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Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião | Mentiras cabeludas, deslavadas, de rabo e cabeça

Promessas de candidatos? Saibam que coisa oferecida ou está podre ou roída

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Por Ignácio de Loyola Brandão

Mentir é feio, sempre disse minha mãe. A mentira tem perna curta, alertava meu pai. Quando alguém mente, o nariz cresce, foi o que vimos lendo Pinóquio. Coisas que aprendemos desde criança, que os candidatos à Prefeitura de São Paulo fingem ignorar completamente. Eles chegam e dizem as mentiras mais cabeludas, mentem de pés juntos e não se envergonham, mentem pelas tripas de Judas. Mentem e ainda chamam seus assessores: aqui está fulano, que não me deixa mentir. Estão ali contando uma mentira de rabo e de cabeça, isto é, das grandes, e chamam um coitado assalariado e puxa-saco para garantir que é verdade.

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Pensam que somos bobos. Juram que estão dizendo a verdade. Juram pela alma da mãe, que deve revirar no túmulo. Invocam santos e anjos. Juram por Deus e o pobre Deus, lá em cima, ou onde estiver – não pode entrar na conversa, desmentir, negar, protestar, contestar. Imaginaram Deus a cada momento tendo de aparecer aos gritos: Mentira dele, mentira dela? 

Tem um candidato que promete o impossível. Porque o impossível existe. Ele vai eliminar todos os radares de multas. Não vai ficar um só. Tirar os radares é tarefa mais ingente que entregar o Metrô, essa obra interminável que há décadas vem deixando crateras a céu aberto por esta cidade judiada, estações iniciadas e inacabadas, ruínas modernas pelos bairros. Com os candidatos, você pode dizer: Mentira chegou ali, armou a rede. Porque todos buscam vender gato por lebre. Saibam que velhaco não engana velhaco. Promessas? Esperemos a eleição para ver por onde a cobra assobia. Mais médicos, atendimentos 500 horas por dia, casa para todo mundo, fim da violência? O que devemos fazer é virar a cabeça para a parede e deixar o papo roncar. Prefeitos, vereadores? Ora gente, vocês dizem que nos querem bem e sempre ao lombo nos vêm. Promessas, propostas? Muita trovoada, pouca chuva.

Esses candidatos falam, falam, porque sabem que língua não tem osso. Vão com muita sede ao pote, buscando sarna pra se coçar. Ou como dizia meu avô Vital: meu neto, há espertos que se fazem de burro para comer capim. Pensemos bem, porque homem avisado vale por três. Campanha eleitoral é estar sempre em véspera de coisa nenhuma e a gente acaba esperando sentado, porque de pé cansa. Assim como é feio se lembrar dos amigos só na hora da aflição, é horrendo lembrar do eleitor só no dia da eleição. 

Político é tão confiado que quando pega a mão quer o braço. Dois políticos juntos são como dois meninos, sempre dá arte. Ao encontrar um candidato e ouvir o que ele fala, ler o que ele escreve, dizia o barão de Itararé, dize-me primeiro com quem andas e te direi se vou contigo. Políticos? Deus os fez, o diabo os juntou. Dinheiro e mulher, mostrado a político, é dinheiro e mulher roubados, afirmava meu tio Bento, carnavalesco e irmão de minha mãe. Promessas de candidatos? Saibam que coisa oferecida ou está podre ou roída. Cidade limpa, calçadas lindas, avenidas arborizadas, água, luz e gás baratíssimos, trânsito fluindo, táxis pelo custo de ônibus, metrô de minuto em minuto, todo mundo sentado lendo seu livro, escolas para todos, creches para cada criança existente, professores dando aulas maravilhosas. Tretas, mutretas. Claro, mentira não custa dinheiro. Muita cera queima a igreja. Se muito custa a um pobre viver, mais custa a um político morrer.

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Quando leio as plataformas, ouço os jingles, os slogans, as promessas, me lembro de outros adágios brasileiros: Dizer uma mentira é fácil, o difícil é dizer só uma. Porque uma mentira puxa outra e os políticos são profissionais, atrás de mentira, mentira vem. E em história mal contada, traque vira trovoada. Sem esquecer que na política, mais do que nunca, quem quer os fins, quer os meios.

* Fontes: Livro dos Provérbios, de Ciça Alves Pinto, editora Senac, 2000, e Adagiário Brasileiro, de Leonardo Motta, Edusp, editora Itatiaia, 1987.

Opinião por Ignácio de Loyola Brandão
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