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Coluna quinzenal do escritor Ignácio de Loyola Brandão com crônicas e memórias

Opinião | Thomaz Souto Correa, ‘o maior revisteiro do Brasil’, recebeu uma medalha da ABL

Thomaz sonhou, viveu, comeu e dormiu jornalismo, ao longo de 70 anos

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Atualização:

Certa manhã de 1966, entrei na sala de Thomaz Souto Correa, na revista Claudia, e assumi o cargo de redator, deixando o diário Última Hora, em extinção. Instante que determinou minha vida, me trouxe ao que sou hoje. Conheci Thomaz em 1965, quando lançamos nossos primeiros livros de contos, ao lado de Edla Van Steen, então atriz de cinema. Edla com Cio, Thomaz com Morte Semi Virgem e eu com Depois do Sol. Em ficção, Thomaz ficou naquele livro dizendo: “Fizemos nossas escolhas, a minha é o jornalismo”. Jornalista foi, a vida inteira. Rigoroso, inovador.

Thomaz Souto Corrêa.  Foto: Janete Longo/AE

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Sob suas mãos aprendi as manhas e os trejeitos de revista mensal. Ele chegou a formular um guia, Os Óbvios Frequentemente Esquecidos, definindo: “Somos contadores de histórias”. Claudia deu passos pioneiros em plena ditadura para o jornalismo feminino avançar. Não era apenas moda, cozinha, beleza, decoração. Enveredou para assuntos como sexo, machismo, drogas, virgindade, aborto, homossexualidade, violência doméstica.

Thomaz começou carreira aos 18 anos neste jornal, apelidado Estadão. Escrevia para o Suplemento Feminino, fazia uma coluna para a Revista Visão, e redigia um jornal inteiro, O Volante, house organ da Viação Cometa. Então foi para a Abril, pioneira em dezenas de publicações, fascículos, coleções de todos os tipos, discos, livros, música popular brasileira, grande pintores. E uma infantil campeã, Recreio. Na Abril, Thomaz chegou a vice-presidente executivo e vice-presidente do conselho editorial. Por dois mandatos, presidiu a Aner (Associação Nacional de Editores de Revistas). Sem esquecer que foi o primeiro presidente latino-americano do conselho diretor da Fédération Internationale de la Presse Périodique, FIPP.

A Abril, sob Thomaz, foi celeiro de centenas de jornalistas, boa parte hoje escritores reconhecidos, sendo que três deles estão na Academia Brasileira de Letras, Antonio Torres, Ruy Castro e eu. Ele manteve por décadas um who’s who do jornalismo brasileiro.

Thomaz, que sonhou, viveu, comeu e dormiu jornalismo, ao longo de 70 anos, há dez dias recebeu a Medalha Júlio Ribeiro da Academia Brasileira de Letras. Em uma sessão de gala que homenageou ainda Adélia Prado, ganhadora do Prêmio Camões e Machado de Assis de literatura. Thomaz, apelidado de “o maior revisteiro do País”, excursionou pela culinária, voltando aos livros com O Virtuoso do Sushi e A Cozinheira e o Guloso Thomaz. Ele hesita em comemorar no Jesuíno Brilhante, no Mocotó, Dona Onça, O Porco ou talvez no Jun Sakamoto. Resta esperar.

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Opinião por Ignácio de Loyola Brandão

É escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e autor de 'Zero' e 'Não Verás País Nenhum'

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