A cantora e atriz franco-britânica Jane Birkin, de 76 anos, foi encontrada morta em sua casa em Paris neste domingo, 16, segundo informações divulgadas pelo canal BFMTV citando fontes próximas da artista. A causa da morte não foi divulgada. Jane Birkin foi parceira do cantor francês Serge Gainsbourg e o dueto em Je t’ aim moi non plus marcou a história da música francesa.
Inglesa, Jane desenvolveu praticamente toda a sua carreira artística na França. Em 2021, sofreu um AVC, mas retornou pontualmente ao trabalho. Ela disse recentemente que foi obrigada a cancelar shows devido a problemas de saúde.
Com seu sotaque britânico, seu sorriso eterno e seu amor pela cultura francesa, Jane Birkin era a inglesa preferida dos franceses. “Quando vejo os franceses ouvindo músicas de 40 anos atrás, sei que elas se tornaram parte da história deles. E também fazem parte da minha”, disse a artista em 2018, quando publicou seu diário íntimo Munkey Diaries.
Jane era filha do comandante da Marinha Real Dave Birkin e da atriz Judy Campbell e nasceu em Londres em 14 de dezembro de 1946. Com a mãe, teve contato direto com o cinema desde criança. Seus primeiros papéis foram em dois filmes premiados no Festival de Cinema de Cannes: Le Knakck, de Richard Lester, em 1965, e Blow-Up, de Michelangelo Antonioni, em 1967.
Em 1968, Jane decidiu radicar-se na França, onde conheceu o cantor Serge Gainsbourg, com quem viveu uma história de amor que resultou em trabalhos de sucesso e também em escândalos ocasionais. Seus gemidos em Je t’ aim moi non plus provocaram polêmica e o título chegou a ser proibido no Brasil em 1969.
Acervo Estadão
Gainsbourg inicialmente escreveu a música para a atriz francesa Brigitte Bardot, com quem teve um caso de amor tempestuoso. Bardot baniu a versão inicial da música, com seus vocais, e com essa decisão abriu caminho para que Jane Birkin se tornasse uma lenda.
Embora o casal Birkin-Gainsbourg tenha se separado em 1980, o compositor e cantor escreveu para ela um de seus álbuns de maior prestígio três anos depois, Baby alone in babylone, pelo qual foi premiada com um disco de ouro, feito que voltou a alcançar com Arabesque, em 2002.
Paralelamente à carreira musical, Jane seguiu atuando, primeiro com papéis bastante cômicos, como em La moutarde me monte au nez ou La course à l’échalote. Ela participou de mais de 70 filmes, com diretores como Jacques Rivette, Bertrand Tavernier, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, James Ivory e Agnès Varda. Humilde, declarou certa vez que tinha “instinto” de atriz, mas nenhum “talento”.
Bolsa Hermès
A cantora e atriz inspirou uma bolsa emblemática da casa Hermès. Ela concordou em emprestar seu nome na década de 1980, depois de pegar um voo com o carismático então presidente da Hermès, Jean-Louis Dumas. Em 2015, chegou a pedir que a marca retirasse seu nome da bolsa feita com pele de crocodilo. O motivo, alegou, seriam as práticas cruéis de criação e abate dos animais.
Jane Birkin encarnou como poucas o estilo entre boêmio e chique, que anos depois seria herdado por sua filha com Gainsbourg, Charlotte Gainsbourg, uma das atrizes mais destacadas do cinema francês.
As duas participaram, em 2022, junto com outras estrelas do cinema e da música na França, de protesto pela liberdade das mulheres iranianas. Charlotte cortou uma mecha do cabelo da mãe na campanha.
Em fevereiro deste ano, Jane Birkin participou em estado muito frágil da cerimônia do César, a premiação anual do cinema francês, ao lado de Charlotte e da neta Alice.
Saúde
Os problemas de saúde a obrigaram a interromper temporariamente a carreira em 2012 devido a uma pericardite aguda. Em dezembro do ano seguinte, perdeu a filha mais velha, Kate, do seu relacionamento com o compositor inglês John Barry. Com o cineasta Jacques Doillon teve a filha Lou.
Em 2017, Jane informou que vinha se tratando de uma leucemia. Em março deste ano, sua equipe havia anunciado o cancelamento dos seus shows durante dois meses, mas, no final de maio, surgiram novos adiamentos.
Repercussão
Nas redes sociais, o presidente da França, Emmanuel Macron, homenageou a atriz. “Por encarnar a liberdade, por cantar as mais belas palavras da nossa língua, Jane Birkin foi um ícone francês. Uma artista completa, sua voz era tão doce quanto seus compromissos eram ardentes. Ela nos lega melodias e imagens que nunca nos abandonarão”, escreveu./ EFE e AFP
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