
Foto do author Simião Castro
Atualização:

Sobreviver e seguir relevante na era do streaming já não é fácil. Nem para os nativos digitais. Quanto mais para quem fez sucesso nos anos 1990 e com um público bastante específico. Pode não parecer, mas a banda Hanson nunca parou de tocar.

Lembra deles? Os três adoráveis irmãos de vozes agudas que estouraram com um refrão sem letra. Ou, ao menos, com versos dignos de Torre de Babel, engrolando ‘mmmbop, ba duba dop, ba du bop, oh yeah’. Eles foram o marco de uma geração, mas cresceram.

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Agora, já beiram a meia idade. E juntos têm uma legião de 15 filhos. Os loiros do centro-sul americano lançaram este ano um novo álbum e se viram para se adaptar aos novos tempos do streaming. Isaac Hanson chega a dizer que o modo moderno de consumir música afetou dramaticamente a maneira deles produzirem nos últimos cinco anos.

Na sede do TikTok em São Paulo, onde o trio recebeu o Estadão às vésperas do show na capital, Taylor Hanson comenta que é muito positiva a acessibilidade que o streaming trouxe. Porém, ele questiona a lógica de instantaneidade que brotou junto do novo modelo. “Não sei se as pessoas valorizam as músicas da mesma forma”, diz.

Ele demonstra já um saudosismo do toque físico dos álbuns, que ele chama de coisa do passado. “Elas [as músicas] estão ao alcance da ponta dos dedos. As pessoas não têm mais um sentido de espera e descoberta de algo”, completa. Zac Hanson corrobora: “Você não se compromete”.

Novas músicas do álbum Red Green Blue poderm ser ouvidas... em todas as plataformas de streaming.

Os shows da turnê Red Green Blue acontecerão entre os dias 11 e 21 de outubro, em diferentes cidades. Foto: Instagram/@hanson

Geração Z, redes sociais e público

Outro desafio do trio é o público. Nos anos 90 as multidões de fãs que os garotos arrastavam eram, também, de adolescentes. Especialmente as meninas, arrebatadas pelas peles perfeitas e cabelos longos. Agora adultos, os antigos fãs também não são mais crianças. E a geração Z tem também novos ídolos.

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Para usar a métrica das redes sociais, o TikTok da banda beirando os 90 mil seguidores não faz nem cócegas em fenômenos como Lil Nas X (28,6 milhões) ou Lizzo (25,5 milhões). Nem somando quatro redes eles chegam perto disso, com algo ao redor de 930 mil seguidores incluindo Twitter, Instagram e Facebook na conta.

Zac minimiza o impacto dizendo que, a exemplo do passado, os fãs do grupo são pessoas que gostam de música. Independente de idade. Mas considera que adolescentes vão mais facilmente se conectar com semelhantes em razão da visão de mundo compartilhada.

Red, Green, Blue é novo álbum dos irmãos Hanson Foto: Hanson

Hansongate: questões sociais viram ponto sensível

Talvez isso ajude a explicar por que parte dos fãs dos rapazes decidiu se afastar definitivamente do trio. O alvoroço foi tamanho que chegou a ganhar o apelido de Hansongate, em referência ao escândalo Watergate.

Em 2020, uma longa reportagem da Vice mostrou como gerou um ‘motim’ entre os admiradores a posição dos Hanson sobre acesso a armas, a pandemia de Covid-19 e até movimentos como o Black Lives Matter. Houve inclusive fóruns inteiros de discussão no Reddit escavando a internet atrás de publicações - no mínimo duvidosas - dos irmãos sobre temas delicados.

Por exemplo, foi ligado a Zac um perfil no Pinterest com memes de teor racista, transfóbico, homofóbico e sexista com apologia a armas. Mais tarde ele confirmou a propriedade da página de quando era apenas um pré-adolescente.

Quanto aos temas mais atuais, em resumo o que incomodou muito a fanbase foi a posição meio ‘isentona’ dos rapazes. Eles precisaram ser instigados pelos fãs para manifestarem postura antirracista e explicarem posts de desagrado com medidas anticovid.

De volta às turnês

Sobre a pandemia e o retorno aos palcos, Isaac disse ao Estadão estar muito satisfeito de voltar à estrada. E relacionou os dois últimos álbuns aos sentimentos de solidão e dúvida nascidos com a covid. ‘Against the World’ foi lançado em 2021 e ‘Red, Gree, Blue’ é o mais recente, objeto da tournê. “Acho que as pessoas vão se identificar. Porque nós todos nos sentimos assim às vezes. Mas todos nos sentimos deste jeito especialmente durante esse período.”

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Hanson já passaram por Porto Alegre e Curitiba, fazem apresentações nesta sexta, 14, em Ribeirão Preto, e no sábado, 15, em São Paulo. Depois seguem para Uberlândia, 16, Brasília, 19, e Rio de Janeiro em 21 de outubro.

Veja entrevista com a banda

A patacoada sangrenta de Dave Grohl

Sabe-se lá por que Dave Grohl inventou de fazer um filme. E levar o Foo Fighters para a degola - cênica - junto com ele. O resultado é que Terror no Estúdio 666 é o tipo de filme que dá gosto odiar.

Grohl atua (atua?) como protagonista e escancara porque músicos não são atores. As performances são sofríveis. E isso só não é mais condenável porque a ideia é o longa ser uma comédia de terror.

No multiverso de Grohl, o Foo Fighters é uma banda em bloqueio criativo que resolve ir para uma mansão mal-assombrada produzir e gravar o 10º álbum da carreira. Mas as entidades macabras da casa têm planos próprios.

A produção tem mais méritos técnicos que qualquer outra coisa. E os efeitos especiais têm a estética perfeita para o filme: são feios, ultrapassados, trash.

Não seria um problema se a patacoada sangrenta não deixasse de cumprir o propósito: não é nem engraçada, nem assustadora. No HBO Max.

Suspense musical com receita de sucesso

Exemplo bom de como usar a banda inteligentemente vem do Keane. Em 2012, o grupo britânico transformou o clipe de Disconnected em um curta de terror excepcional. Há inspirações em mestres do suspense e uma homenagem brilhante a ‘O Iluminado’, de Stanley Kubrick.

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Sem forçar nas atuações dos integrantes, na maior parte do tempo eles fazem o que sabem fazer: cantam e tocam. O vocalista Tom Chaplin está em perfeita forma, inclusive. Para a parte encenada, escalaram os talentosíssimos Leticia Dolera e Félix Gómez. A direção é de ninguém menos que J.A. Bayona com Sergio G. Sánchez. Receita de sucesso no YouTube.

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